Descrição de chapéu Amazônia sob Bolsonaro

Ministério Público Federal pede operação urgente da PF para proteger índios ameaçados no PA

Ameaças são resposta à retomada das áreas invadidas por dezenas de guerreiros xikrins no sábado (24)

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Cuiabá e Altamira (PA)

​O Ministério Público Federal (MPF) requisitou em caráter de urgência uma operação da Polícia Federal contra centenas de invasores da Terra Indígena (TI) Trincheira Bacajá (PA), que estariam se preparando para atacar aldeias da etnia xikrin.

 As ameaças são uma resposta à retomada das áreas invadidas por dezenas de guerreiros xikrins, no último sábado (24). No mês passado, grileiros desmataram e queimaram ilegalmente 15 km2 de floresta amazônica, segundo cálculo da ONG Imazon.

Área desmatada por grileiro dentro da Terra Indígena Trincheira Bacajá, no Pará
Área desmatada por grileiro dentro da Terra Indígena Trincheira Bacajá, no Pará - 27.08.2019 - Lalo de Almeida/Folhapress

"Ao Ministério Público Federal trata-se de conflito da mais alta gravidade, tendo em vista que houve ação por parte dos indígenas no sentido de expulsar os invasores de suas terras, após mais de um ano aguardando atuação policial na região”, escreveu a procuradora Thais Santi, em ofício enviado nesta segunda-feira (26), no qual pede que a ação fosse realizada em 24 horas.

A Folha tem procurado a assessoria da imprensa da PF por telefone e e-mail desde a segunda-feira, mas não houve resposta até a conclusão deste texto.

A reportagem sobrevoou a região na manhã desta terça-feira. Partindo de Altamira, a maior parte da TI é um grande tapete verde, à exceção de algumas aldeias. 

Na parte sul, porém, aparecem várias feridas de desmatamento recente, alguns em formato de lotes, perto do igarapé Prazer. Há um ramal (estrada) que adentra a terra indígena, com áreas desmatadas de ambos os lados.

Os xikrins têm denunciado a invasão de suas terras desde junho do ano passado. A PF abriu inquérito, mas até agora não houve nenhuma ação para retirar as centenas de grileiros.

A TI Trincheira Bacajá sofre forte pressão da pecuária, principal atividade econômica de São Félix do Xingu. É o quarto município do país com mais focos de incêndio neste ano: 2.062 ocorrências até segunda-feira (26), segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Trata-se de um aumento de 735% sobre o mesmo período do ano passado.

No fim de semana, a reportagem da Folha esteve nas aldeias próximas da invasão. A expedição dos guerreiros pela mata durou pouco mais de três dias. Eles voltaram com material confiscado dos barracos, incluindo uma motosserra, espingardas, utensílios domésticos e galinhas. 

Para as lideranças indígenas, declarações recentes do presidente Jair Bolsonaro contra demarcações, como as feitas nesta terça-feira, têm estimulado invasores. Os xikrins afirmam que os próprios grileiros citaram o mandatário durante a retomada das terras. 

Problema generalizado

Localizada na área de influência da usina hidrelétrica de Belo Monte, Trincheira Bacajá não é a única terra indígena sob pressão na região do médio Xingu, cuja principal cidade é Altamira, atual campeã em número de focos de incêndio, além de ser uma das mais violentas do país.

De janeiro até segunda-feira, o município acumulou 2.566 focos de calor, aumento de 459% sobre o mesmo período do ano passado, de acordo com o Inpe.

Vizinha a Trincheira, a TI Apyterewa, dos índios parakanãs, enfrenta uma invasão ainda maior. No mês passado, o desmatamento chegou a 28km2. Em 2015, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a desintrusão (retiradas dos invasores), mas até agora a decisão não foi cumprida.

Na mesma área contínua, a TI Ituna/Itatá perdeu 9 km2 de floresta no mês passado.  As três terras indígenas são as que mais registram desmatamento no país nas últimas semanas, sempre de acordo com o cálculo do Imazon.

“O que está acontecendo em Altamira é resultado da soma de uma ação e de uma omissão do governo brasileiro, que trouxe o impacto ao Xingu e depois se retirou daqui”, afirma a procuradora Santi.
 

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