Além do perfil militar, que tem tido preferência nas nomeações do governo, o diretor interino do Inpe, Darcton Policarpo Damião, anunciado pelo governo nesta segunda-feira (05), tem um currículo que o qualifica tecnicamente para o comando do órgão, de acordo com cientistas ouvidos pela Folha. Há receio, no entanto, de que ministro não cumpra protocolo de escolher direção a partir de lista tríplice.
O oficial da Força Aérea Brasileira (FAB) acumula especializações em instituições brasileiras e também estrangeiras, como as universidades de Harvard e Michigan, segundo seu currículo Lattes.
Com MBA em gestão empreeendedora pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), Damião fez mestrado em sensoriamento remoto pelo próprio Inpe e doutorado pela Universidade de Brasília, onde produziu uma tese sobre técnicas de análise de projeções de desmatamento na Amazônia.
Na banca que avaliou a tese de doutorado estava a hoje vice-presidente do IPCC (sigla em inglês para Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU), Thelma Krug.
A cientista, que também é pesquisadora do Inpe, aprova a escolha do diretor interino. “Aluno disciplinado e dedicado”, segunda ela.
“Pelo menos interinamente, o Inpe terá uma pessoa que conhece a instituição e os dados produzidos sobre desmatamento”, disse Thelma à Folha, em meio à plenária do IPCC que discute o próximo relatório sobre mudanças climáticas, a ser divulgado nesta semana.
“É incrível o número de pessoas qualificadas que questionam um tema tão relevante como mudança do clima e a contribuição das atividades humanas para o aquecimento observado”, ela acrescenta, em referência a uma declaração de Damião para o jornal O Globo sobre não estar convencido da comprovação do aquecimento global.
“Não o conheço, mas vejo que tem perfil de gestor e especialização técnica”, avalia Carlos Nobre, um dos principais climatologistas do país e que também já passou pelo Inpe.
Aviador graduado pela Academia da Força Aérea e atual diretor do Instituto de Estudos Avançados da FAB, Damião também teve passagens pela direção de empresas do setor de mineração.
Já dirigiu a área de tecnologia da Vale e também assumiu a direção de pesquisa e inovação da siderúrgica Usiminas.
Damião mantém um perfil antipetista no Facebook, onde compartilhou, em 2016, petições exigindo cassação do registro e extinção do Partido dos Trabalhadores e também cassação do mandato de Jean Wyllis, então deputado federal pelo PSOL.
Para além do perfil do diretor interino, a preocupação da comunidade científica, segundo Carlos Nobre, é a de que o ministro Marcos Pontes mantenha o protocolo seguido desde 1999 pelos institutos da pasta: a criação de um comitê de busca, com inscrição de candidatos e elaboração de uma lista tríplice para definição do próximo diretor do órgão.
“Este é o sistema e todos nós da comunidade científica estamos esperançosos que ele não mude”, diz Nobre.
Pontes afirmou na segunda-feira (05) que ainda não há um prazo para se chegar à lista tríplice. Para Nobre, o limite seria setembro de 2020, que marca o final do mandato estipulado para Ricardo Galvão, demitido na última sexta-feira.
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