Agrishow busca comprador para aviões que chegam a custar quase R$ 70 milhões

Embora realizada numa fazenda de Ribeirão Preto, no interior paulista, a Agrishow utilizará até mesmo o aeroporto local para oferecer seus produtos e, é claro, atrair potenciais compradores.

Dono de uma das maiores frotas de aeronaves executivas do mundo, o Brasil, país de proporções continentais, exerce uma forte atração nas empresas fabricantes e vendedoras de aviões, que veem no agro uma boa oportunidade de negócios. Eles estão apostando na feira agrícola no interior de São Paulo para vender mais em 2019 e retomar o crescimento interrompido nos últimos anos.

Para isso, expõe aos produtores rurais aeronaves agrícolas, turbo-hélices e até mesmo jatinhos, que chegam a custar US$ 17,3 milhões (cerca de R$ 68 milhões), fora os custos de manutenção.

De uma forma ou de outra, as três categorias são vistas como benéficas para o homem do campo, por cuidar das lavouras (agrícolas), permitir deslocamento rápidos e em pistas de terra (turbo-hélices)
e atender a conglomerados (jatos).

A aviação executiva busca atrair grandes produtores rurais pela facilidade dessas aeronaves em acessar aeroportos e regiões que não são atendidas por linhas aéreas regulares, devido à falta de infraestrutura ou mesmo em decorrência da baixa demanda por voos comerciais.

Com isso, é possível chegar em três horas a destinos que, em voos comerciais ou por estradas em rodovias, são acessíveis em viagens que duram dois ou três dias.

Entre as novidades desta edição está o Citation Latitude, da Cessna, que pela primeira vez chega à feira no interior de São Paulo.

Em demonstração no aeroporto Leite Lopes, o avião possui capacidade para dois pilotos e nove passageiros. Tem alcance de 5.000 quilômetros e permite operação em pistas de 1.091 m -para efeito de comparação, a pista principal do aeroporto de Congonhas possui 1.640 m.

"O mercado brasileiro é muito grande. Passou os últimos dois ou três anos difíceis devido à economia, mas agora com o cenário mais estável temos oportunidade de voltar a ter bons volumes de vendas das aeronaves", diz Leonardo Fiuza, presidente da TAM Aviação Executiva, que comercializa o avião.

Já a Embraer aposta na força de mercado do avião agrícola Ipanema. Produzido para voar movido a etanol, o pulverizador já vendeu cerca de 1.400 unidades e domina no mercado.

A estimativa do setor aéreo é que o país tenha aproximadamente 800 jatos, além de outros cerca de 1.500 aviões turbo-hélices.

Depois de um boom na década passada, principalmente até 2008, antes da crise na economia global, quando o dólar tinha cotação de R$ 2, o setor passou por alguns anos de crise, que agora parece estar ficando para trás.
Na avaliação de Fiuza, a projeção é que até o fim deste ano a empresa tenha conseguido comercializar 50 aeronaves.

Em 2008, foram vendidos 70 aviões, número que caiu nos anos seguintes. Em 2017, foram 39 e, no ano passado, 26.

No primeiro trimestre, a empresa vendeu dois jatos e quatro turbo-hélices, melhor cenário dos últimos cinco anos. A previsão é comercializar dez jatos até o fim do ano, ante os quatro vendidos no ano passado.

"A meta não é simples, é um pouco arrojada. Nosso negócio é ligado ao desempenho econômico do país. Quando tem perspectiva, melhora o nosso setor", afirmou ele. No período de crise, a empresa tinha dificuldade até em fazer o cliente se deslocar para ver a aeronave.

O agronegócio representa quase metade das vendas fechadas pela companhia, que tem exclusividade no comércio das marcas Beechcraft, Bell, Cessna e FlightSafety.

Os turbo-hélices são vendidos para o agronegócio devido à possibilidade de operação em pistas de terra, comumente encontradas em fazendas. Como são turbo, têm condições de decolar em pistas curtas.

De 2.630 aeródromos públicos e privados no país listados pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), 1.680 são em pisos de terra, cascalho ou grama.

O modelo King Air 250 tem preço básico de US$ 6,39 milhões (aproximadamente R$ 25 milhões). A previsão é que sejam vendidas 15 unidades neste ano. Entre 2016 e 2018, foram comercializadas 40.

Após três anos de incertezas, especialistas apontam boa expectativa para 2019.

No evento agrícola de Ribeirão Preto, os passageiros serão levados de helicóptero da feira ao aeroporto, iniciativa adotada pela primeira vez, segundo Fiuza. "Muitas vezes o comprador precisa ter segurança política e econômica para investir, com bons ventos, para se sentir tranquilo. Ele toma hoje a decisão [que vale] para muitos anos", segue ele.

Normalmente, são feitos financiamentos com prazo de até dez anos, o que deve ocorrer também durante a Agrishow.

A Embraer, que teve 80% da divisão de jatos comerciais vendida para a norte-americana Boeing, informa que além do avião agrícola Ipanema terá na feira também o Legacy 500, que, assim como ocorre com a TAM, estará exposto no aeroporto Leite Lopes.

Para a empresa, o crescimento do agro brasileiro significa mais negócios na aviação executiva. Neste ano, a empresa completa 50 anos de fundação. Vale lembrar que ela teve o avião agrícola como um de seus primeiros produtos lançados no mercado nacional.

O primeiro voo do Ipanema -projeto da Aeronáutica e do Ministério da Agricultura industrializado pela empresa- ocorreu em julho de 1970.

Em novembro de 2018, a companhia celebrou a entrega de 1.400 unidades do avião, que tem 60% de participação no mercado agrícola do país.

Sua utilização principal é na pulverização de fertilizantes e defensivos agrícolas, o que, nas palavras da própria empresa, reduz perdas por amassamento nas culturas, especialmente na cana-de-açúcar, na soja, no milho, no algodão, no citrus, na banana, no eucalipto e também no café.

Fabricado há mais de quatro décadas em Botucatu (SP), o avião também é usado para espalhar sementes e combater incêndios.

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