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Projeto quer criar megatrilha de 3.000 km pela mata atlântica

Governo, ONGs e comunidades locais trabalham para conectar percurso entre RJ e RS

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Isis Nóbile Diniz
São Paulo

Órgãos públicos, organizações do terceiro setor e comunidades locais se uniram para colocar em prática o projeto Caminho da Mata Atlântica, uma trilha de 3.000 quilômetros ao longo do litoral do Rio de Janeiro, de São Paulo, do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. 

A trilha deve passar por mais de 70 municípios e unidades de conservação. Segundo Anna Carolina Lobo, coordenadora do Programa Mata Atlântica e Marinho da ONG WWF-Brasil, mais de 3.800 quilômetros já foram mapeados e cerca de 80% do trajeto já pode ser percorrido.

Os trechos mais estruturados estão nos estados do Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina.Hoje, a demarcação está sendo organizada pelo movimento Borandá, uma iniciativa do Programa Mata Atlântica e Marinho do WWF-Brasil. 

Segundo a ONG, a ideia foi apresentada durante o 7º Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), em 2012. A expectativa da WWF é que todo o percurso esteja conectado em dez anos.

Pedro Menezes, coordenador geral de Uso Público e Negócios do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), diz que o órgão começou a pensar na trilha com o Projeto Travessias.

“Nossa ideia era implementar uma travessia em cada parque nacional e o projeto evoluiu para trilhas que tivessem conectividade em áreas de conservação.”Também trabalham para finalizar o projeto governos municipais e estaduais, ONGs locais, nacionais e internacionais, como é o caso da Conservation International (CI), fundações florestais, órgãos ambientais e federações de montanhismo.

Fábio Araújo, coordenador de Monitoramento da Conservação da Biodiversidade do ICMBio, lembra que trilhas de longo curso como essa só são possíveis com colaboração de uma grande gama de parceiros em diferentes níveis. “É preciso também reconhecer o papel dos voluntários no trabalho pesado de campo. São eles que tocam e concretizam as trilhas”, completa.

O Caminho da Mata Atlântica fará parte do Corredor da Trilha Litorânea, apoiado pelo ICMBio, que deve ligar o Oiapoque (AP) ao Chuí (RS). “Essa será a maior trilha brasileira e que acompanha a rota migratória dos pássaros no Brasil”, conta Menezes.

Dificilmente alguém completará todo o traçado de uma vez. Por isso, as trilhas nacionais foram divididas em regionais, com duração de cerca de 20 dias, para caber nas férias, segundo Menezes. “Assim, a pessoa sai com o sentimento de ‘eu completei’”, diz.

Ambos os projetos foram inspirados, principalmente, nos caminhos norte-americanos como a Appalachian Trail, que segue o litoral leste dos EUA, e no sistema nacional de trilhas do país. Esse liga mais de 90% das unidades de conservação americanas. 

“O Brasil deve ser um dos países mais atrasados em trilhas”, diz Menezes. De acordo com Serviço Florestal dos Estados Unidos, o país de tamanho tem mais de 255 mil quilômetros já demarcados. Neste ano, segundo o ICMBio, o Brasil terá mais de mil quilômetros de trilhas sinalizadas. 

O Caminho da Mata Atlântica interligará trilhas tradicionais como a Travessia Petrópolis-Teresópolis (RJ), o Caminho do Ouro de Mambucaba (SP/RJ), os Caminhos do Mar (SP), do Itupava e da Conceição (PR). As conexões podem se dar por novas demarcações ou pequenas estradas rurais.

Em média, um turista de aventura caminha cerca de 15 quilômetros por dia. Mantendo o ritmo, ele precisaria de 200 dias para completar o percurso. “Ou seja, uma pessoa levaria de seis meses a um ano dependendo do preparo físico”, conta Anna Carolina Lobo, coordenadora do Programa Mata Atlântica e Marinho do WWF-Brasil. 

Como o projeto ainda está em construção, é recomendável consultar o site oficial e as pessoas da região para se informar sobre condições e dificuldades de cada trecho”, diz Ernesto Viveiros de Castro, coordenador de manejo e sinalização do traçado e chefe do Parque Nacional da Tijuca,  (ICMBio). Por questão de segurança, é recomendável percorrer apenas áreas já demarcadas. 

As trilhas ajudam na conservação da biodiversidade, apoiando a manutenção e a recuperação​ de corredores florestais e permitindo o fluxo de animais e de sementes entre as áreas protegidas.“A própria população recupera áreas degradadas por esforços voluntários a partir da trilha estabelecida e do contato com a natureza”, revela Menezes.

No decorrer dos anos, a ideia é de que os caminhos não acompanhem mais estradas de terras, incentivando os proprietários rurais a restaurarem a vegetação e a criarem opções de alimentação e de pernoite próximas a reservas ou a Áreas de Preservação Permanente (APP).

Segundo Anna Carolina, os benefícios são de longo prazo conectando a sociedade à natureza, mostrando a importância dos parques por meio da promoção da vida ao ar livre e o valor adicionado da natureza para a sociedade.

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