Produtores e associações que fazem parte da Agrishow encaram novo governo com otimismo

Os ruralistas estão otimistas com as perspectivas econômicas do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), mas ao mesmo tempo receosos sobre a liberação de recursos para a compra de máquinas e o Plano Safra.

Essa situação antagônica fez parte das conversas entre produtores rurais e associações do setor nas últimas semanas, especialmente após o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) suspender financiamentos do Moderfrota e do Inovagro, vistos como essenciais para o desenvolvimento rural.

O fechamento da torneira fez bancos que participarão da Agrishow em Ribeirão Preto anunciarem linhas de crédito com recursos próprios nas mesmas condições -ou quase- que as oferecidas pelo BNDES na tentativa de manter o otimismo dos produtores rurais que visitarão a cidade do interior de São Paulo. A projeção é fechar intenções de negócios em R$ 3 bilhões, o que seria um recorde nas 26 edições da feira.

Outro receio é por possíveis cortes no Plano Safra deste ano ou por condições propostas que não sejam tão atrativas.

No ano passado, o governo anunciou R$ 103 bilhões para o financiamento da safra 2018/19.

Apesar disso, o fato de os bancos -Brasil, Bradesco e Santander- ofertarem linhas de crédito semelhantes às dos programas federais e culturas como a soja projetarem um bom ano são sinais positivos que devem se refletir na economia do país, na avaliação das associações.

"Estamos vivendo um momento positivo na economia do agro. Isso se fará refletir em negócios [na feira]", calcula João Carlos Marchesan, presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de
Máquinas e Equipamentos), uma das entidades realizadoras da Agrishow.

Embora em 2018, na cerimônia de abertura da Agrishow, Bolsonaro tenha sido deixado de fora do palanque oficial -ficou na plateia e saiu antes do término da solenidade para caminhar na feira-, o presidente é visto pelo setor como uma forte mudança política no país e aliado dos produtores.

Tanto que ainda no primeiro turno da eleição de 2018, a FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária), presidida pela hoje ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM-MS),declarou apoio ao então deputado.

"O governo que se instalou promete ser liberal, está caminhando nessa direção. Não vivemos uma economia liberal há muito tempo. A expectativa é positiva. Todos os setores da economia deverão se beneficiar", defende Francisco Matturro, vice-presidente da Abag (Associação Brasileira do Agronegócio) e presidente da Agrishow. O otimismo também é visto entre fabricantes e especialistas em agronegócio.

O diretor comercial da Valtra, José Carramate, disse que o agro teve papel preponderante na eleição e que a atuação federal na questão dos financiamentos agrícolas é fundamental. "O quanto vai haver de apetite para que o governo financie máquinas como um todo é um dos fatores determinantes do sucesso da feira e deste ano. É algo fundamental, mas não único", acrescenta. Para ele, existe também o comportamento de todas as commodities: açúcar, etanol, soja, milho, algodão. "Vamos para a feira com positivismo muito grande", diz ele.

Já Marcos Fava Neves, docente da USP (Universidade de São Paulo) e da FGV, disse que o ambiente, "mesmo com a curva inicial de aprendizagem do governo", é propício para os negócios. Diz: "A expectativa é pela aprovação das reformas. Acho que os escorregões que estão ocorrendo fazem parte da curva de aprendizagem de um governo novo".

Mais: para ele, o que não pode é aumentar tributos, porque isso atrapalharia a competitividade. Em suas palavras, o otimismo no setor agrícola é "contaminante".

Parece que esse cenário de boas expectativas não se restringe à Agrishow.

A 85ª edição da Expozebu, que vai ocorrer em Uberaba, no Triângulo Mineiro, de 27 de abril a 5 de maio, também espera bater recordes, com previsão de faturar R$ 200 milhões e reunir 280 mil visitantes.

Os criadores de gado enxergam na política do presidente uma oportunidade de projeção, segundo Arnaldo Manuel de Souza Machado Borges, presidente da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu). Como se vê, o discurso de otimismo se mantém tanto no pasto quanto na lavoura.

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