Genoma do coala é decifrado e pode ajudar na conservação do bicho

Regime alimentar restrito torna animais vulneráveis ao desaparecimento das florestas de eucalipto

Mariëtte Le Roux
Paris | AFP

O icônico coala da Austrália, cuja existência está ameaçada por doenças, incêndios florestais, atropelamentos e ataques de cães, tem pela frente um futuro mais promissor graças aos cientistas que estão decifrando seu código genético. 

Um esforço de mais de 50 pesquisadores em sete países revelou 26.558 genes de coalas, fornecendo pistas vitais de DNA para vacinas contra doenças como a clamídia, que cega esses animais e os deixa inférteis. 

“O genoma nos permitiu entender os genes da imunidade do coala em detalhes pela primeira vez”, disse Rebecca Johnson, do Australian Museum Research Institute, coautora do estudo publicado na revista científica Nature Genetics. Além de vacinas, o código de DNA também poderia impulsionar os programas de reprodução de coalas. 

Coala olha para a câmera enquanto senta em um galho no zoológico Wild Life, de Sidney
Coala olha para a câmera enquanto senta em um galho no zoológico Wild Life, de Sydney - David Gray/Reuters

A pesquisadora afirmou que a consanguinidade era maior entre os coalas de Victoria e da Austrália meridional do que entre seus primos de Queensland e Nova Gales do Sul. 

“A descoberta nos permite fazer recomendações sobre como preservar as populações com alta diversidade genética e como os animais podem ser transportados para melhorar a diversidade de populações endogâmicas”, disse Johnson. 

De entre 15 e 20 espécies que existiam cerca de 30 a 40 milhões de anos atrás, uma única espécie de coala sobrevive na Austrália hoje —cerca de 330 mil indivíduos no total, em sua maioria vivendo em áreas protegidas. 

Apenas 43 mil podem ser deixados em estado selvagem, em comparação com o número estimado de 10 milhões de coalas antes dos europeus começarem a se estabelecer na região, em 1788. 

O número de coalas foi dizimado em parte por um próspero comércio de peles dos anos 1870 até o final da década de 1920. A União Internacional para a Conservação da Natureza qualifica o status de proteção do coala como vulnerável.

Os coalas são marsupiais — mamíferos que criam seus filhotes em uma bolsa abdominal. Sua dieta consiste principalmente em folhas de eucalipto, tóxicas para outros animais e pobres em calorias, o que significa que eles precisam comer muito e descansar com frequência. 

O novo estudo identificou genes responsáveis pela desintoxicação do fígado que provavelmente permitiram que os coalas encontrassem esse nicho de dieta, evitando a competição por alimentos com outros animais. 

Mas o regime alimentar quase exclusivo os torna particularmente vulneráveis ao desaparecimento das florestas de eucalipto, afetadas pelo desmatamento. 

O aquecimento global, segundo especialistas, aumentará ainda mais o risco de incêndios florestais devastadores e morte de árvores. 

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