Entrada do showbiz ajudou a alastrar repercussão sobre Amazônia pelo mundo

Análise de postagens no Twitter feita por pesquisador explica comoção global que se instalou nas redes

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São Paulo

A crise ambiental brasileira ganhou contornos internacionais nesta semana. Foi uma escalada de acontecimentos: o dia que virou noite, às 15h da segunda (19), em São Paulo, o aumento dos focos de incêndio de acordo com dados divulgados na terça (20), Bolsonaro acusando ONGs de serem as responsáveis pelas queimadas na quarta (21) e o acirramento das tensões bilaterais entre o presidente brasileiro e o francês Emmanuel Macron, na quinta (22). 

Troncos queimados em trecho de floresta amazônica perto de Porto Velho
Troncos queimados em trecho de floresta amazônica perto de Porto Velho - Ueslei Marcelino/Reuters

Esse movimento pode ser acompanhado pelas redes sociais e ficou evidente na quinta. Das 22h da quarta até as 12h da quinta, foram gerados 2, 5 milhões de tuítes sobre a Amazônia, sendo 949.445 em inglês, 698.943 em espanhol e 593.873 em português. No acumulado dos últimos sete dias, já são 10,2 milhões de postagens. 

Ou seja, a comoção se tornou global. 

“A escala é de outro patamar, como se fosse um terremoto, tsunami, atentado como o do Bataclan ou o incêndio na Notre Dame, ou seja, assuntos nos quais as pessoas depositam seu sentimento de perda na internet”, diz Fabio Malini, professor da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo) e especialista em extrações de dados do Twitter. 

Nesse tipo de evento, conta Malini, há um pico grande em um intervalo de tempo curto, que decai com facilidade. No caso da Amazônia, já são três dias de volume acentuado de publicações sobre o assunto.  

Há uma série de explicações para o fenômeno ter se alastrado pelo globo. 

A Amazônia desperta interesse há tempos e tem sido notícia no governo Bolsonaro desde sua campanha, com retórica agressiva contra fiscais do Ibama e o licenciamento ambiental. Depois de eleito, extinguiu o Ministério do Meio Ambiente, mas voltou atrás após ampla repercussão internacional e pressão do agronegócio brasileiro, que temia retaliações comerciais de outros países. 

Mais recentemente, Bolsonaro contestou dados científicos do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que apontaram aumento do desmate em junho e julho. Paralelamente, os governos da Noruega e da Alemanha cortaram verbas direcionadas à proteção da região, como a do Fundo Amazônia. 

A água estava sendo aquecida no caldeirão há algum tempo, mas entrou em ebulição com os acontecimentos recentes. 

A diferença dessa vez, segundo Malini, é como o "showbiz" se engajou com o assunto

“Quando esportistas e celebridades entram no assunto, explode a bolha política, que se concentra nos partidos, na mídia, ativistas, e costuma ser muito pequena, e a repercussão ganha outras proporções. Eles são o grande hub das redes sociais, mas geralmente entram por último, quando todo o resto já se manifestou”, afirma, referindo-se a Madonna, Leonardo DiCaprio, Cristiano Ronaldo e outros que comentaram o tema —muitos usaram fotos antigas ou tiradas em outros lugares

Outro ponto importante na análise de Malini é que, como o alarde foi tão gigantesco, com mesmo apoiadores de Bolsonaro se manifestando contrários ao desmate na Amazônia, ficou difícil qualquer tentativa de ganhar o debate pelo lado do governo. 

Até mesmo o uso de robôs não faria diferença nesse caso. “Quando há um movimento planetário, o comportamento de robôs entra em curto-circuito e passa a ser irrelevante”, diz Malini. ​

Apesar da entrada do mundo do entretenimento, o tuíte com mais engajamento foi feito por um usuário inglês de pouco mais de 200 mil seguidores na terça. 

Trata-se de um vídeo com queimada na beira de uma estrada e a legenda “um lembrete de que a floresta amazônica está em chamas há três semanas e por causa da pouca cobertura da mídia as pessoas não sabem. Ela é um dos mais importantes ecossistemas da Terra”.

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