Fechado após ser atingido por óleo, parque de Abrolhos é reaberto para visitação

Arquipélago localizado na costa baiana ficou fechado desde o dia 1º; óleo que chegou ao local não afetou a biodiversidade marinha, diz ICMbio

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São Paulo

O Parque Nacional de Abrolhos, um dos principais berços de biodiversidade marinha do Atlântico Sul, foi reaberto para visitação na manhã desta sexta-feira (8).

Abrolhos já estava fechado no dia 1º quando as autoridades confirmaram no dia 2 (último sábado) a presença de fragmentos de óleo na praia norte da Ilha de Santa Bárbara, uma das cinco que formam o arquipélago. 

Em nota, o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) informou que o parque foi reaberto porque não foram encontrados mais fragmentos de óleo no local. Segundo Fernando Repinaldo Filho, chefe do parque, os vestígios identificados não produziram impacto negativo direto à fauna e à flora.

“São pequenas pelotas de óleo do tamanho de uma moeda", disse na ocasião o vice-almirante Silva Lima, comandante do 2º Distrito Naval. "A quantidade é muito pequena, não vejo um quilo.”

A previsão do ICMbio era reabrir o local só na próxima quinta-feira (14).

O parque marinho de Abrolhos
O parque marinho de Abrolhos - Tatiana Azeviche/Setur

Ao longo desta semana, navios, fragatas e corvetas da Marinha, além de uma grande embarcação da Petrobras, atuaram no monitoramento e na contenção da chegada do óleo na região.

Criado pelo Governo Federal em 1983, o Parque Nacional de Abrolhos é a primeira unidade de conservação marinha do país e abriga ilhas do Arquipélago de Abrolhos.

A área concentra alguns principais bancos de corais do litoral brasileiro, incluindo espécies ameaçadas de extinção com os corais-de-fogo. Também registra cerca de 1.300 espécies de plantas e animais, incluindo as baleias-jubarte, que buscam as águas calmas do santuário para o acasalamento.

Até o momento, ao menos 409 pontos da costa nordestina foram atingidos por manchas de óleo em 104 cidades dos nove estados da região. Abrolhos fica na Bahia.

A CULPA É DO PT, DIZ MINISTRO

Convidado a explicar na Câmara, nesta última quarta-feira (6), as ações do governo para combater o vazamento de óleo que atinge o litoral nordestino, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, culpou as administrações do PT pela fragilização de órgãos ambientais no Brasil e pelas dificuldades de resposta do Estado em situações de crise.

“Grande parte dos problemas enfrentados sobre materiais ou dificuldades orçamentárias decorre de uma coisa: nós recebemos um estado quebrado. Quebrado graças às políticas cujos alguns partidos estão representados aqui [na Câmara], que resultaram inclusive na prisão do presidente Lula e de tantos outros líderes políticos dessa corrente doutrinária”, declarou Salles.

Alegando “não querer politizar” o debate com parlamentares da oposição, Salles disse ainda que a “ineficiência, a corrupção e a malversação dos recursos públicos” dos governos do PT “não nos legaram um estado pronto para responder”.

Foram recolhidos 4.300 toneladas de óleo, incluído areia e pedras que se juntam ao material nas praias. Salles disse ainda que o governo federal adotou todas as medidas possíveis para fazer frente à crise e prestou o auxílio aos estados e municípios atingidos. 

Ele citou a distribuição de 12 mil kits de proteção distribuídos para estados, municípios e voluntários que trabalham no recolhimento do óleo encontrado nas praias, além da liberação do seguro-defeso para pescadores afetados pelo produto. Salles também afirmou que desde o início o governo tomou as medidas para identificar qual o tipo de óleo que chega às praias brasileiras. 

“A resposta do Estado brasileiro e dos estados e municípios tem sido a resposta que é possível dar numa causa de acidente que ainda não é conhecida”, disse o ministro.

Ele afirmou ainda que o óleo que atinge o litoral brasileiro é de origem venezuelana e que o Brasil solicitou informações àquele país, por meio da OEA (Organização dos Estados Americanos), para tentar identificar quem poderia ter comprado o produto. No entanto, alegou o ministro, ainda não houve resposta do órgão internacional.

Salles também comentou a decisão do governo Jair Bolsonaro (PSL) de extinguir dois comitês que integravam o PNC (Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Água). Segundo Salles, os comitês não tinham sido constituídos e o próprio PNC nunca foi publicado. 

As afirmações de Salles foram contestadas pelo deputado João Campos (PSB-PE), que levou à sessão uma ata da terceira reunião do Comitê Executivo do PNC. 

“Nessa reunião de 2018 foi aprovado o manual do Plano Nacional de Contingência. Quando o senhor fala que nenhum comitê existiu, a gente está com uma ata oficial da terceira reunião do comitê. Então ele existiu, sim. A nossa retórica não é mentirosa como o senhor disse. A sua retórica é mentirosa”, disse o deputado. 

No mesmo documento levado pelo parlamentar, há ainda menção à realização, em setembro de 2017, de um simulado com a participação de representantes do Comitê de Suporte do PNC —outro órgão extinguido por Bolsonaro.

A audiência pública na Câmara foi realizada em conjunto pelas comissões de Trabalho e de Integração Nacional. Salles deixou a sala pouco depois das 14 horas sob a justificativa de que tinha outro compromisso, o que levou a protestos de parlamentares da oposição. 

Dona de navio suspeito nega responsabilidade

Na última sexta (1º), a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão em duas empresas na cidade do Rio de Janeiro ligadas à companhia Delta Tankers Ltd., proprietária do navio mercante Bouboulina, de bandeira grega, indicado como origem do derramamento de óleo na costa do Nordeste brasileiro. 

O navio, segundo a PF, havia atracado na Venezuela em 15 de julho e permanecido no local por pelo menos três dias. "O navio seguiu rumo a Singapura, pelo oceano Atlântico, vindo a aportar apenas na África do Sul. O derramamento investigado teria ocorrido nesse deslocamento", diz nota.

Apesar disso, ainda não se sabe a quem pertencia o óleo transportado. A PF aponta que seguirá investigando o caso. 

A empresa Delta Tankers, proprietária do Bouboulina, disse que não foi contatada pelas autoridades brasileiras que investigam a origem do vazamento e nega que sua embarcação seja responsável pelo vazamento.

Além disso, na quarta (6), a Delta Tankers comunicou que o governo brasileiro solicitou informações de cinco navios (de cinco empresas diferentes) às autoridades gregas. São eles: Maran Apollo (Maran Tankers), Maran Libra (Florian Marine), Boubulina (Delta Tankers), Minerva Alexandra (Minerva Marine) e Cap Pembroke (Euronav).

As duas empresas no Rio de Janeiro que foram alvos de mandados de busca e apreensão pela Polícia Federal, a Lachman Agência Marítima e a Witt O´Brien´s Brasil, negaram vínculos com o navio investigado.​

 
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