Descrição de chapéu The New York Times

Como fazer compras, cozinhar e comer em um mundo que está aquecendo?

Veja como fazer melhores escolhas para não agravar as mudanças climáticas ou a perda de florestas

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Nova York | The New York Times

O sistema alimentar do planeta é responsável por cerca de um quarto dos gases causadores do efeito estufa e do aquecimento global gerados a cada ano. Isso inclui o plantio e colheita de todas as plantas e a criação e processamento dos animais e produtos animais que consumimos —carne bovina, aves, peixe, leite, lentilhas, couve, milho e mais—, assim como o processamento, embalagem e transporte de alimentos a mercados em todo o mundo. 

Ou seja, se você come, você é parte do sistema. Veja abaixo perguntas e respostas sobre comida e mudança do clima.

Visão Geral

Como a comida contribui para o aquecimento global? 
Eis quatro das principais maneiras: 1) quando florestas são desmatadas para abrir espaço a fazendas e à criação de gado, grandes reservas de carbono são liberadas na atmosfera, o que aquece o planeta, 2) quando vacas, carneiros e cabras digerem sua comida, eles arrotam metano, outro poderoso gás causador do efeito estufa, 3) estrume animal e arrozais também são fontes de metano, 4) combustíveis fósseis são usados para acionar maquinaria agrícola, produzir fertilizantes e transportar alimentos pelo planeta, e tudo isso gera emissões de poluentes.

Que alimentos têm o maior impacto? 
Carne bovina e laticínios, especialmente de leite de vaca, têm impacto desproporcional, com o gado respondendo por cerca de 14,5% dos gases causadores do efeito estufa emitidos a cada ano. 

Isso equivale às emissões de todos os carros, caminhões, aviões e navios do planeta combinados hoje.

Os gados bovino e ovino têm o maior impacto climático por grama de proteína gerada, enquanto alimentos de base vegetal têm o menor impacto. As carnes de porco e aves ficam entre esses dois extremos. 

Mudar minha dieta ajudaria em que medida? 
Alguns estudos concluíram que as pessoas que têm uma dieta com muita carne poderiam reduzir seu impacto ambiental em um terço ou mais se adotassem uma dieta vegetariana. Abandonar os laticínios reduziria ainda mais as emissões.

Se você não quer ir tão longe, mesmo assim existem maneiras de reduzir seu impacto individual sobre o clima, como comer menos carne e laticínios, e mais vegetais, ajudaria a reduzir as emissões. 

Tenha em mente que o consumo de comida responde muitas vezes por apenas uma pequena fração do impacto climático total da pessoa. É preciso considerar também o uso de carros e de transporte aéreo e o 
consumo de energia em casa. 

Mas eu sou só uma pessoa! Será que consigo mudar alguma coisa? 
É verdade que uma pessoa só tem impacto minúsculo sobre o problema do clima mundial. O problema exige ação em larga escala e mudanças nas políticas públicas. E a comida nem é o fator mais importante para o aquecimento global: a maior parte dele é causada pela queima de combustíveis fósseis para gerar eletricidade e acionar transportes e indústrias.

Mas se muitas pessoas mudassem sua dieta de forma coletiva, o peso de suas ações começaria a se fazer sentir.

Cientistas alertaram que teremos de reduzir o impacto da agricultura sobre o clima, no futuro se quisermos controlar o aquecimento global, especialmente porque a população do planeta continua a crescer. Para que isso aconteça, agricultores e pecuaristas precisam encontrar maneiras de reduzir suas emissões e melhorar muito a eficiência de sua produção.

 

Ilustração de carne em pacote
Gracia Lam/The New York Times

Carne

Por que a carne tem tanto impacto sobre o clima? 
Muitas vezes é mais eficiente cultivar safras para seres humanos do que cultivar safras para alimentar animais e depois converter esses animais em comida para os seres humanos. Um estudo recente pela Organização de Agricultura e Alimentos das Nações Unidas (FAO, na sigla em inglês), concluiu que em média é necessário um quilo de grãos para criar 330 gramas de carne.

Podemos defender a criação de vacas, galinhas e porcos afirmando que eles comem muitas coisas que humanos não comeriam, como grama e resíduos de safras. E a carne pode ser rica em nutrientes importantes, como as proteínas e o ferro. Mas em termos gerais, é preciso mais terra, mais energia e mais água para produzir um quilo de proteína animal do que para produzir um quilo de proteína vegetal.

A carne bovina e a carne ovina têm impacto climático especialmente grande por outro motivo: os estômagos das vacas e carneiros contêm bactérias que os ajudam a digerir grama e outros alimentos. Mas essas bactérias criam metano, um poderoso gás causador do efeito estufa.

