'Vocês roubaram minha infância, como ousam?', diz Greta na ONU

Jovem ativista afirma que líderes mundiais traíram sua geração pela falta de ação quanto à mudança climática

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Nova York | AFP

A adolescente ativista Greta Thunberg, 16, símbolo da juventude global que exige ação urgente contra a mudança climática, dirigiu-se ao plenário da cúpula do clima na ONU nesta segunda-feira (23) e acusou os líderes mundiais de terem traído sua geração através da falta de ação diante do aquecimento global.

"Você vem até nós, os jovens, em busca de esperança. Como ousam?", criticou. "Vocês roubaram meus sonhos e minha infância com suas palavras vazias, mas eu tenho sorte. Pessoas estão sofrendo, pessoas estão morrendo, ecossistemas inteiros estão entrando em colapso", disse.

"Eu não deveria estar aqui, deveria estar na escola, do outro lado do oceano", disse ainda, com a voz trêmula, ao ler seu discurso. "Mas os jovens estão começando a entender a traição de vocês."

 
Greta Thunberg durante discurso no Climate Action Summit da ONU, em 2019
Greta Thunberg durante discurso no Climate Action Summit da ONU, em 2019 - Carlo Allegri/Reuters

Cerca de 60 líderes se reúnem nesta segunda-feira na cúpula do clima na ONU sob pressão da juventude mundial que exige o fim da utilização de energias fósseis e a redução acelerada dos níveis de gases de efeito estufa.

"Estamos perdendo a corrida da emergência climática, mas ainda podemos vencê-la", disse o secretário-geral da ONU, António Guterres.

A cúpula deve revigorar as promessas do Acordo de Paris de 2015 e mostrar quem são os líderes que atuam no combate às mudanças climáticas, diz as Nações Unidas, que pediram "planos concretos e não apenas palavras". 

De acordo com um balanço feito pela ONU no início dos trabalhos, um total de 66 países prometeu às Nações Unidas alcançar a neutralidade do carbono até 2050.

Ao todo, 59 países anunciaram sua intenção de fortalecer suas metas nacionais para combater as mudanças climáticas até 2020, e outros nove iniciaram processos internos para tornar suas metas mais ambiciosas, disse a ONU, ao anunciar a criação de uma "Aliança de Ambição pelo Clima", que abrange todos esses países.

As nações anunciaram seus objetivos nacionais no Acordo de Paris de 2015 e, agora, vão revisá-los para cima.

O objetivo coletivo é reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa em pelo menos 45% até 2030 e, assim, preparar-se para alcançar a neutralidade de carbono em meados do século.

A Aliança foi anunciada pelo presidente do Chile, Sebastián Piñera, em preparação para a COP25 a ser realizada em Santiago, em dezembro. "Acabar com o carvão é uma prioridade", afirmou a ONU. 

Um grupo que busca eliminar o uso de usinas a carvão agora se expandiu para cobrir 30 países, 22 estados, ou regiões, e 31 empresas que se comprometeram a não construir mais novas usinas até 2020 e fazer a transição para energias renováveis.

Laurence Tubiana, presidente da Fundação Europeia do Clima, disse à AFP que a cúpula representa "o momento da verdade", mas enfatizou "a tensão entre os países que querem avançar para transformar seus objetivos em políticas verdadeiras e aqueles que não o querem".

Reunião sobre a Amazônia

Antes da cúpula começar, o presidente da França, Emmanuel Macron, a chanceler alemã Angela Merkel, o colombiano Ivan Duque e o chileno Sebastian Piñera se reuniram para discutir a situação na Amazônia. 

O Brasil, que possui 60% da maior floresta tropical do mundo, tenta convencer o mundo de que está com a situação sob controle, depois que o forte desmatamento e a propagação de incêndios florestais causaram uma crise internacional em agosto. 

"Há indícios de que o processo de 'savanização' já começou" em mais da metade da Amazônia, disse à AFP Carlos Nobre, um dos maiores especialistas em clima do mundo.

"Pode ser revertido? Acho que sim. Mas se o desmatamento continuar, se permanecer descontrolado, temos um enorme risco de perder a Amazônia. Será um suicídio", disse Nobre.

Durante a cúpula, que não contará com a presença do presidente americano Donald Trump —que retirou seu país do Acordo de Paris—, nem dos governantes do Brasil, China ou Austrália, os líderes também se encontrarão com jovens líderes, incluindo Thunberg, criadora das estudantis Greves das Sextas-feiras, que se espalharam por todo o mundo.

O Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e a ONG Conservação Internacional decidiram doar US$ 500 milhões adicionais para o reflorestamento da Amazônia e de outras florestas tropicais, anunciou a presidência francesa nesta segunda-feira. 

Um primeiro anúncio formal deve ser feito durante a reunião sobre a Amazônia.

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