Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
24/01/2012 - 03h00

Para pesquisadora, ainda não existem instituições que tragam dignidade à velhice

LUISA PESSOA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Para a professora livre-docente da Unicamp especialista em velhice Guita Grin Debert, 63, a geração que hoje está na faixa dos 50 anos tem um desafio importante para os próximos anos: criar instituições que façam da velhice avançada uma fase digna da vivência. Afinal, diz ela, com o aumento da longevidade aumenta o período de vida em que não conseguimos mais nos virar sozinhos.

Autora do livro "A Reinvenção da Velhice", vencedor do prêmio Jabuti em 2000 na categoria Ciências Humanas e Educação, Guita conversou com a Folha sobre as perspectivas para a geração que agora começa a envelhecer. Abaixo, os principais trechos da entrevista.

*

Folha: Quem serão os velhos de amanhã?
Guita Grin Debert: Uma geração que foi muito ativa ao longo de toda a sua vida: os "baby boomers". São as pessoas que fizeram a revolução da contracultura, o movimento feminista, e hoje estão pensando no seu próprio envelhecimento.

Luisa Pessoa/Folhapress
Guita Grin Debert, professora de antropologia da Unicamp.
Guita Grin Debert, professora de antropologia da Unicamp.

Atualmente, como a velhice é encarada?
Em termos de responsabilidade individual. Ou seja, existe uma tendência de culpabilizar o velho pelo seu envelhecimento. É a ideia de que você é responsável pelas suas doenças se não fez ginástica, se não tomou sol ou tomou muito sol. E aquele velho que não está alegre, feliz e participando dos programas para a terceira idade é visto como alguém que não soube adotar formas de consumo e estilos de vida.

Qual é o desafio para a geração dos "baby boomers"?
Nos últimos anos houve um prolongamento da longevidade. No entanto, é preciso lembrar que a esperança de vida aumentou para anos muito mais avançados, em que a questão da dependência é central.

Assim, o desafio é o de pensar em novas instituições que tragam condições adequadas para ter uma velhice dignificante nessas fases mais avançadas.

Por que isso é um desafio?
Porque as pessoas que estudam e que trabalham com a velhice no Brasil tendem a achar que os velhos gostam de viver com os filhos ou que querem permanecer na mesma casa em que viveram toda sua vida. E essa ideia, na realidade, impede a criação de instituições adequadas para o tratamento da velhice.

É claro que, se você perguntar a uma pessoa se ela quer ir para um asilo, sabendo como são os asilos hoje, ela vai preferir ficar em casa. Mas, e se fosse oferecido o palácio de Buckingham? Acho que ela iria para o palácio...

É possível uma mudança desse tipo em um curto espaço de tempo?
Vou dar um exemplo: quando eu era pequena, o que mais aterrorizava a criança era a mãe dizer que ia colocá-la na creche, porque ela era vista como um depósito de crianças. Até diziam que "as mães desnaturadas é que põem seus filhos na creche".

Já na geração de minhas filhas, se uma criança tivesse dois anos sem estar em uma instituição desse tipo, a mãe estava impedindo o desenvolvimento adequado da sociabilidade do filho.

Ou seja, em um período curto de tempo, o jardim de infância foi reformulado e passou a ser uma necessidade para a constituição de um adulto capaz, autônomo, sociável.

Como funcionaria uma instituição desse tipo? Existe algum exemplo já criado?
Não, acho que ainda está para ser. Mas há iniciativas, como comunidades de idosos na Europa onde os velhos têm voz para dizer como querem ser tratados. Não há o problema da infantilização, de tratar o velho como um objeto de cuidado que só está esperando a morte.

E instituições como as Universidades da Terceira Idade?
Elas são iniciativas muito importantes e interessantes. Mas a pessoa, para participar, tem que ter o que chamamos de autonomia funcional, ou seja, condições físicas para participar, para chegar até os locais, enfim, para conviver.

A dificuldade está em imaginar o momento em que as pessoas vão ficar realmente dependentes. Para essa fase, ainda não existem instituições que sejam dignas e satisfatórias.

Os "baby boomers" teriam condições de criar essas instituições?
Eu não tenho uma bola de cristal para saber se vão, mas acho que eles têm condições.

E você, Guita? Como espera que seja sua própria velhice?
Essa pergunta é desafiante. Tenho falado com amigos da minha geração sobre a importância de criarmos condomínios nos quais gostaríamos de viver quando ficássemos mais dependentes, mas não conseguimos ainda concretizar um plano de ação nessa direção.

De qualquer forma, enquanto eu puder trabalhar, não pretendo me aposentar.

LUISA PESSOA participou da 52ª turma do programa de treinamento em jornalismo diário da Folha, que foi patrocinado pela Philip Morris Brasil, pela Odebrecht e pela Syngenta.

NO APOIO

NA ATIVA

NA LEI

NO CORPO

NO MAPA

DATAFOLHA

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página