A maneira pela qual vacas são produzidas faz diferença? 
Sim. Nos Estados Unidos, boa parte do gado é criada em pastos existentes, que não teriam outro uso. Já no Brasil, um dos maiores exportadores mundiais de carne bovina, milhões de hectares de floresta tropical foram abertos por meio de queimadas a fim de criar espaço para mais produção de carne.

Como resultado, a carne bovina brasileira pode ter impacto climático até 10 vezes mais forte que a americana. 

Os seres humanos deveriam deixar de vez de comer carne? 
Não necessariamente. Diversos especialistas argumentam que um sistema alimentar sustentável pode e deve incluir muita carne. Afinal, é possível criar vacas e outros animais em pastagens que não seriam apropriadas para a plantação de alimentos para humanos, e os bichos comeriam resíduos de safras que  seriam desperdiçados. Esses animais produzem estrume, que que pode ser usado como fertilizante. E a agricultura animal emprega cerca de 1,3 bilhão de pessoas no mundo. 

Isso posto, há milhões de pessoas em todo o mundo que comem muito mais carne do que seria necessário para uma dieta saudável, de acordo com um estudo na revista médica The Lancet. E se queremos alimentar uma população cada vez maior sem agravar o aquecimento global ou pressionar mais as florestas, um corte desse consumo poderia fazer diferença.

Ilustração de pessoa segurando um peixe com um hashi
Gracia Lam/The New York Times

Peixes e frutos do mar

Que tipo de frutos do mar devo comer? 
Os peixes selvagens têm impacto relativamente baixo sobre o clima, já que a principal fonte de emissões nesse caso é o combustível queimado pelos barcos de pesca. Uma análise recente constatou que diversos peixes selvagens populares — anchovas, sardinhas, arenques, atuns, escamudos, bacalhaus, hadoques —em média apresentam impacto climático mais baixo que o da carne de frango ou de porco. Moluscos como os mexilhões, ostras e vieiras também são grandes escolhas em termos de baixas emissões. 

Por outro lado, no caso dos camarões e ostras, o impacto climático pode ser mais alto que o da carne de frango ou de porco, porque recolhê-los requer combustível adicional para os barcos de pesca.

Há uma grande resalva quanto aos peixes selvagens, porém: a essa altura, o mundo já está pescando o máximo que pode —a maioria dos pesqueiros está sendo explorada em seu limite máximo sustentável. Portanto, não existe muito espaço para que toda a população do planeta amplie seu consumo de peixes selvagens. 

Verifique em fontes científicas como o Seafood Watch para determinar se os peixes que você compra estão sendo pescados de modo sustentável.

Frutos do mar de criação são uma boa ideia? 
Se vamos comer mais frutos do mar nas próximas décadas, a maior parte desse aumento de consumo terá de vir da aquicultura (fazendas de criação de peixes). Criar peixes para consumo pode ser uma opção positiva em termos de impacto climático, especialmente no que tange aos moluscos, mas esse nem sempre é o caso. Muito depende das práticas de aquicultura e da geografia.

Qual é a melhor escolha que posso fazer quanto aos frutos do mar? 
Incorpore mais moluscos à sua dieta. Quando à decisão entre peixes cultivados ou selvagens, estes últimos podem ser uma boa opção em termos de baixo impacto climático, mas é bom verificar se um produto é certificado como sustentável.

Ilustração de leite caindo de caixa
Gracia Lam/The New York Times

Laticínios

Que impacto o leite e o queijo têm sobre a mudança do clima? 
Diversos estudos constataram que o leite tipicamente tem impacto inferior ao da carne de frango, carne de porco e ovos, sobre o clima, por grama de proteína produzida. Iogurte, queijo caseiro e requeijão têm números semelhantes aos do leite.

Mas muitos outros tipos de queijo, com o cheddar e a mozarela, podem ter impacto climático muito maior que da carne de frango e porco, já que tipicamente 10 quilos de leite são necessários para produzir um quilo de queijo.

Que forma de leite não lácteo é melhor? 
O leite de amêndoas, o de aveia e o de soja envolvem emissões mais baixas de poluentes que o leite de vaca. Mas, como sempre, há ressalvas. O cultivo de amêndoas requer muita água. O leite de soja tende a ter baixo impacto, desde que a soja seja produzida de forma sustentável.
 

Ilustração de pessoas olhando vegetais no prato
Gracia Lam/The New York Times

Plantas 

Você está dizendo que eu deveria me tornar vegano? 
Se você está disposto a experimentar, uma dieta vegana tem o menor impacto climático.

