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27/10/2011 - 03h00

"Falo sobre perdedores", diz pai do tango maldito

MARINA LANG
ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES

Dentre as muitas variações surgidas a partir do tango, o músico multi-instrumentista Daniel Melingo pode ser descrito como um Tom Waits do ritmo portenho.

Músico de formação erudita, começou no Conservatório Nacional de Música da Argentina, para logo em seguida ingressar na universidade a fim de estudar composição e orquestração.

Alberto Gacia-Alix/Divulgação
Cantor argentino Daniel Melingo, conhecido como o pai do tango maldito, já morou no Brasil
Cantor argentino Daniel Melingo, conhecido como o pai do tango maldito, já morou no Brasil

Ele também morou no Brasil no começo da carreira profissional, de 1978 a 1981.

Regressou à Buenos Aires no começo dos anos 80, onde integrou diversos grupos de rock alternativo: Fontova Trio, Abuelos de la Nada, Los Twist, Sumo, Charly Garcia, dentre outros.

Desde 2008, no entanto, Melingo cria composições de tango sobre o submundo argentino --algo que o coloca em contraposição às canções tradicionais do estilo.

Ele conversou por e-mail com a Folha sobre seu disco "Corazón y Hueso", a ser lançado em novembro. Seus álbuns anteriores são "Santa Milonga" (2004) e "Maldito Tango" (2008).

A gravadora já subiu o novo disco para audição na internet (ouça aqui, em streaming).

*

Folha - O que o levou ao tango?

Daniel Melingo - Uma aproximação da minha própria cultura e a necessidade de buscar uma identidade nacional.

Como você elabora as suas canções?

Meu olhar mira em direção do prototango e suas raízes. A formação que eu uso é basicamente a de guitarrista, marginal, lunfarda [trocadilho silábico bastante recorrente no tango]. Com outras sonoridades que vou agregando, como o clarinete, o trombone, a serra musical e a experimentação sonora. A psicodelia em seu estado mais puro.

Algumas das suas letras versam sobre drogas e violência. É um retrato do "underground" argentino?

Minha temática é variada. E sim, acima de tudo descrevendo personagens que chegam ao limite do absurdo. Na miséria, na vida ruim. Poderia dizer que falo de perdedores.

Como se desenrolaram os trabalhos do ultimo disco?

Foi um longo trajeto de dois anos. Começamos em Paris para, mais tarde, terminar as gravações em Buenos Aires com jovens músicos que prometem. É um album íntimo e bailável, com treze canções e uma pesquisa similar em todos os meus trabalhos.

Você carrega o rótulo de tango maldito. Qual a diferença do tango que você faz em relação aos outros tangos argentinos?

Meu tango é autoral, escrito agora, nesta época. Musicalizando poetas fundamentais do nosso acervo lunfardo, que é o nosso idioma literário para escrever o tango.

E como os adeptos do tango tradicional veem a sua música?

É uma boa pergunta para fazer a eles. Eu trago ao tango climas e ambientes de outros gêneros musicais, e isso é enriquecedor. Mas além de juízos.

Você tem feito diversas turnês na Europa. Qual sua relação com o continente?

A atenção e cultura musical europeia é muito importante para decifrar a música popular rioplatense. E muitas das influências e procedência do tango são europeias. O tango de base é música de câmara da Europa transposta pelos subúrbios e pelas penas dos escritores portenhos. E, de Buenos Aires, sai ao mundo como uma manta multicolorida e multirracial que entra por nossos pés e cobre o coração.

 

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