Vinte anos após Kyoto, especialistas torcem para Paris ser diferente

Crédito: Ferdinand Ostrop - 17.jul.2001/AFP Estudantes americanos protestam contra Protocolo de Kyoto
Estudantes americanos protestam contra Protocolo de Kyoto

PHILLIPPE WATANABE
DE SÃO PAULO

Em 11 de dezembro de 1997, o primeiro pacto global relacionado às mudanças climáticas era adotado. Surgia o Protocolo de Kyoto. Vinte anos depois, a torcida de especialistas é para que sua baixíssima efetividade não se repita com o Acordo de Paris.

O tratado, que visava diminuir as emissões de gases-estufa de países desenvolvidos a pelo menos 5% abaixo dos níveis registrados em 1990, só entrou em vigor realmente em 2005. "Na prática, o protocolo não teve importância nenhuma", diz Paulo Artaxo, climatologista da USP.

André Nahur, coordenador do programa de mudanças climáticas da ONG WWF Brasil, afirma que recentemente as emissões de gases-estufa aumentaram no mundo –de 2015 a 2016 a liberação foi a maior já registrada.

Mudanças Climáticas

O aumento das emissões é acompanhado por recordes de temperatura –entre os dez anos mais quentes já registrados, nove estão no século 21 e 2016 é o recordista, até o momento–, de derretimento das geleiras e de outros desastres climáticos.

"O não cumprimento da meta de Kyoto coloca a sociedade em uma velocidade de emissões que nos leva a cenários bem preocupantes. E o que tivemos em Kyoto pode se repetir com Paris", diz Nahur.

Segundo Márcio Astrini, coordenador de políticas públicas da ONG Greenpeace, o novo acordo climático firmado em Paris é mais maduro, mais próximo de ações concretas e ocorreu em um momento em que não se debate mais a existência ou não das mudanças climáticas –pelo menos dentro da comunidade científica séria.

De toda forma, mesmo um bom acordo ratificado e "abençoado pelo papa não vai salvar o clima se os países não fizerem as ações necessárias", diz Astrini.

"A humanidade não está conseguindo, mesmo com os avanços [desde Kyoto]", afirma André Ferretti, coordenador do Observatório do Clima e gerente da Fundação Grupo Boticário, segundo o qual, a situação atual levaria o mundo para um aumento de 3°C até o final do século.

IMPACTOS

Se a aplicação foi falha, o Protocolo de Kyoto pelo menos foi "divisor de águas" e popularizou o problema das mudanças climáticas.

Artaxo afirma que, estrategicamente, o documento foi importante para o reconhecimento de que o aquecimento global deveria ser contido.

O secretário de Mudança do Clima e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Everton Lucero, afirma que o protocolo levou à criação de instituições e regras para monitoramento e transparência na questão do aquecimento global. Outro ganho, diz, foi a criação dos mercados de carbono, mecanismo usado ainda hoje na tentativa de controlar emissões.

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