Descrição de chapéu The New York Times

Enquanto a Amazônia arde, incêndios na Indonésia sufocam a outra metade da Terra

Milhares de incêndios criaram densas nuvens de fumaça que prejudicam transporte aéreo e causam doenças

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Richard C. Paddock Muktita Suhartono
Jacarta (Indonésia) | The New York Times

O Brasil capturou a atenção do planeta por conta de queimadas que estão calcinando a floresta amazônica, muitas vezes definida como o pulmão do planeta. Agora, a Indonésia está agravando a preocupação, com conflagrações para limpar florestas do outro lado do mundo.

Centenas de queimadas estavam acontecendo em Bornéo e Sumatra, duas ilhas da Indonésia, na terça-feira, produzindo densas nuvens de fumaça que prejudicaram o transporte aéreo, forçaram escolas a fechar e causaram doenças em milhares de pessoas. Os bombeiros, mal equipados, não foram capazes de controlar os incêndios.

As autoridades dizem que cerca de 80% dos incêndios foram ateados intencionalmente para abrir espaço para plantações de palmeiras, que produzem uma safra lucrativa que resultou no desmatamento de boa parte de Sumatra.

Fogo em área agrícola em Kampar, na ilha de Sumatra em 16 de setembro
Fogo em área agrícola em Kampar, na ilha de Sumatra em 16 de setembro - Adek Berry/AFP

Os incêndios causados pelas queimadas, que devastam florestas tropicais sensíveis onde vivem dezenas de espécies ameaçadas, imediatamente geraram comparações com as queimadas na bacia amazônica, que destruíram mais de 800 mil hectares.

"É assim que eles limpam a terra, usando o método mais barato, e que é conduzido por muita gente", disse Agus Wibowo, porta-voz da agência de combate a desastres da Indonésia.

Os incêndios na Indonésia e na Amazônia contribuem para a mudança do clima ao liberar dióxido de carbono, um importante gás causador do efeito estufa, na atmosfera, e ao destruir árvores e vegetação que removem essas emissões do ar.

Imagens aéreas mostram grandes nuvens de fumaça branca encobrindo vastas porções de Kalimantan, a parte indonésia de Bornéo. Tanto Bornéo quanto a ilha de Sumatra abrigam espécies de orangotangos ameaçadas de extinção.

A agência de combate a desastres identificou 2,9 mil focos de incêndio no território indonésio, entre os quais diversas conflagrações descontroladas nas ilhas de Sulawesi e Java e na província da Papua.

Os incêndios ocorrem anualmente nesta época do ano, a estação seca, e são há muito uma questão contenciosa entre a Indonésia e seus vizinhos, já que a fumaça se desloca e encobre Cingapura e partes da Malásia, entre as quais a capital, Kuala Lumpur.

Na terça-feira, Joko Widodo, o presidente da Indonésia, visitou uma das áreas mais fortemente atingidas em Sumatra e disse que o governo semearia nuvens, na esperança de causar chuva. Ele também disse que oraria por chuva.

Widodo instou os cidadãos a não atearem fogo e a apagar novas conflagrações imediatamente.

O presidente disse que 52 aviões de combate a incêndio haviam sido deslocados para as regiões afetadas em Kalimantan e Sumatra, cerca de um para cada 26 focos de incêndio identificados.

"Estamos falando de florestas de tamanho considerável, e de vastas regiões de turfa", ele disse a jornalistas. "Se há muitos incêndios como esses, a situação não é fácil. Portanto, peço a todos, a cada pessoa, que não queime terras, tanto florestas quanto turfa."

Na semana passada, o governo disse que havia fechado mais de duas dúzias de plantações depois que incêndios foram avistados em suas terras, entre as quais quatro em terras controladas por empresas da Malásia e uma em terras controladas por uma empresa de Cingapura. As empresas podem ser alvo de processo.

O chefe de gabinete do presidente, um general reformado chamado Moeldoko, causou controvérsia na semana passada ao tuitar afirmando que os incêndios eram um teste imposto por Deus.

"Todos os desastres vêm de Deus", ele escreveu, dando a entender que os incêndios não haviam sido causados por pessoas. "E o que precisamos fazer não é reclamar, mas tentar viver a situação com sinceridade e orar pela ajuda de Deus."

Ele mais tarde se desculpou.

Tradução de Paulo Migliacci

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