Fotógrafo joga o flash sobre a faceta kitsch da indústria do turismo
Martin Parr | ||
A imagem do casal se bronzeando no navio é parte de um ensaio realizado em 2002 |
Viajar num cruzeiro de luxo é tão gostoso quanto cafona. Cafonice essa que se manifesta em canudos de cores berrantes ou em jantares de traje "esporte fino" que dão direito a um retrato com o capitão do navio.
Nessas viagens, todos parecem horrivelmente felizes em boias coloridas e cadeiras de praia, enquanto o som da aula de lambaeróbica toca em agressivos decibéis.
É sobre essa faceta kitsch da indústria do turismo que o britânico Martin Parr se debruça há mais de três décadas, despejando ácido sulfúrico sobre corpos que buscam bronzeados à la Trump.
Quase sempre com um flash estourado –o que dá o tom irônico de sua produção–, a fotografia de Parr, 64, registra hábitos e símbolos do consumismo, o que fez ele se tornar a principal referência na fotografia contemporânea sobre o tema.
A visão corrosiva do artista sobre o mercado, porém, não começou nos cruzeiros ou nas piscinas artificiais japonesas, mas no balneário britânico de New Brighton.
Martin Parr | ||
Passageiros posam para fotos durante um cruzeiro pelo Caribe, obra de Martin Parr |
Ali, substituiu o suposto clima de diversão das pobres famílias inglesas que visitavam aquelas praias por um retrato melancólico do lugar: cheio de sujeira, de concreto e de bebês berrando.
As imagens geraram o celebrado fotolivro "Last Resort", e desde então a praia é o seu melhor personagem.
Foi na areia que ele fotografou aulas coletivas de ioga, sungas estampadas com a bandeira americana, costas peludas e variados estilos de bronzeado, sempre valorizando as cores berrantes de toalhas e biquínis.
Parr, no entanto, não se limitou ao litoral. Registrou turistas que todos os dias "empurram" a torre de Pisa para fazer a irresistível recordação clichê, assim como fez imagens de viajantes em frente às pirâmides do Egito.
Fotografou também comidas, roupas e suvenires em close, destacando sinais do cotidiano que muitas vezes passam despercebidos.
A abordagem sarcástica do também presidente da agência Magnum já gerou críticas de quem o vê como alguém grosseiro, que observa os retratados de cima para baixo. Por baixo da piada superficial, entretanto, revela-se um observador atento do que nos rodeia.
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