América pode perder 40% de sua biodiversidade até 2050, diz relatório

Ação humana provoca perda de animais e as plantas em todo o mundo

Mariëtte Le Roux
Medellín | AFP

A atividade humana levou os animais e as plantas ao declínio em todas as regiões do mundo, colocando em risco o nosso próprio bem-estar através da exploração excessiva dos recursos naturais e de poluentes, alertou uma pesquisa abrangente sobre espécies nesta sexta-feira (23). 

Os estoques de peixes podem se esgotar até 2048 e mais da metade das espécies de aves e mamíferos da África desaparecer até 2100, a menos que medidas drásticas sejam tomadas, de acordo com quatro relatórios abrangentes divulgados em Medellín. 

Dois espécimes da ave grou-coroado-oriental (Balearica regulorum), naturais da savana árida africana, no zoológico de Medellín, Colômbia
Dois espécimes de grou-coroado-oriental (Balearica regulorum), naturais da savana árida africana, no zoológico de Medellín, Colômbia - AFP

Até 90% dos corais da Ásia-Pacífico sofrerão "degradação severa" até 2050, enquanto na Europa e na Ásia Central quase um terço das populações conhecidas de peixes marinhos e 42% dos animais e plantas terrestres estão em declínio. 

"Essa tendência alarmante coloca em risco as economias, os meios de subsistência, a segurança alimentar e a qualidade de vida das pessoas em todos os lugares", alertou a Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES).

Elaborados por quase 600 cientistas ao longo de três anos, os relatórios ressaltam que a natureza fornece aos humanos comida, água limpa e energia, e regula o clima da Terra -- praticamente tudo que precisamos para sobreviver e prosperar. 

"Estamos minando nosso próprio bem-estar futuro", disse o presidente da IPBES, Robert Watson.

"A biodiversidade continua sendo perdida em todas as regiões do globo. Estamos perdendo espécies, estamos degradando ecossistemas. Se continuarmos agindo dessa forma, continuaremos perdendo biodiversidade a taxas crescentes."

A avaliação da IPBES dividiu o mundo em quatro: Américas, África, Ásia-Pacífico, Europa e Ásia Central - todo o planeta, exceto a Antártica e os mares abertos. 

Cientistas voluntários examinaram cerca de 10 mil publicações científicas para o mais extenso levantamento sobre biodiversidade desde 2005.

As conclusões foram resumidas em quatro relatórios aprovados pelos 129 países-membros da IPBES na Colômbia. Elas contêm diretrizes para os governos criarem políticas mais amigáveis em relação ​​à biodiversidade no futuro. 

EXTINÇÃO EM MASSA

Para as Américas, a pesquisa alertou que as populações de espécies ---já 31% menores do que quando os primeiros colonos europeus chegaram --terão encolhido cerca de 40% até 2050. 

Estima-se que cerca de 500 mil quilômetros quadrados de terra africana estejam degradados, acrescentou. 

O continente sofrerá perdas de plantas "significativas" e seus lagos serão 20-30% menos produtivos até 2100. 

Na União Europeia, entretanto, apenas 7% das espécies marinhas avaliadas tinham um "estado de conservação favorável."

"Se continuarmos do jeito que estamos, a sexta extinção em massa e a primeira causada pelos humanos continuará", disse Watson à AFP. 

Os cientistas dizem que o consumo voraz da biodiversidade pela humanidade desencadeou a primeira extinção em massa de espécies desde o desaparecimento dos dinossauros - a sexta em nosso planeta em meio bilhão de anos.

AUMENTO DA DEMANDA

Em muitos lugares, as mudanças climáticas causadas pela queima de combustíveis fósseis para energia estava piorando a perda de biodiversidade, segundo os relatórios. 

"É isso que temos que transmitir aos formuladores de políticas: temos de olhar para as mudanças climáticas e para a biodiversidade em conjunto", afirmou Watson. 

"As mudanças climáticas afetam a biodiversidade, mudanças em nossa vegetação natural afetam as mudanças climáticas. E ambas, se não fizermos isso corretamente, vão prejudicar muitos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas: água limpa para todos, segurança alimentar para as pessoas, segurança energética, segurança humana, equidade". 

Existem muitos obstáculos. "O crescimento econômico vai continuar. O crescimento da população continuará até 2050, portanto a demanda por recursos aumentará", disse o presidente da IPBES. 

Mesmo nos melhores cenários, o aquecimento global continuará contribuindo para a perda de espécies, o que causará maior degradação dos ecossistemas. 

Mas os cientistas apontam possíveis soluções: criar mais áreas protegidas, restaurar zonas degradadas e repensar os subsídios que promovem a agricultura insustentável. 

Governos, empresas e indivíduos devem considerar o impacto sobre a biodiversidade ao tomar decisões sobre agricultura, pesca, silvicultura, mineração ou desenvolvimento de infraestruturas. 

Regiões diferentes exigirão soluções diferentes, disse Watson. 

"Não é tarde demais" para interromper ou mesmo reverter alguns dos danos, afirmou. "Podemos parar tudo isso? Não. Podemos desacelerá-lo significativamente? Sim."

A IPBES divulgará um quinto relatório sobre o estado global do solo, que está sendo degradado rapidamente através da poluição, destruição de florestas, mineração e métodos agrícolas insustentáveis ​​que esgotam seus nutrientes.

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