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Show dos Racionais vira
quebra-quebra na Sé
TUMULTO COMEÇOU QUANDO JOVENS SUBIRAM EM BANCA E INVADIRAM PRÉDIO. LOJAS E METRÔ FORAM DEPREDADOS
A região central virou uma
praça de guerra na madrugada de ontem durante uma das
apresentações mais esperadas
da 3ª edição da Virada Cultural, o show do grupo Racionais MC's, na praça da Sé.
Houve confronto entre a PM e
espectadores. A polícia usou
bombas de efeito moral, gás
lacrimogêneo e munições de
borracha. A confusão se espalhou pela praça e sua vizinhança, interrompendo os
shows em todos os palcos do
centro. Lojas e a estação de
metrô Sé foram depredadas.
Quatro PMs ficaram feridos,
entre eles um que desmaiou
ao levar uma cadeirada. Outras duas pessoas que assistiam ao show também se feriram. Onze pessoas foram detidas, entre elas três menores
de idade, que foram liberados. Dos oito maiores, um
também foi liberado. O restante continuava preso até a
noite de ontem por furto qualificado e dano ao patrimônio.
Ainda segundo a polícia, um
grupo jogou pedras e garrafas
nos policiais e depredou oito
carros da PM, um veículo da
Guarda Civil Metropolitana e
dois particulares, sendo que
um deles foi incendiado.
Já antes do show, que começou com uma hora e meia
de atraso, houve um tumulto
entre as mais de 20 mil pessoas que aguardavam o grupo
da periferia da zona sul da cidade. Por volta das 3h, durante a apresentação do DJ
nova-iorquino Premier, espectadores invadiram a área
na frente do palco destinada à
imprensa e convidados. O DJ
parou de tocar, e organizadores pediram calma ao público.
Já eram 4h30 quando Mano
Brown, Kl Jay, Edy Rock e Ice
Blue subiram ao palco ao som
de "Eu Sou 157". O grupo levantou o público. "Minhas letras são a opinião do público", disse o líder do grupo, ao
comentar as críticas de que
eles falariam mal da polícia.
Os fãs vibraram.
Logo em seguida, a confusão começou. Um grupo com
cerca de 20 jovens subiu em
uma banca de jornal em frente a uma drogaria e invadiu a
varanda do 1º andar de um
prédio. Policiais foram retirar
os rapazes do local, sendo recebidos a garrafadas. Os PMs,
então, lançaram bombas de
efeito moral. O público que
estava perto começou a correr
para fugir do tumulto. Alguns
espectadores subiram no palco para se proteger.
Equipes da Força Tática foram enviadas ao local e tentaram reprimir o público com
balas de borracha e bombas
de gás lacrimogêneo. Cerca de
150 homens faziam a segurança na Sé. Mano Brown
tentou acalmar os ânimos do
público, mas também cutucou
a polícia. "Vamos zelar pela
nossa vida. Vamos ignorar a
polícia, essa festa é nossa, vamos continuar", afirmou. Para
a PM, a declaração encorajou
o público enfrentar o policiamento. "Houve estímulo das
pessoas do palco e a população começou a jogar garrafas
e pedras contra a polícia",
declarou o tenente Jackson,
do 11º Batalhão da PM.
Ação da polícia
O senador Eduardo Suplicy
(PT-SP), que assistia ao show,
afirma que a polícia continuou a agir quando a situação
parecia controlada. "Acho que
a polícia, em alguns momentos, só fez a confusão se expandir ainda mais", disse. A
PM diz que, caso a situação
não fosse controlada, o tumulto poderia se estender para outras regiões do centro.
Segundo o tenente Ricardo
Mendonça, comandante da
unidade da Sé, a polícia não
teve escolha. "Fomos técnicos,
usando apenas uma força tática especializada em controle
de distúrbios civis". Após o
incidente, nenhum dos integrantes dos Racionais quis se
pronunciar sobre o ocorrido.
Houve corre-corre e o cheiro
de gás lacrimogêneo fez muita
gente deitar no chão. As pessoas saíram da Sé e buscaram
refúgio em outras ruas e na
estação do metrô. Lá, alguns
aproveitaram o tumulto para
pular o bloqueio e embarcar
sem pagar. Barrados, quebraram 12 lojas e seis bloqueios.
Vidros e portas foram depredados, e o policiamento, reforçado. Um dos acessos da
estação foi fechado.
O assistente de marketing,
Jameson de Araújo da Silva,
27 anos, foi um dos que procuraram abrigo na estação.
Segundo ele, quando o tumulto começou os policiais só
ficaram olhando "Com certeza, eles achavam que não podiam controlar tanta gente",
afirmou. "Os policiais só indicavam para a gente sair dali."
Os shows nos outros palcos
do centro foram encerrados. A
programação na região foi retomada às 9h no Teatro Municipal, no vale do Anhangabaú,
na Viera de Carvalho e na praça Dom João Gaspar. Na rua
15 de Novembro, a festa recomeçou às 12h. (Paola Correa)
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