Mais de 72 mil botões compõem acervo de museu português
Dos mais simples, redondinhos e feitos em osso, aos mais trabalhados, em metal, cristal ou linha, são mais de 72 mil os botões do acervo do museu etnográfico de Silgueiros, no centro de Portugal.
O museu dá destaque "a todos os pequenos aspectos relacionados com o traje, incluindo até lenços de assoar, e os botões não podiam faltar", disse à Agência Lusa o seu diretor e fundador, António Lopes Pires.
Divulgação |
Museu português tem 1.162 botões em exposição e outros vários que ficam guardados e podem ser apreciados pelos mais curiosos |
Em exposição permanente estão apenas 1.162, "numa tentativa de mostrar a grande variedade de botões que eram utilizados", e os restantes encontram-se divididos por inúmeras caixas e gavetas de várias divisões do museu, que os seus responsáveis mostram aos mais curiosos.
"Temos botões desde o tempo da monarquia, pela marca das coroas dos diversos reis que eram de algum modo homenageados através deles, até aos mais recentes, que terão 20 ou 30 anos", disse o etnógrafo.
Como um pai de muito filhos, Pires afirmou gostar 'deles todos, porque mesmo aqueles que são mais simples, aparentemente mais feios ou menos bonitos, marcam também a sua própria época, têm a sua história'.
"E uma história completa não se faz só de reis e de rainhas, faz-se de reis, de rainhas e de gente do povo", frisou, explicando que é por isso que gosta tanto "de alguns botões metálicos, com bastante trabalho manual que os torna diferentes e bonitos", como "dos botões de osso, redondinhos, que não têm nenhuma decoração".
"Eram os mais pobrezinhos, da gente do povo. Sem eles a nossa coleção ficaria muito diminuída", disse.
Pires garante que os mais de 72 mil botões, que começou a juntar há 30 anos, chegaram a Silgueiros da mesma forma "como chegam a todos os museus do mundo as peças que os constituem".
"Primeiro pede-se, depois compra-se e depois rouba-se, que é uma boa forma de ampliar coleções", brincou.
Entre as muitas histórias que retém da sua procura por peças para o museu, recordou uma que começou com um telefonema de um senhor do Porto que lhe perguntou se tinha "um museu do botão".
"Eu disse ao senhor: museu do botão não tenho, estou ligado a um museu etnográfico que também está interessado no botão. O senhor propunha vender-me uma quantidade de botões que tinha na sua posse e de que se queria desfazer", contou.
Apesar de estar de férias no Algarve, no sul luso, o entusiasmo levou-o a ir de imediato ao Porto, no norte do país, para negociar a compra dos botões, que acabou por concretizar "com o coração apertado".
"Este nosso museu é pobre. Temos sempre muita dificuldade em conseguir verbas para resolver os nossos problemas, mas os botões não ficaram no Porto, vieram comigo. Passei um cheque pessoal e a casa pagou quando pôde", acrescentou.
Mas as dificuldades muitas vezes só estão começando com a compra dos botões.
"São objetos muito pequenos, alguns são verdadeiras peças de arte, sobretudo os mais antigos, que dão muito trabalho", explicou Pires, contando que, "por exemplo, os de metal normalmente chegam muito sujos" e é preciso limpá-los com todos os cuidados para não se deteriorar nada, mas conseguir "tirar tudo o que está a mais, às vezes sujeira de décadas e décadas".
Outra das dificuldades é a sua classificação, "que tem a ver com as épocas, com as escolas, com as fábricas nacionais e estrangeiras e, sobretudo, com os materiais de que são fabricados", como linha, tecido, metal, cristal, madrepérola, osso e pedra, entre outros.
Uma vez que diz ser um "clínico geral" da etnografia, que é auxiliado por Maria Odete Madeira, com formação em Português e História, as dúvidas surgem frequentemente e a falta de especialistas e de publicações sobre botões não ajudam o trabalho.
Depois de muito procurar, Pires apenas encontrou uma publicação espanhola, intitulada "Botões - guia de colecionador para selecionar, restaurar e apreciar os botões novos e antigos", que conta a história dos botões e os diferencia por épocas.
Segundo ele, o botão começou a ser um objeto significativo" quando chegaram a Portugal e ao resto da Europa as riquezas oriundas dos descobrimentos, levando a que fosse 'objeto de adorno, de luxo, marcante de uma classe social endinheirada".
No entanto, é com a revolução industrial que ele se massifica, "se diversifica e se democratiza, chegando a espalhar-se pelo mundo inteiro e até a trajes de gente mais modesta".
É por isso que - garante - "os botões davam para fazer uma licenciatura, porque permitiriam estudar todos os aspectos da arte e da cultura dos povos".
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