Conjunto residencial de luxo se destaca na paisagem de Pequim
Oito torres coloridas de 22 andares, ligadas por pontes na altura do 20º andar, se tornaram o endereço mais cobiçado de uma cidade que não cansa de novidades arquitetônicas. A Olimpíada não deixou ressaca em Pequim e o conjunto residencial Linked Hybrid, aberto no início de junho, virou a atração da vez.
As pontes nas alturas abrigam piscina, bar e biblioteca. Em alguns meses, passarão a funcionar ali um restaurante francês e um barzinho. Elevadores expressos levam visitantes aos novos centros de convivência, enquanto os moradores dos 660 apartamentos do conjunto usam elevadores privativos.
Divulgação | ||
Conjunto residencial de luxo Linked Hybrid se destaca na paisagem de Pequim, na China |
Um edifício angular no centro terá cinema e teatro. Em uma cidade onde crimes são mínimos, o conjunto aberto já atrai visitantes e fotógrafos.
"Quisemos fazer uma cidade dentro da cidade, aberta, sem muros ou grades, para o chinês moderno, que viaja pelo mundo e quer desenho inovador", diz o arquiteto chinês Li Hu, 36, parceiro do americano Steven Holl na criação do Linked. "Pequim é cheia de prédios feios, com arquitetura antiquada, feitos para uma geração que não viajava ao exterior e que conhecia pouco de arquitetura moderna."
Li chefiou uma equipe de 25 arquitetos para levantar o conjunto de 220 mil metros quadrados (três vezes maior que o Parque Cidade Jardim).
Feng shui e patinação
A praça principal do conjunto tem um grande espelho d'água, que, no inverno, vai virar pista de patinação de gelo -água em frente à casa é um dos mandamentos do feng shui, o milenar estudo chinês das energias positivas e negativas de um espaço, presente na arquitetura local.
Algumas torres, por exemplo, precisaram girar um pouco para evitar ângulos pontiagudos virados para outro prédio, algo proibido no feng shui.
Ao lado da tradição chinesa, há a modernidade dos edifícios "sustentáveis". Todos os tetos dos prédios do complexo são cobertos de jardins e de grama. Contam ainda com uma estação para reciclagem da água, enquanto o sistema de aquecimento vem de poços geotermais construídos no próprio espaço.
Com a terra da escavação dos prédios, foram construídas três pequenas colinas artificiais ao lado do complexo, cada uma para um público diferente: o monte das crianças, o dos adolescentes e o dos mais velhos.
A área de lazer dispõe de parque infantil, quadras de basquete, plataforma para tai chi chuan e espaço para meditação.
Divulgação | ||
Maquete do Linked Hybrid, que tem oito torres coloridas ligadas por pontes |
Em 2006, quando os prédios começavam a ser construídos, o projeto apareceu em reportagem da revista americana "Time" como uma das "dez maravilhas da arquitetura sustentável" no mundo; a revista "Wallpaper", referência em design e arquitetura, colocou a obra na capa da edição de junho.
Mas Li tenta controlar tanta badalação. "Aqui os desafios começam do zero, pois a China é um país sem tradição nenhuma em arquitetura moderna e passou décadas sem construir nada."
Ele também é cético em relação ao frenesi arquitetônico do país. "Constrói-se sem parar, é verdade, mas pouca coisa é realmente boa", afirma. "Nossas autoridades e políticos frequentemente têm muito mau gosto e não estão pensando na cidade ou no espaço público."
O arquiteto diz que, para a sorte da China, "pelo menos, foram atrás dos mais famosos do mundo para as obras principais". E temia pelo pior, caso "dessem os projetos para parentes ou amigos". Li avalia que o legado principal da Olimpíada para Pequim foi a extensão do metrô.
Para milionários
Apesar da preocupação ambiental e com o espaço público, morar no Linked Hybrid é para poucos. O apartamento mais barato, de 100 m2, custa o equivalente a R$ 1,4 milhão. Os mais caros, de 800 m2, valem cerca de R$ 9 milhões. "Dá para fazer apartamentos de qualidade muito mais baratos", critica o arquiteto. "Mas na China todo mundo quer lucrar o máximo possível, e o governo não regulamenta nada. Os construtores têm poder total."
Li tem com a mulher, a também arquiteta Huang, um escritório só para estudar o espaço público e projetos habitacionais em subúrbios chineses. Ainda dirige o Studio X, centro de estudos que a Universidade Columbia instalou em Pequim. "Morei dez anos em Nova York e adorava a vida nas calçadas, os bares, as quitandas, os mercadinhos e a democracia do Central Park e do metrô."
De volta para casa, ele viu sua antiga cidade em rápida transformação: "Pequim era pequena em 1996 e hoje é uma metrópole, temos muita responsabilidade sobre como ela vai crescer".
O Linked Hybrid foi erguido por uma construtora chamada MoMa. Ela compete com a maior imobiliária de Pequim, a SoHo, que introduziu o conceito de arquitetos estrelados fazendo conjuntos residenciais com arquitetura de vanguarda.
"Pelo menos, as empreiteiras daqui já se deram conta de quanto a arquitetura pode diferenciar o seu prédio dos outros construídos em massa", diz Li. O terreno do Linked Hybrid abrigou no passado uma fábrica de papel.
Com a redução de grandes espaços na cidade, o arquiteto aposta que a recuperação dos antigos conjuntos habitacionais da era comunista será o novo desafio. "Eles têm ótima localização e muito potencial."
Livraria da Folha
- Coleção "Cinema Policial" reúne quatro filmes de grandes diretores
- Sociólogo discute transformações do século 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade