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Latino América 21

O problema do plástico também é latino-americano

Ainda reciclamos proporção muito baixa do plástico que usamos na região

David Castells
Latino América 21

O plástico é um material resistente, leve, duradouro, moldável e acima de tudo barato, com o qual atualmente se fabrica uma infinidade de coisas. O plástico revolucionou o mundo a tal ponto que hoje 400 milhões de toneladas do material são produzidas a cada ano. Uma indústria em grande expansão, que antecipa triplicar sua produção até a metade do século e que gera bilhões de dólares ao ano em faturamento, mas que acarreta imensos custos ambientais para o planeta.

Os países latino-americanos são um grande mercado para o produto. Embora o consumo de plástico nos países da região continue inferior ao dos países avançados, ele vem crescendo, ainda que existam diferenças notáveis entre os países. Por exemplo, no Chile o consumo de plástico é estimado em 51 quilos por habitante/ano. Na Argentina, esse consumo é de 44 quilos anuais, e no Brasil de 37 quilos. Na Colômbia e Equador, ainda não supera os 30 quilos.

Nos países latino-americanos, o consumo de plástico tradicionalmente envolve importações. Mesmo assim, em diversos países da região a indústria do plástico está em forte desenvolvimento. Estima-se que atualmente até 30% do plástico importado pelos países latino-americanos seja transformado para reexportação.

No Equador, por exemplo, calcula-se que a indústria do plástico gere mais de 15 mil empregos diretos e outros 60 mil indiretos, e represente cerca de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

Mas o que acontece com todo o plástico consumido na América Latina quando ele é descartado? Onde ele vai parar? De todo o plástico produzido no mundo, a maior parte, cerca de 260 milhões de toneladas anuais, termina descartada. Por exemplo, um saco plástico é produzido em segundos, mas sua biodegradação requer 400 anos. Por isso, o plástico descartado vem se acumulando em velocidade tamanha que se converteu em um verdadeiro problema de alcance mundial, e a América Latina não está imune a ele.

Diante desse problema urgente, muitos países do mundo já se conscientizaram seriamente e reciclam porcentagem cada vez maior do plástico usado. Uma reciclagem que não só tem propósitos ambientais mas pode se tornar atividade bastante rentável.

Na América Latina, ainda reciclamos proporção muito baixa do plástico que usamos. A reciclagem continua a ser uma oportunidade pouco aproveitada. Mas isso pode estar começando a mudar. Em março deste ano, Bogotá sediou a Cumbre Latinoamericana Recicla, uma conferência de cúpula reunindo governos, empresas, organizações multilaterais e recicladores de mais de 20 países da região, em uma amostra do que parece ser uma mudança de atitude na América Latina.

Com um setor de reciclagem maior e mais desenvolvido, os países latino-americanos não só poderiam aproveitar recursos valiosos mas também gerar empregos e receita. E além de tudo elevar o nível de reciclagem seria um passo importante a caminho de uma gestão mais sustentável de nossos resíduos.

Uma gestão que futuramente deveria ter como objetivo não só reciclar mas substituir boa parte do plástico utilizado no dia a dia por similares biodegradáveis. Como exemplo, cinco bilhões de sacos plásticos são consumidos anualmente no planeta, e assim sua troca por substitutos de fibras naturais é uma medida que terá consequências positivas diretas para o meio ambiente.

Recentemente o Chile colocou em vigor uma lei que proíbe a distribuição de sacos plásticos no comércio do país, o que faz dele o primeiro país a aplicar essa legislação na América Latina. O Panamá também aprovou a proibição total do uso de sacos plásticos no comércio, e a Colômbia criou um imposto sobre eles, no ano passado. Além disso, países como Uruguai, Costa Rica, Bahamas e Belize estão implementando medidas de combate aos sacos plásticos.



David Castells-Quintana é colombiano, doutor em economia e professor da Universidade Autônoma de Barcelona, especializado em economia internacional, economia urbana e desenvolvimento econômico. Publicou recentemente " Los Retos de un Planeta Abarrotado" [os desafios de um planeta abarrotado] (RBA Editores, 2017).

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Tradução de PAULO MIGLIACCI

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