Para salvar população de pinguins, subúrbio australiano some do mapa

Governo estadual comprou todas as propriedades na Península Summerland e devolveu terra aos animais

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Besha Rodell
Ilha Phillip (Austrália)

Assim que a claridade começa a sumir, milhares de pinguins-azuis saem das ondas em uma ilha no sudeste da Austrália, vão à praia e caminham para suas tocas.

O “desfile dos pinguins” é uma grande atração desde a década de 1920, quando turistas foram levados para ver a chegada noturna das aves —a menor raça de pinguins do mundo, com adultos de cerca de 33 centímetros.

Naquela época, eles viveram entre os moradores de um conjunto habitacional, na maioria casas modestas de veraneio, muito perto de carros e pets, bem como raposas vorazes —e o número de pinguins diminuiu rapidamente.

Mas, em 1985, o governo estadual tomou uma providência: decidiu comprar todas as propriedades na Península Summerland e devolver a terra aos pinguins. O processo foi concluído em 2010.

Hoje, as aves estão progredindo. Há cerca de 31 mil pinguins reprodutores na península, ante 12 mil na década de 1980. E o Parque Natural da Ilha Phillip é o destino turístico mais popular de vida silvestre no estado de Victoria. 

Penguins walk up from the shore at dusk on Phillip Island, Australia, July 10, 2019. An Australian state restored a habitat for the world?s smallest penguins by removing every home from a coastal development. (Asanka Brendon Ratnayake/The New York Times)
Pinguins-azuis fazem seu desfile na praia na Ilha Phillip - Asanka Brendon Ratnayake/The New York Times

A história da transformação do local, de um subúrbio costeiro a um hábitat de vida selvagem e ponto turístico internacional, é um caso incomum de visão de governo. Também reflete a dependência da indústria turística australiana em recursos naturais e silvestres, e as ameaças econômicas da degradação ambiental.

“O caso prova que decisões difíceis de curto prazo podem produzir grandes resultados a longo prazo”, afirma Rachel Lowry, diretora de conservação do WWF-Australia. 

A Ilha Phillip abriga a maior colônia mundial de pinguins-azuis. Mas a península também atraiu empreiteiras. No terreno de reprodução das aves, 190 estruturas —principalmente casas— foram construídas como parte do Summerland Estate, com planos para outras centenas.

Isso, junto à predação das raposas (agora erradicadas) que haviam sido introduzidas por colonos europeus, levou a uma queda acentuada na população de pinguins. Havia dez colônias, e hoje existe só uma.

No início dos anos 1980, cientistas estavam preocupados com a perspectiva de extinção local total. “A colônia estava sendo desgastada em ritmo assustadoramente rápido”, conta Peter Dann, gerente de pesquisa do Parque Natural da Ilha Phillip e um dos autores de um estudo que levou à recompra de propriedades.

Antes de 1985, o governo chegou a tomar medidas para suspender o desenvolvimento urbano e comprar terrenos não loteados. Mas a ideia de erradicar o Summerland Estate foi um choque para os moradores. 

Acredita-se que esse seja o único caso no mundo em que uma comunidade inteira foi comprada por um governo em prol da proteção ambiental e da vida selvagem.

Nesta semana, nove anos após a última propriedade ter sido adquirida e removida, uma demolição final começará: o antigo centro de visitantes e suas instalações serão esvaziados, liberando quase 25 mil m² de hábitat privilegiado —suficiente para cerca de 1.400 pinguins-azuis.
 

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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