Sem informar critérios, ministro do Turismo diz que praias estão aptas ao banho

Afirmação é contestada por bióloga; secretaria de PE diz que 19 pessoas relataram problemas de saúde

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Recife

O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, declarou na tarde desta sexta-feira (25) que as praias do Nordeste que já foram limpas das manchas de óleo estão aptas a receber turistas. Ele não soube, porém, informar quais critérios técnicos utilizou para embasar a afirmação.

Ele ressaltou que, nos locais onde ainda há resquícios de petróleo, a população precisa aguardar.

Veja quais praias foram atingidas:  https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/10/veja-quais-praias-foram-atingidas-pelas-manchas-de-oleo-no-nordeste.shtml

Vestindo calça jeans, o ministro tirou o tênis, molhou os pés na água do mar da praia de Muro Alto, atingida pelas manchas há uma semana, e disse que levaria sem problemas a família para o local.

Ministro Marcelo Álvaro vai a Porto de Galinhas avaliar efeito do óleo no turismo
Ministro Marcelo Álvaro vai a Porto de Galinhas avaliar efeito do óleo no turismo - Genival Paparazzi/Agência O Globo

Muro Alto fica no litoral sul de Pernambuco, vizinha da famosa Porto de Galinhas, maior destino turístico do estado. Durante a visita, o ministro usava uma camisa com o nome da praia.  

Questionado insistentemente durante coletiva para apontar dados que assegurassem que não havia risco para as pessoas que entrassem no mar em locais onde o óleo já havia sido removido, o ministro não respondeu e cobrou responsabilidade da imprensa.

“Se menos de 10% das praias foi impactada, a gente (precisa) tratar de uma forma responsável do ponto de vista de divulgação”, disse.

 

O secretario de Turismo de Pernambuco, Rodrigo Novaes, chegou a interromper a resposta do ministro para tentar auxiliá-lo. Lembrou que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, tinha declarado nesta quinta-feira (24) que não haveria problemas em tomar banho de mar onde o óleo não estivesse visível. O governo de Pernambuco fez a mesma recomendação. 

Já a bióloga Mariana Guenther, professora do Instituto de Ciências Biológicas da UPE (Universidade Federal de Pernambuco), alega que, mesmo sem mancha visível, as pessoas não devem entrar na água.

Ela explica que o material é altamente tóxico e uma parte dele está sedimentado no fundo do mar. “Os locais precisariam ser interditados até que se faça uma análise da água”, diz.

A pesquisadora explicou que a análise que indica o índice de balneabilidade das praias, comumente feita por órgão ambientais, não se aplica a esse caso. Nesses exames é levada em consideração apenas a contaminação da água por coliformes oriundos de esgotos.

A Secretaria Estadual de Saúde comunicou que foi notificada sobre a ocorrência de 19 pessoas no litoral sul do estado em estado de intoxicação que relataram náusea, tonturas e ardência nos olhos.

Pesquisadores do CPRH (Agência Estadual de Meio Ambiente) em parceria com a UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) coletaram amostras de água em vários pontos do litoral. O resultado do diagnóstico químico, no entanto, só deve ser divulgado no próximo mês pela complexidade que envolve a análise.

No litoral sul, o ministro do Turismo afirmou que é preciso separar o que é mito e o que é realidade. “A realidade são praias limpas, são banhistas frequentando naturalmente o mar, é isso que a gente tem visto aqui. Praias cheias.” 

Marcelo Álvaro Antônio anunciou a liberação de uma linha de crédito no valor de R$ 200 milhões do Fungetur (Fundo Geral do Turismo) para pequenos e médios empresários da região que se sentirem impactados pelo efeito negativo da poluição. O governo federal também deve promover campanhas publicitárias para minimizar o impacto negativo no turismo da região.

A Adesc (Associação para Desenvolvimento Sustentável da Praia dos Carneiros) informou que um laudo realizado por laboratório certificado atesta que a praia está sem óleo.

Um outro exame para verificar a presença de hidrocarbonetos também será encomendado. A expectativa é de que o resultado seja divulgado na próxima semana.

Questionado sobre a insinuação do Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, de que a ONG Greenpeace estaria envolvida no vazamento, o comandante de operações navais da Marinha, Leonardo Puntel, disse apenas que tudo estava sendo devidamente investigado.

“O inquérito está aberto e todas as possibilidades estão sendo investigadas”, declarou.

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