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Ermitão que comia lagartixa está no imaginário dos moradores da serra
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NA SERRA DO CIPÓ
Na serra do Cipó, não faltam histórias curiosas.
Entre elas, a do andarilho Juquinha, morto em 1983, imortalizado em uma estátua de cimento, com três metros de altura, erguida em 1987 numa montanha onde o visitante tem uma visão privilegiada de toda a região. Fica na serra, mas fora do parque.
Falta de sinalização e de mapa dificulta caminhadas
Grutas guardam desenhos de cerca de 10 mil anos
Juquinha percorria a serra vendendo flores e mudas. Hoje, teria suas mercadorias apreendidas e seria autuado -é proibido coletar plantas, sementes, flores secas, animais e rochas do parque.
Há várias lendas sobre ele. Uma delas é a de que morava nas montanhas da serra como um ermitão e se alimentava de lagartixas.
"Mentira. Ele era meio abobado, mas não era bobo", diz Farofa, parente de Juquinha e empregado de uma pousada. "Ele dormia na cama, comia arroz e feijão na casa do irmão. Mas ele gostava mesmo era de beber."
Dona Piedade, 55, é raizeira (curandeira que usa raízes nos tratamentos), descendente de índios com negros e dona de uma pousada simples.
Segundo dizem na região, após um mal súbito, ela "ficou" morta por dois dias. Acordou, restabeleceu-se e continuou a vida fazendo o que sempre fez: cuidar dos filhos, cozinhar e colher ervas, raízes e "barro de formiga".
"Meus remédios são muito poderosos", diz ela, que retira substâncias que ela considera "medicinais" da planta canela-de-ema.
Dona Piedade usa também o "barro da formiga". "Na lua certa, a formiga deixa um rastro de barro por onde passa. Este é o barro de formiga, que é bom para tudo", contou a raizeira, sem, no entanto, comprovar sua eficácia.
Doces e cachaças
Se barro de formiga não está nos seus planos, mas sim uma comida típica aliada a um passeio, não se preocupe.
Entre vários restaurantes, há no km 97 da rodovia MG-010 o Panela de Pedra, dentro da vila Cipó, construção que reúne, além de uma capelinha, uma pousada e algumas lojas.
Entre elas, destacam-se a loja de doces caseiros, a de brinquedos e a de artesanato indígena da tribo pataxó.
O local conta ainda com uma venda que oferece mais de 120 tipos de cachaça artesanal, com tira-gosto.
Com instalações mais simples, a churrascaria Cipó (km 96 da rodovia) serve refeições saborosas, por quilo.
Vale experimentar o frango com ora-pro-nóbis e angu. Do latim, "ora pro nobis" significa "rogai por nós", mas em Minas Gerais a expressão dá nome a uma hortaliça.
Quer só fazer uma boquinha, em meio a locais, com uma cervejinha? Vá ao bar do João do Chapéu de Sol e peça um pastel ou uma linguiça, que ele frita na hora.
Tudo sem pressa. Afinal, na serra do Cipó, contemplar é a palavra de ordem.
(CARLOS BOZZO JUNIOR)
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