União Europeia vai banir canudos de plástico até 2021

Medida reforça onda global contra descartáveis; no Brasil, cidade como Rio e Santos baniram o produto

Ana Carolina Amaral
São Paulo

O Parlamento europeu aprovou nesta quarta (24) lei para banir até 2021 itens como canudos, cotonetes e talheres feitos de plástico. 

Segundo a lei, esses itens já contam com alternativas biodegradáveis, como os produtos feitos de papelão ou madeira. Para aqueles sem alternativas disponíveis, como embalagens de sanduíches e potes de sorvete, a lei determina uma meta de redução de 25% do consumo até 2025. No mesmo ano, a reciclagem das garrafas plásticas deverá chegar a 90% na região.

Aprovada por 531 votos contra 53, a nova legislação ainda deve passar pelo conselho de ministros da União Europeia antes de valer para os 28 países do bloco. Proibições semelhantes tramitam em mais de 60 países, segundo relatório da ONU publicado em junho.

Estima-se que o canudo represente 4% do total de 8 milhões de toneladas de plástico presentes no mar. A principal razão que o levou à mira do banimento é semelhante à das sacolas e outros descartáveis: a discrepância entre a duração do uso --menos de 10 minutos-- e a permanência do objeto no ambiente --mais de 400 anos.

Anna Carolina Lobo, coordenadora do programa marinho da ONG WWF Brasil, elenca os motivos para o canudo ter se tornado um alvo. "Ele é simbólico e simples para abrir os olhos da sociedade: não é tão necessário; tem impacto gigante nos oceanos, tem vida útil curta e o poder de decisão é acessível". 

Segundo ela, o que agrava o problema é o fato de o plástico nunca chegar a se decompor completamente. Ao longo de quatro séculos, ele "apenas se quebra em pedaços menores até virar um microplástico, que dilui na água e se acumula nos organismos vivos", diz.

O diagnóstico coloca no radar os chamados plásticos de uso único, ou seja, os descartáveis que não chegam a ser reutilizados: são usados por um curto período e descartados para a eternidade. Para além de sacolas, canudos, copos, garrafinhas e embalagens; também estão na mira do banimento itens menos lembrados, como a haste de cotonete. O governo da Escócia, no início deste ano, propôs uma lei que proíbe especificamente a fabricação de hastes plásticas para cotonetes.

Mas a mira das legislações é mais ampla em outros lugares do mundo. De acordo com relatório da ONU sobre o tema, já há medidas contra os plásticos em mais de 90 países --somando iniciativas do mercado e leis locais. Em 40 deles, também há leis nacionais. 

No continente africano, 25 países já determinaram banimento nacional de tipos de plásticos de uso único. Em outros lugares, no entanto, as legislações apostam em regulações do mercado, através da taxação do plástico ou de acordos com o setor.

A onda de indignação contra os canudos e outros vilões acompanha as correntes marítimas, que estão carregando a "sopa de plásticos" que costumava flutuar no meio do Pacífico para as praias, tornando o problema cada vez mais visível e fazendo com que várias cidades litorâneas se tornem protagonistas da discussão pioneiras nas legislações. 

O plástico que fica no mar, no entanto, não conta com uma regulamentação internacional. Por isso, a disputa nas assembleias da agência de meio ambiente da ONU é para trazer um acordo à mesa.
Estados Unidos e países asiáticos --que juntos produzem cerca de 60% do lixo plástico do mundo-- estariam pressionando contra qualquer compromisso, segundo fontes que acompanharam a última negociação da ONU.

O flagrante que transformou o canudo plástico em vilão aconteceu em agosto de 2015, quando um grupo de oceanógrafos da Universidade A&M do Texas realizava uma pesquisa próximo à Costa Rica e encontrou uma tartaruga com um canudo plástico atravessado na sua narina. 

O socorro ao animal foi filmado e teve mais de 32 milhões de visualizações em apenas um dos vídeos do YouTube, disparando de lá para cá dezenas de campanhas pelo fim do uso de canudos plásticos -- entre as mais famosas nas redes sociais está a hashtag Stop Sucking, expressão com duplo sentido: "pare de chupar" e "pare de ser horrível".

Celebridades engrossaram o coro nas redes sociais. Tom Brady, astro do futebol americano, foi incentivado pela esposa, Gisele Bundchen, a gravar um vídeo no último mês de junho, recomendando ao seu público que "recuse canudos de plásticos e prefira os biodegradáveis". 

Bastaram alguns meses para o movimento sair das redes sociais dos famosos e ganhar o compromisso de grandes marcas. Em março, o ator americano Adrian Grenier havia publicado em seu perfil no Twitter uma foto sua mergulhando em um mar cheio de plástico. 

Fazendo referência à capa do álbum Nevermind da banda Nirvana, Grenier pedia à rede global Starbucks o banimento dos canudos descartáveis de suas cafeterias. Depois de quatro meses, a rede respondeu com um novo desenho de copos que dispensaria o canudo —a substituição total, segundo a empresa, acontecerá até 2020.

De junho para cá, lojas globais, companhias aéreas e até a Disney prometeram banir os canudos nos próximos anos. A rede McDonald's também anunciou que vai substituir os canudos plásticos pelos feitos de papel em países como Reino Unido e Irlanda, testando alternativas em outros países europeus e nos Estados Unidos.

Por aqui, a rede anunciou que passa a oferecer o canudo somente se o cliente solicitar.

No Brasil, cidades litorâneas como Rio de Janeiro, Camboriú (SC), Ilhabela (SP), Santos (SP), Rio Grande (RS) e todo o estado do Rio Grande do Norte já sancionaram leis de banimento de canudos de plástico.
Bares e restaurantes brasileiros também estão substituindo os canudos plásticos por opções biodegradáveis, especialmente nas capitais onde já tramitam leis de banimento do produto, como São Paulo, Fortaleza e Salvador. 

No Senado, tramita projeto que proíbe itens como sacolas, canudos, talheres descartáveis e sabonetes esfoliantes com microesferas de plástico.

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