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Governo prejudica imagem do país ao questionar dados de desmatamento do Inpe

Salles afirmou, nesta quarta (31), que dados de desmate não são corretos mas confirmou que há aumento

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Brasília

Ao fazer pesadas críticas sobre o atual sistema de acompanhamento do desmate no Brasil por satélite, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) concorrem para prejudicar a imagem do país no exterior. 

O sistema desenvolvido ao longo de três décadas pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e órgãos como o Ibama e o MMA (Ministério do Meio Ambiente) é considerado por organismos internacionais um exemplo positivo do Brasil em matéria de meio ambiente, especialmente pela transparência, um dos pontos agora atacados pelo governo.

Salles fez uma série de ataques nesta quarta-feira (31) aos dados do Deter-B (Detecção de Desmatamento em Tempo Real), uma parceria entre Inpe, MMA e Ibama, sem explicar que ele foi criado para auxiliar o trabalho de fiscalização e de outros órgãos ambientais estaduais e produzir uma informação preliminar que indica uma tendência mas não é tomada como o número final anual do desmatamento. O papel dele nunca foi medir o desmatamento

O ministro não explica que desde a primeira versão do programa, o Deter-A, de 2004, os pesquisadores e analistas das imagens sabem que ele não pode ser tomado ao pé da letra e que isso fica para um segundo programa, o Prodes, que usa outro satélite com melhor resolução. 

O Deter-B, porém, indica e antecipa tendências fundamentais para a atuação da fiscalização ambiental. É possível saber em qual município a fiscalização deve atuar com mais ênfase. E sabe-se que o número final do Prodes costuma acompanhar a tendência já indicada pelo Deter-B.

Para acompanhar o desmatamento, hoje o Brasil se vale de imagens produzidas por dois satélites estrangeiros. O indiano IRS, que trabalha com uma resolução espacial de 64 e 56 metros, abastece o sistema Deter-B, e o norte-americano Landsat 8 (resolução de 20 metros) é utilizado pelo Prodes (Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal), que é divulgado anualmente, considerando como "ano fiscal" o período de agosto a julho. 

Após o final da coleta das informações até 31 de julho, o Prodes processa e gera dados preliminares que são apresentados de outubro a novembro de cada ano. Publicações científicas indicam uma correspondência de aproximadamente 83% entre os dados do Deter-B e os finais do Prodes. Eliminar o Deter-B seria podar todo um processo de monitoramento e estudos não só do Brasil, mas da imprensa, da academia e de órgãos oficiais de todo o mundo.

O uso dos satélites da família Landsat data de 1987. Ao longo dessas décadas, o Brasil foi construindo sua credibilidade fundada na transparência dos dados. Hoje qualquer pesquisador pode acessar e verificar os dados do Deter-B e do Prodes. Todos os anos, sempre antes das reuniões internacionais da Convenção do Clima da ONU (Organização das Nações Unidas), o Brasil divulga seu Prodes. Essa medida reforça a disposição do Brasil em ver seus resultados analisados e discutidos em relação à redução dos efeitos de gases-estufa decorrentes do desmatamento. 

A ampla divulgação elevou, ao longo dos anos, a voz do Brasil em fóruns internacionais sobre meio ambiente. E ela foi acompanhada de medidas práticas. Desde 2004, quando o Deter entrou em operação, a área desmatada desabou de 27 mil km2 ao ano para cerca de 5 mil em 2016 —o país é considerado um dos que mais contribuiu para a redução de gases do efeito estufa no planeta.

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