Descrição de chapéu The New York Times

DNA de presas de elefantes ajuda a rastrear caçadores clandestinos

Com mapa genético, cientistas identificam origem dos animais e conectam casos ao tráfico mundial

Karen Weintraub
Nova York | The New York Times

Caçadores clandestinos vêm matando 40 mil elefantes por ano e, com uma população mundial de apenas 400 mil animais da espécie, não é preciso um matemático para compreender que existe necessidade urgente de deter a matança.

Mas é difícil apanhar os caçadores clandestinos em flagrante. Eles operam em uma área vasta, comerciam apenas algumas poucas presas de elefantes por vez e, quando seu contrabando de marfim chega a um grande porto, é fácil escondê-lo em meio a outros bens, diz Samuel Wasser, diretor do centro de biologia de conservação da Universidade de Washington.

Elefantes com grandes presas correm e levantam poeira
Elefantes no Parque Nacional de Amboseli, no Quênia. - Martin Harvey/WWF/AP
 

Em um novo estudo publicado na quarta-feira (19) pela revista Science Advances, Wasser e diversos colegas demonstraram uma abordagem que ajudará —eles esperam— a capturar e condenar mais traficantes internacionais de marfim.

Wasser já havia desenvolvido um mapa genético dos elefantes africanos ao analisar dejetos de animais de todo o continente. Agora, ele consegue combinar o mapa à análise genética de presas confiscadas a fim de determinar onde o animal estava vivendo ao ser morto. Isso pode ajudar as autoridades a vigiar áreas mais suscetíveis à caça clandestina, diz o pesquisador.

O norte do Gabão, no oeste da África, perdeu 60% de sua população de elefantes nos últimos oito anos devido à intensa caça clandestina, diz John Brown, agente especial do Departamento de Segurança Interna (DSI) dos Estados Unidos, envolvido em processos judiciais contra traficantes de marfim.

"Isso nos ajuda a concentrar nossos esforços investigativos e de conservação nas áreas visadas, para atacar o problema na fonte e também para derrubar as organizações criminosas transnacionais responsáveis pelos crimes", afirma Brown.

A abordagem de Wasser é uma ferramenta muito bem-sucedida que está sendo explorada plenamente nessas investigações, diz o agente.

A análise genética de uma presa custa cerca de US$ 100 (aproximadamente R$ 400), e pode haver entre 1.000 e 2.000 presas em cada apreensão, o que faz com que os investigadores analisem estrategicamente apenas uma amostra de cada embarque apreendido, diz Wasser.

Os cartéis de tráfico de marfim costumam dividir as presas em múltiplos embarques. Wasser diz que os pesquisadores ocasionalmente conseguem vincular esses embarques uns aos outros ao demonstrar que presas em duas cargas diferentes pertencem ao mesmo elefante ou à mesma família. Dessa forma, segundo ele, é possível conectar os criminosos a mais de um embarque, o que resulta em sentenças mais severas quando eles são apanhados.

Em 2016, uma gangue de caçadores clandestinos internacionais foi condenada na Tanzânia, mas os casos contra os acusados foram abandonados devido a irregularidades nos julgamentos e insuficiência de provas.

Wasser afirma que dados genéticos conectaram a quadrilha a novos embarques, posteriormente, e ele acredita que isso venha a resultar em condenações que se sustentem.

Ele instou os governos dos países onde ocorre caça clandestina a entregar rapidamente as presas apreendidas para análise genética.

Os portos internacionais são simplesmente movimentados demais —um bilhão de contêineres são movimentados por ano, em todo o mundo— para que seja possível encontrar marfim obtido irregularmente, diz Wasser.

O tráfico de marfim movimenta US$ 4 bilhões (cerca de R$ 16 bilhões) ao ano em todo o mundo, segundo o pesquisador. Agora que ele estabeleceu um modelo para identificar elefantes e presas obtidas clandestinamente, Wasser diz que está adotando a mesma abordagem para rastrear pangolins —animais semelhantes ao tamanduá,  do tamanho de cocker spaniel, que são procurados por sua carne e escamas.

Wasser afirma que é importante que os consumidores deixem de comprar marfim e outros produtos animais —vendidos como bugigangas ou divulgados, sem bases médicas, como afrodisíacos ou tratamentos contra diversas doenças.

Também existem pessoas, ele diz, que parecem comprar presas inteiras como investimento, na esperança de que se tornem valiosas no futuro, caso a caça descontrolada resulte na extinção dos elefantes.

"Precisamos de algo urgente, que chegue lá e realmente detenha esse comércio de vez", ele afirma, acrescentando esperar que sua abordagem genômica seja parte da solução.

Tradução de Paulo Migliacci

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