Novo laudo aponta contaminação em rio no entorno de fábrica no Pará

Empresa norueguesa nega o transbordo de seus resíduos sólidos

Fabiano Maisonnave
Manaus

Em relatório técnico divulgado nesta quarta (28), o Instituto Evandro Chagas afirma ter encontrado diversos metais poluentes em níveis acima do permitido no entorno da empresa norueguesa Hydro Alunorte, em Barcarena (PA), a 100 km de Belém. 

Segundo o instituto, subordinado ao Ministério da Saúde, o rio Murucupi, que cruza comunidades vizinhas à fábrica, apresenta alumínio, ferro, cobre, arsênio, mercúrio e chumbo em concentrações acima do estabelecido pela resolução 357 do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente). 

Por causa da contaminação, o órgão orientou a população a não usar o rio e recomendou a continuidade da distribuição de água potável —a maioria das casas do entorno é abastecida por poços artesanais.

Os mesmos metais foram encontrados nos efluentes da Hydro, o que comprovaria que houve o transbordamento em meados de fevereiro, quando Barcarena registrou uma chuva recorde, provocando alagamentos.

O Ibama, no entanto, descartou o transbordamento em vistorias no local, mas multou a Hydro em R$ 20 milhões por problemas de licenciamento. O órgão ambiental federal não colaborou com o relatório do Evandro Chagas.

Questionado pela Folha se o estudo considerou o lixão a céu aberto municipal, localizado no entorno da fábrica, como possível fonte poluidora, o Evandro Chagas afirmou que a área analisada fica longe desse local.

Criado nos anos 1970, o polo industrial de Barcarena até hoje não tem licença ambiental. A cidade não dispõe de coleta de esgoto nem tratamento de lixo. 

O relatório também identificou alumínio e ferro acima do permitido no rio Pará, de maior volume de água, onde a Hydro admitiu ter despejado água de chuva não tratada proveniente do telhado do galpão de carvão.

A empresa, porém, nega que tenha havido rompimento ou transbordo nos seus depósitos de resíduos sólidos, como diz o Evandro Chagas.

Sobre o novo relatório, a Hydro afirmou que ainda não teve acesso ao seu teor. A empresa contratou a consultoria ambiental SGW para uma análise paralela e promete apresentar as conclusões em 9 de abril.

A Noruega é o país principal doador do Fundo Amazônia, voltado ao combate ao desmatamento —já desembolsou cerca de US$ 1,1 bilhão (R$ 3,6 bilhões). No ano passado, representantes do governo fizeram duras críticas à política ambiental do presidente Michel Temer durante sua visita a Oslo.

Com participação de 34,3% da empresa, o governo norueguês disse esperar que a Hydro tome as medidas necessárias para resolver a situação.

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