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07/03/2013 - 02h40

Sob forte influência católica, Mariana revive o século 18

DO ENVIADO A MARIANA

A cidade histórica de Mariana, a cerca de 15 quilômetros de Ouro Preto e localizada na principal região mineradora do período colonial brasileiro, é comumente chamada por seus habitantes de "a primaz de Minas".

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Ela foi a primeira vila, a primeira cidade e a primeira capital de Minas Gerais.

Batizada como Ribeirão do Carmo, quando fundada no apagar das luzes do século 17 (após a descoberta de fabulosas jazidas de ouro na região, em 1696, por bandeirantes), a cidade tornou-se um dos centros da política mercantilista portuguesa até a ascensão de Vila Rica -atualmente Ouro Preto.

A importância da aldeia colonial tornou-se tamanha que logo ela deixou de se chamar Ribeirão do Carmo para então homenagear a rainha Maria Ana d'Áustria, mulher do rei português dom João 5º.

Isso lhe valeu benesses do reino lusitano, chegando a receber de presente da Casa Real, em 1753, um órgão alemão Arp Schnitger.

Euclides Santos Mendes/Folhapress
Vista da igreja da Sé, de 1709, com grande parte de sua estrutura feita de madeira
Vista da igreja da Sé, de 1709, com grande parte de sua estrutura feita de madeira

A Sé de Mariana guarda, certamente, os maiores tesouros da arte sacra na cidade. Além do órgão, apresentado em concertos ao público semanalmente há mais de 20 anos (veja na página ao lado), a igreja, de 1709, com grande parte da sua estrutura de madeira, é contígua ao Museu Arquidiocesano de Arte Sacra.

O acesso ao museu é permitido com o mesmo bilhete que dá direito à visita ao templo, ao custo de R$ 5.

Dois mestres
O acervo do museu é rico em objetos de ouro e prata (como crucifixos, castiçais, turíbulos, relicários e até tesoura para cortar pavio de vela), além de uma fonte de pedra-sabão (chamada, tradicionalmente, de "o mármore mineiro") atribuída a Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho.

Também há pinturas de Manoel da Costa Athayde (com destaque para a "Queda de Jesus", tela famosa que mede 1,83 m x 1,10 m).

Aleijadinho e Athayde são considerados os maiores expoentes da arte barroca em terras mineiras.

Athayde, aliás, é marianense, e seu corpo está enterrado na igreja de São Francisco de Assis, concluída em 1794. Atualmente, o templo está fechado para reforma.

O conjunto arquitetônico do centro histórico de Mariana inclui, também, a igreja de Nossa Senhora do Carmo, de 1784, reconstruída após um incêndio que a danificou gravemente nos anos 90.

Na praça Minas Gerais, está o mais belo cenário barroco local: de um lado, a igreja de Nossa Senhora do Carmo; do outro, a igreja de São Francisco de Assis. Mais adiante, fica o prédio da antiga Câmara e Cadeia colonial (atual Câmara Municipal).

No centro da praça, fica o pelourinho, um pequeno obelisco com dois braços de ferro sustentando uma balança e uma espada (representam, respectivamente, a justiça e a força), encimadas pelo brasão da coroa de Portugal.

O conjunto das igrejas marianenses estaria incompleto sem o templo dedicado a são Pedro dos Clérigos, de 1752 -aliás, da praça onde ele fica, tem-se uma das melhores vistas da cidade.

Vale mencionar ainda o seminário São José, onde há um afresco inspirado na capela Sistina, do Vaticano.

Nova poesia
Mariana também é movida pela arte poética. Não é à toa que nela viveu o poeta simbolista Alphonsus de Guimaraens (a casa onde ele morou, localizada na rua Direita, pode ser visitada).

Hoje, os poetas que habitam a cidade parecem manter o espírito que engendrou o arcadismo mineiro, no século 18, uma das primeiras grandes manifestações da literatura brasileira.

Eles querem expressar o máximo de poesia num mínimo de palavras. Tal desejo, ensejado pela concepção de poesia do escritor norte-americano Ezra Pound, anima o grupo de poetas locais.

"Saudade:/pedra/bruta/no/pulmão/d'alma", recita a poeta e artista plástica Andreia Donadon Leal.

Mariana é, de fato, uma cidade "primaz".

Em que outra cidade setecentista um repórter poderia se deparar com dois poetas de um humor tão singular?

É o que se vê em "Histórica/Mariana/pedras/preciosas/sobem/ladeiras" (de José Sebastião Ferreira) e "Espuma/apruma/tempestade:/convés/és/saudade!" (de Gabriel Bicalho).
(EUCLIDES SANTOS MENDES)

O jornalista EUCLIDES SANTOS MENDES viajou a convite da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil, de Mariana

 

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