Novo determina suspensão temporária da filiação de Ricardo Salles

Ministro será julgado por 'risco de dano grave e difícil reparação à imagem e reputação' do partido

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Beatriz Sanz Carolina Linhares
São Paulo | UOL

O Novo comunicou hoje a seus filiados a suspensão temporária de Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, de seus quadros. A informação foi divulgada a integrantes do partido e confirmada ao UOL pela assessoria da sigla.

A suspensão foi determinada pela Comissão Nacional de Ética Partidária, conforme artigos 19 e 72 do estatuto do Novo. Salles está suspenso até o julgamento final de denúncia apresentada perante a comissão, conforme requerimento protocolado em agosto.

 
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles - Adriano Machado/Reuters

"O Novo informa que a Comissão Nacional de Ética Partidária, no exercício de suas atribuições, conforme determina o Estatuto do Novo nos artigos 19 e 72, inciso V, suspendeu, em caráter liminar, a filiação do Sr. Ricardo de Aquino Salles, conforme previsto no § 2º, alínea 'b' do art. 21 do Estatuto, até o julgamento final da denúncia apresentada perante a comissão", diz o comunicado.

Conforme o estatuto do partido, Salles vai a julgamento por "risco de dano grave e difícil reparação à imagem e reputação do Novo".

"Entendemos que Salles tem atuado com grande convicção na adoção de condutas divergentes com os programas do partido Novo no tema ambiental, demitindo profissionais qualificados, desdenhando de dados científicos e revogando políticas públicas sem debate prévio", escreveu no Twitter em agosto o deputado estadual Chicão Bulhões (Novo-RJ), um dos autores do pedido. 

O requerimento para a suspensão também foi assinado por Marcelo Trindade, que foi candidato a governador do Rio pelo Novo, e por Ricardo Rangel, que concorreu a deputado federal.

Chicão à época disse que Salles não tem agido de acordo com o que pregava o programa ambiental de João Amôedo, presidenciável do Novo, que tinha medidas para evitar queimadas e desmatamento. 

O deputado diz ainda que cabe uma averiguação do partido sobre as condutas de Salles. "Principalmente porque ele tem uma condenação em primeira instância por improbidade administrativa, embora ainda caiba recurso e defesa na segunda instância."

Também à época da elaboração do requerimento, o líder na Câmara dos Deputados do partido, Marcel van Hattem (Novo-RS), disse que o documento não teria fundamentação e que divergência política não é motivo para expulsão e que considerava que Salles vinha fazendo um bom trabalho. "Existe uma série de políticas que estão sendo implementadas que estão em consonância com o que defende o Novo", afirmou. 

Em agosto, Chicão disse à Folha que não deve haver expulsão por divergência política, mas que não é caso de Salles. "No meu entender, há fatos objetivos que precisam ser averiguados pelo partido. É grave uma condenação por improbidade."

Naquele mês, em nota, o partido afirmou que Salles não foi uma indicação da legenda para o cargo e que, portanto, não representa a instituição. "O ministro foi escolhido e responde ao presidente Jair Bolsonaro", diz o texto.

Salles se candidatou a deputado federal em 2018, mas não foi eleito. Antes de ocupar o cargo de ministro do Meio Ambiente, foi secretário estadual do Meio Ambiente em São Paulo, entre 2016 e 2017, na gestão Geraldo Alckmin (PSDB). 

Críticas ao ministro também foram feitas por outros deputados do Novo, ​como o deputado estadual Daniel José (Novo-SP).

Ele cobrou autocrítica de Salles e tuitou: "Pra você entender se ele representa os valores do Novo e de seus filiados, ele fez uma das campanhas mais caras e ficou longe de ser eleito. [...] Dito isso, o problema nem é a política em si, é a postura do ministro de desdenhar de todo mundo que o confronta... De negar qualquer um que tenha outra visão. Ali, vale apenas uma verdade. A dele. Não é isso que o Novo cultua...".

Segundo Chicão, a "postura inadequada" de Salles e seu "histórico de constrangimentos" representam dano à reputação do Novo.

"Atitudes como essa reduzem a capacidade de interlocução do país com seus pares internacionais e geram instabilidade. Isto, por si só, já constitui violação dos princípios e valores do partido Novo, que prega a atuação ética e profissional dos agentes públicos!", tuitou o deputado.. 

Na nota do Novo, o partido declarou que Salles é apenas um dos seus filiados e que não exerce atividade partidária e nem tem cargos no partido.

"Não há qualquer interferência ou participação do partido na gestão do Ministério do Meio Ambiente. O ministro não mantém nenhum contato com o partido quanto aos seus planos, metas e objetivos para a pasta. Só temos conhecimento das suas ações quando divulgadas publicamente", disse o partido.

No texto, o Novo cobrava que Salles baseie as políticas públicas em dados, fatos e evidências. "Os mandatários do Novo no Legislativo e Executivo têm atuado com equilíbrio, diálogo e baseado suas políticas públicas e propostas em dados, fatos e evidências. Esta é a postura que esperamos de todos os membros do atual governo, em especial daqueles que são filiados ao Novo, como o ministro Ricardo Salles."

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