Óleo atinge a baía de Todos-os-Santos, na Bahia, a maior do país

Manchas foram vistas na areia, em pedras e corais; governador critica ministro do Meio Ambiente

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Salvador

O óleo que há 45 dias atinge as praias do Nordeste chegou nesta quinta-feira (17) à baía de Todos-os-Santos, maior baía do Brasil e segunda maior do mundo.

Manchas de óleo foram identificadas na faixa de areia e em cima de pedras e corais nas praia de Jaburu, Tairu e Cacha Pregos, no município de Vera Cruz, na Ilha de Itaparica.

As praias costumam ser usadas por pescadores e marisqueiras que vivem em povoados vizinhos, já que são formadas por corais onde se escondem os animais marinhos.

O avanço do óleo na baía preocupa ambientalistas e autoridades, já que a região é repleta de manguezais que são berçário de espécies marinhas. Também na baía desemboca um dos rios mais importantes da Bahia, o Paraguaçu.

Em entrevista à imprensa nesta quinta-feira, o governador Rui Costa (PT) criticou a atuação do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, frente à chegada das manchas de óleo no litoral baiano e afirmou que ele só veio à Bahia “para posar numa foto na beira da praia”.

Salles esteve em Salvador nesta quarta-feira (16), quando se reuniu com o comando local da Marinha e fez um sobrevoo pelas praias da região.

“Se reúne em sigilo, posa para foto na praia e vai embora. Nenhuma ligação deu. Mostra o descaso, desrespeito”, afirmou o governador.

Segundo Costa, caberia ao ministro reunir-se com governador e prefeitos das cidades atingidas para apresentar quais providências estão sendo tomadas pelo governo federal. 

O superintendente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis) na Bahia, Rodrigo Alves, afirmou que o órgão já havia acionado preventivamente um plano de emergência em Itaparica para eventuais desastres ambientais.

O plano inclui o governo e empresas que atuam na região, como a Petrobras e gestoras de terminais portuários.

Desde sábado (12), a chegada do óleo à baía vem sendo monitorada diariamente pela Marinha do Brasil. A atenção foi redobrada para evitar que o óleo avançasse sobre as regiões com ecossistema mais sensível.

“Nosso principal foco, no momento, é saber se existe risco de o óleo chegar às áreas mais sensíveis e qual resposta pode ser dada”, afirmou à Folha.

Professor da Faculdade de Biologia da UFBA (Universidade Federal da Bahia), Francisco Kelmo lembra que a baía de Todos-os-Santos é uma área de grande preservação e um dos principais repositórios de biodiversidade do litoral brasileiro.

“As consequências serão catastróficas. As autoridades precisam se mobilizar com muita velocidade para fazer a remoção e impedir que o óleo que está na superfície vá para o fundo da baía, onde existem muitos manguezais”, afirma.

O biólogo Ícaro Moreira, professor do departamento de Engenharia Ambiental da UFBA, destaca que parte das manchas tem chegado pela superfície, o que possibilita uma contenção por meio da instalação de barreiras. Duas semanas após o óleo ter chegado à Bahia, nenhuma barreira do tipo foi instalada na foz de rios atingidos como o Itapicuru, Imbassaí, Pojuca e Joanes.

O professor ainda afirma que a chegada do óleo às regiões de mangue pode resultar em impactos no médio e longo prazo, já que partículas microscópicas do petróleo impregnam na lama e são absorvidas por animais como ostras e caranguejos.

“Esses peixes e mariscos, que são muito consumidos pela população baiana, se tornarão fontes de contaminação”, afirma Moreira.

O prefeito de Vera Cruz, Marcus Vinícius Marques Gil (MDB), afirma que servidores da prefeitura e voluntários de entidades ambientais estão nas praias para recolher o óleo. E afirma que as equipes estão tendo dificuldades, já que as manchas atingiram recifes e corais: "É um trabalho muito mais complexo".

Ele destacou ainda o impacto socioeconômico da chegada do óleo na região, já que a maior parte das comunidades da contracosta da ilha sobrevive da pesca e da mariscagem. E cobrou do governo federal um plano emergencial para atender esses trabalhadores. 

Na manhã desta quinta-feira (17), as manchas de óleo já haviam chegado às praias de Ondina e à região do Farol da Barra, no limite da entrada da baía de Todos-os-Santos.

Pequenas pelotas de óleo foram identificadas nas duas praias, que ficam em regiões de grande interesse turístico e junto a um dos principais circuitos do Carnaval.

Com o avanço das manchas, chega a 11 o número de regiões do litoral de Salvador já atingidas pelo óleo, atingindo toda a faixa da orla atlântica.

Outras praias que já haviam sido atingidas receberam uma maior quantidade de óleo na manhã desta quinta. Foi o caso, por exemplo, das praias de Stella Maris e praia da Pedra do Sal, em Itapuã.

“Estamos preocupados com estas duas áreas, pois o óleo chegou em uma textura mais líquida  e está concentrado no meio das pedras, o que dificulta o trabalho de coleta”, afirma o secretário municipal da Casa Civil, Luiz Carreira.

Ele diz que é necessária uma ação rápida para evitar que os sedimentos voltem ao mar com o avanço da maré durante a tarde.

Ao todo, 405 agentes da Limpurb, empresa municipal de limpeza urbana, estão atuando na retirada do óleo. Grupos de voluntários também tem ajudado na coleta do material.

Até a manhã desta quinta, foram retiradas das praias de Salvador 26 toneladas de óleo. Somente na quarta-feira, 22 toneladas foram retiradas em oito horas.

Os primeiros vestígios de óleo começaram a chegar a Salvador na terça-feira (10), mas até então em pequenas quantidades. Antes desta quinta-feira, haviam sido recolhidos apenas 37 quilos do óleo.

Viu manchas de óleo no litoral do Nordeste? Mande seu relato para a Folha ​ ​ ​

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