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01/05/2012 - 07h06

Países do Golfo almejam ser polo de artes

DAVID BATTY
DO "GUARDIAN", EM DOHA

No saguão da galeria Al Riwaq, em Doha, uma jovem do Qatar abraça uma imensa escultura de pelúcia de Takashi Murakami.

A galeria está realizando uma retrospectiva do japonês, de escala épica. Três paredes do principal salão estão ocupadas por um quadro de 100 m de comprimento.

A ambição da mais recente mostra de arte contemporânea no Qatar, que leva o apropriado título "Ego", é comparável ao poder aquisitivo do país. No ano passado, o "Art Newspaper" definiu o emirado como o maior comprador mundial do gênero.

A família real do Qatar gastou £ 1 bilhão (R$ 3,03 bilhões) na aquisição de obras de arte ocidentais nos últimos sete anos, de acordo com as estimativas. Entre as supostas aquisições recentes estão obras de Mark Rothko, Damien Hirst e Cézanne.

A Administração de Museus do Qatar (QMA) patrocinou a mostra de Hirst na Tate Modern, em Londres, que deve seguir para Doha no ano que vem. O edifício Shard, em Londres, projetado por Renzo Piano, tem 80% de participação em mãos do banco central do Qatar.

Karim Sahib/France Presse
Homem observa obra de arte na Christie's de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos
Homem observa obra de arte na Christie's de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos

Esse imenso investimento é prova de uma ambição de fazer do país um polo cultural que rivalize com Paris e Nova York. A líder do processo é a princesa Al Mayassa al Thani, 28, filha do emir do país e responsável pela QMA, que comandou o desenvolvimento de diversos museus para mostrar as coleções de arte islâmica, internacional e do Oriente Médio controladas pelos governantes do Qatar.

Os críticos do incipiente cenário da arte no Qatar e nos Emirados Árabes Unidos (EAU), que agora promove a Art Dubai e a Bienal de Sharjah, acreditam que o atual foco das instituições regionais ignora a arte local.

Caminhando pela Riwaq, a falta de visitantes surpreende. Havia cinco pessoas na exposição quando a visitei. Em contraste, o museu islâmico, com sua coleção de manuscritos históricos, produtos têxteis e cerâmicas, está repleto de visitantes locais. O quadro é similar nos EAU.

Jean Paul Engelen, holandês que serve como diretor de arte pública da QMA, acredita que a política conservadora e os costumes islâmicos do país significam que os responsáveis evitarão exposições que possam causar choque -por isso, a mostra de Hirst que está em cartaz na Tate Modern não será reproduzida integralmente em Doha.

Um porta-voz da QMA diz que "decisões serão tomadas levando em conta a sensibilidade cultural de nossa comunidade quanto a algumas obras que podem parecer ofensivas ou repulsivas".

Já nos EUA, debates como esses recentemente surgiram na Art Dubai. As autoridades locais ordenaram que pelo menos quatro obras fossem retiradas da mostra antes de uma visita da família reinante, entre as quais um quadro baseado na imagem de soldados egípcios espancando uma mulher na praça Tahrir.

Na entrevista de abertura, Antonia Carver, a diretora da mostra, disse que o evento não é político. William Wells, diretor da galeria Townhouse, no Cairo, discorda, dizendo que a censura atingiu nível sem precedentes.

Ele diz que os levantes árabes e um escândalo por blasfêmia que surgiu na Bienal de Sharjah no ano passado são responsáveis pelo "incrível nervosismo" das autoridades.
Os governantes locais querem estimular um cenário de arte comparável ao de Londres e Nova York, mas essa ascensão é propelida mais pelo dinheiro e pela elite política do que pelos interesses culturais do povo.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

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