Poluição luminosa ameaça os peixes-palhaços, diz estudo

Em testes, peixes expostos à luz durante a noite deixaram de se reproduz

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Pascale Mollard-Chenebenoit
Paris | AFP

Facilmente reconhecível por sua cor laranja com listras brancas e bordas pretas, o peixe-palhaço(Amphiprion ocellaris) enfrenta um inimigo crescente: a luz artificial. 

O litoral próximo aos recifes de coral, perto de onde esses peixes vivem, está cada vez mais exposto à iluminação do tipo LED devido à profusão de construções na costa e ao desenvolvimento de portos e cais, apontam os pesquisadores da Universidade Flinders (Austrália), autores de um novo estudo.

Na foto, há um peixe-palhaço nadando em um aquário. No fundo, desfocado, há um peixe amarelo de espécie não identificada
Peixes-palhaços sofrem com a poluição luminosa e podem deixar de se reproduzir se expostos por muito tempo à luzes de navios e portos - Flickr - Márcio Cabral de Moura

Navios de cruzeiro e hotéis flutuantes também contribuem para iluminar a superfície das águas marinhas. 
Para averiguar o impacto da luz artificial noturna nos peixes-palhaço, a equipe de cientistas estudou, em laboratório, dez casais reprodutores. Desses, cinco constituíam o grupo- controle e estavam expostos a uma luminosidade clássica, com uma alternância de dia e noite. 

Já os aquários dos outros cinco casais estavam iluminados do alto durante a noite com uma luz LED de intensidade moderada, comparável à que ilumina a superfície do oceano perto das orlas habitadas.

As primeiras etapas da reprodução ocorreram com normalidade. “Não houve diferenças significativas na frequência de óvulos entre o grupo- controle e o grupo submetido à luz artificial noturna”, aponta o estudo, publicado na Biology Letters (Royal Society). 

Normalmente, a eclosão de ovos ocorre na noite do oitavo dia, aproximadamente, mas, no caso dos ovos submetidos à luz artificial noturna, a taxa de eclosão foi de 0%. Não houve nenhuma descendência. 

“Nosso estudo mostra claramente que a poluição luminosa tem o potencial de interferir no sucesso reprodutor dos peixes-palhaço”, disse Emily Fobert, pesquisadora associada em biodiversidade e conservação da Universidade Flinders e coautora do estudo. 

Os cientistas não estudaram o mecanismo preciso que inibiu a eclosão dos peixes-palhaço na presença da luz artificial à noite. “Mas pensamos que esses ovos nunca experimentaram a escuridão, o que poderia ser um sinal necessário para ativar a eclosão”, disse Fobert. 

Ao contrário do que leva a pensar “Procurando Nemo”, o filme da Pixar produzido pela Disney em 2003, os bebês de peixe-palhaço não ficam na anêmona em que nasceram e que os protege de seus predadores, disse Fobert. “Podem encontrar uma nova casa a dezenas ou inclusive centenas de quilômetros de seus pais.”

A poluição luminosa afeta 23% da superfície terrestre, sem contar os polos, segundo um estudo de 2016. E 22% das regiões costeiras experimentam em diferentes graus a iluminação artificial, segundo outro estudo publicado em 2014.

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