Desmatamento na Amazônia em julho cresce 278% em relação ao mesmo mês em 2018

Divulgação de dados do Inpe sobre aumento da destruição tem irritado governo Bolsonaro

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São Paulo

O desmatamento na Amazônia em julho deste ano teve crescimento de 278% em relação ao mesmo mês do ano passado. Os dados são do Deter (Detecção do Desmatamento em Tempo Real), sistema do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que visa ajudar o Ibama a combater o desmatamento.

Em junho deste ano, o Deter apontou crescimento de 90% no desmatamento em relação a junho de 2018.

Os dados do Deter que mostram o crescimento da destruição na Amazônia abriram uma crise entre o Inpe e o presidente Jair Bolsonaro (PSL), que culminou com a exoneração, na última sexta, do diretor do instituto, Ricardo Galvão.

Bolsonaro se mostrou irritado com a divulgação dos dados e chegou a afirmar que Galvão poderia estar a "serviço de alguma ONG". Galvão defendeu os dados de desmate do instituto e respondeu aos ataques pessoais de Bolsonaro. "Ele [Bolsonaro] tem um comportamento como se estivesse em botequim", disse Galvão, no dia 20 de julho. 

 

O governo Bolsonaro continuou a atacar os dados do Inpe. Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, e Marcos Pontes, ministro da Ciência e Tecnologia, se manifestaram contra informações do desmate produzidas pelo Inpe.

Na segunda, Bolsonaro afirmou que “maus brasileiros” divulgaram "números mentirosos" sobre o desmatamento na floresta Amazônica.

Pontes, também na segunda, anunciou um militar, Darcton Policarpo Damião, para a direção interina do Inpe.


CRONOLOGIA DAS CRÍTICAS AO INPE E AO SEU DIRETOR, DEMITIDO

19 de julho 
O presidente Jair Bolsonaro questiona dados de desmatamento do Inpe e diz que Ricardo Galvão poderia estar a “serviço de alguma ONG”. O presidente diz que conversaria com o diretor do Inpe

20 de julho 
Galvão fala ao Jornal Nacional que Bolsonaro “tem um comportamento como se estivesse em botequim” e que os ataques são como “uma piada de um garoto de 14 anos que não cabe a um presidente da República fazer”

21 de julho 
Bolsonaro recua, diz que não falará com Galvão e que não quer propaganda negativa do Brasil.
Galvão diz à Folha que poderia até ser demitido, mas que o Inpe não poderia ser atingido.
Diretores de institutos de pesquisa entregam carta ao ministro Marcos Pontes (Ciência) pedindo que ele interceda junto a Bolsonaro por Galvão e pelos dados de desmate

22 de julho 
Pontes, em rede social, diz que compartilha da “estranheza” de Bolsonaro quanto aos dados de desmate.
Bolsonaro afirma querer que os dados passem por ele antes da publicação, para não ser “pego de calças curtas”

26 de julho 
Durante reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Pontes defende que dados do desmate não sejam divulgados como ocorre hoje. Os dados são públicos e podem ser acessados por qualquer cidadão

31 de julho 
Reunião entre Salles, Pontes e representantes do Ibama e do Inpe. Galvão participaria, mas é desconvidado de última hora. Salles diz que dados do Inpe não são corretos e que instituto reconhece o problema. Inpe nega afirmação

1º de agosto 
Em entrevista coletiva com Salles, com o chanceler Ernesto Araújo e com o ministro-chefe do GSI, general Augusto Heleno, Bolsonaro diz que dados do desmate foram “espancados” para “atingir o nome do Brasil e do atual governo”. Presidente diz que vai contratar empresa para fazer monitoramento do desmate

2 de agosto 
Galvão é exonerado por Pontes. Em rede social, ministro agradece Galvão e encerra mensagem com “abraços espaciais”

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