Óleo atinge cidades dentro da região de Abrolhos, no sul da Bahia

Manchas ainda não atingiram parque nacional, um dos principais berços de biodiversidade marinha do Atlântico Sul

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Salvador

Pequenas quantidades de óleo foram registradas nesta terça-feira (29) nas cidades de Canavieiras, Belmonte e Santa Cruz Cabrália, que ficam no sul da Bahia, dentro da chamada região de Abrolhos.
 
A região de Abrolhos é a macro área que se estende desde a o litoral da cidade de Canavieiras, na Bahia, até São Matheus, no Espírito Santo.
 
É dentro dela, na altura do município de Caravelas, que fica o Parque Nacional dos Abrolhos, considerado principais berços de biodiversidade marinha do Atlântico Sul.

 
Até o momento, não foram registradas manchas dentro do parque, mas o óleo já chegou a praias que estão uma distância de cerca de 160 km em linha reta.
 
Criado pelo Governo Federal em 1983, o Parque Nacional de Abrolhos é a primeira unidade de conservação marinha do país e abriga as cinco ilhas do Arquipélago de Abrolhos.
 
A área concentra alguns principais bancos de corais do litoral brasileiro, incluindo espécies ameaçadas de extinção com os corais-de-fogo. Também registra cerca de 1.300 espécies de plantas e animais, incluindo as baleias-jubarte, que buscam as águas calmas do santuário para o acasalamento.
 
Além do Parque Nacional de Abrolhos, a região possui três reservas extrativistas (Canavieiras, Corumbau e Cassurubá), além de unidades de conservação municipais como o Parque Marinho Recife de Fora, em Porto Seguro, e o Parque Marinho da Coroa Lata, em Santa Cruz de Cabrália.
 
“É uma situação temerária, uma tragédia. Pelo ritmo que o óleo está descendo, não vai demorar a chegar à área do parque nacional”, afirma o biólogo Gustavo Duarte, pesquisador da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que pesquisa sobre corais da região de Abrolhos.
 
Nesta segunda-feira (27), foram identificados os primeiros registros de manchas em uma região próxima à Reserva Extrativista de Canavieiras, área rica em manguezais e recifes de coral. Pescadores da região retiraram cerca de 40 quilos de óleo das praias.
 
Nesta terça, a Marinha confirmou a chegada de pequenas pelotas de óleo a praias da cidade de Belmonte. A organização não governamental Conservação Internacional já confirma manchas em Santa Cruz Cabrália, cidade que faz divisa com Porto Seguro. 
 
A região já atingida fica próxima ao banco de Royal Charlotte, que fica na altura do município de Canavieiras e também integra a chamada região de Abrolhos. A área é um prolongamento da plataforma continental e atrai peixes de grande porte. Por isso, é um dos principais pontos de pesca esportiva do país.
 
Na avaliação do biólogo Gustavo Duarte, ainda falta um plano de emergência consolidado para chegada do óleo à região de Abrolhos. Ele afirma que, sozinhos, os municípios da região não terão condições de enfrentar o problema a contento.
 
Além das manchas que chegam à faixa de areia da praia, também é alvo de preocupação o óleo que, por sua densidade, afunda e se mistura com os sedimentos dos recifes. Difíceis de remover, eles se misturam ao ecossistema e podem ter consequências profundas e duradouras no meio ambiente.
 
“De um lado você tem o efeito visível, mas também há um efeito subterrâneo deletério com impactos no longo prazo”, afirma Duarte.
 
Além do impacto da provável chegada do óleo, a região de Abrolhos já vinha registrando um cenário de morte em massa de corais, sobretudo da espécie coral-de-fogo, resultado de anomalias climáticas.
 
Pesquisa realizada pela UFRJ e AquaRio (Aquário Marinho do Rio) em junho deste ano revelaram a morte de 90% dos corais-de-fogo da região, incluindo colônias de mais de 80 anos. 

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