Eu não gosto de comida vegana. O que devo fazer? 
Se você gosta de macarrão com molho de tomate, homus ou torrada de abacate, isso significa que gosta de algumas comidas veganas. Há quem presuma que a dieta vegana inclui “substitutos” para a carne, como o tofu, mas isso não é verdade. Há muita proteína em feijões, grãos e frutas secas. E à medida que mais e mais pessoas se tornam veganas, as versões vegetais de sorvetes, manteiga e até mesmo hambúrgueres estão melhorando o tempo todo. 

Não acho que eu consiga me tornar completamente vegano. O que mais posso tentar? 
Outra abordagem seria comer menos carne e laticínios e mais vegetais ricos em proteínas, como feijões, legumes, frutas secas e grãos.

Você pode tentar uma dieta vegetariana: sem carne bovina ou de frango e sem peixe, mas com laticínios e ovos. A vantagem nesse caso seria que as regras são simples e os fabricantes de alimentos e restaurantes estão acostumados a acomodar vegetarianos. 

A dieta conhecida como “pescatarian”, que acrescenta peixes a uma dieta vegetariana, pode ser um bom compromisso e facilita incluir proteína em suas refeições.

Para manter alguma carne em sua dieta, tente reduzir o consumo a uma porção de carne vermelha por semana, e substitua as demais porções por carne de frango ou porco, peixes ou proteínas vegetais. 

Produtos orgânicos são mesmo melhores que produtos convencionais? 
Produtos orgânicos são cultivados sem fertilizantes ou pesticidas sintéticos, mas isso não significa que sejam necessariamente melhores do ponto de vista do clima. Em alguns casos, podem ser um pouco piores —fazendas orgânicas muitas vezes requerem mais terra do que fazendas convencionais, mas seu impacto pode variar de lugar para lugar.

Preciso me preocupar em obter produtos locais e sazonais? 
Em geral, o que você come importa muito mais do que a origem do que você come, porque o transporte responde por apenas 6% do impacto climático. Isso posto, há algumas coisas a considerar.

Qualquer alimento que esteja na época onde você vive costuma ser uma boa ideia.

As coisas se complicam quando o produto é comprado fora de época. Frutas e legumes transportados por avião podem ter um impacto climático muito alto.

Ilustração com Terra dentro de sacola de compras
Gracia Lam/The New York Times

Consumo

O desperdício de comida é um problema em termos de mudança do clima? 
Sim. Segundo algumas estimativas, os americanos jogam fora até 20% da comida que compram. Isso significa que toda energia usada na produção da comida é desperdiçada. Se você compra mais comida do que come, seu impacto climático será maior do que o necessário. 

Como posso reduzir meu desperdício de alimentos? 
Se você cozinha, comece planejando as refeições. No final de semana, reserve 20 minutos para planejar três jantares para dias de semana, para que você só compre o que vai comer. Limpe e organize sua comida antes de guardá-la para facilitar o uso. Preste atenção e coma o alimento antes que estrague ou guarde-o na geladeira para evitar desperdício.

Devo fazer compostagem? 
Não é má ideia. Quando a comida é jogada no aterro sanitário com o resto do lixo, ela começa a se decompor e a lançar metano na atmosfera, aquecendo o planeta. 

Devo usar sacos de papel ou sacos plásticos? 
Sacos de compras de papel parecem ser um pouco piores que os de plástico, do ponto de vista das emissões, ainda que os sacos plásticos dos supermercados tipicamente não possam ser reciclados e gerem resíduos que duram muito mais.

Mas em geral, embalagens respondem por apenas 5% das emissões relacionadas a alimentos. O que você come importa mais para a mudança do clima do que a embalagem em que a comida vem.

De toda forma, reutilizar as sacolas que você recebe é uma boa ideia —ou compre uma sacola de tecido (desde que você a mantenha e a use frequentemente). Outros recipientes plásticos nas lojas, como garrafas de refrigerante ou galões de leite, são mais difíceis de evitar, mas é comum que possam ser reciclados.

Reciclar ajuda em alguma coisa? 
Pode ajudar, ainda que não seja tão efetivo quanto reduzir o desperdício. Reciclar alumínio, plástico e papel pode reduzir o uso de energia e restringir as emissões. 

Por que não há rótulos na comida informando o impacto climático dos diferentes produtos? 
Alguns especialistas argumentam que deveria haver rótulos climáticos na comida da mesma forma que há informações sobre nutrição. Em teoria, os rótulos poderiam ajudar os consumidores a escolher produtos de baixo impacto e dariam aos agricultores e produtores mais incentivos para reduzir as emissões.

No entanto, um esquema de rotulação muito detalhado provavelmente exigiria muito mais fiscalização e cálculos de emissões, e requereria algum esforço para ser implementado. 
 

Julia Moskin , Brad Plumer , Rebecca Lieberman e Eden Weingart
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