Descrição de chapéu The Washington Post

Austrália lança legumes de helicóptero para animais isolados por incêndios

Cenouras e batatas-doces choveram dos céus para alimentar bichos cujo habitat foi destruído

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Kim Bellware
Washington | The Washington Post

Milhares de quilos de batatas-doces e cenouras choveram dos céus sobre o estado australiano de Nova Gales do Sul na semana passada, em um esforço para alimentar espécies ameaçadas como o wallaby de cauda cerdosa (Petrogale penicillata) cujas fontes de alimento foram destruídas nessa devastadora temporada de incêndios na Austrália.

A operação conduzida por helicópteros foi a mais ampla tentativa de alimentar os wallabies ameaçados já realizada, informou Matt Kean, ministro do meio ambiente da Nova Gales do Sul, em comunicado, no domingo.

“Os wallabies tipicamente sobrevivem ao incêndio, mas depois ficam isolados e com alimentos naturais limitados porque o fogo destrói a vegetação em torno de seu habitat rochoso”, disse Kean. “Os wallabies já estavam sofrendo com a seca prolongada, o que torna a sobrevivência sem assistência um desafio para a espécie.”

A ajuda ao wallaby é o mais recente esforço das autoridades australianas e organizações conservacionistas para salvar o que é possível em um dos habitats mais diversos —e agora mais devastados — do planeta. Estima-se que os incêndios tenham causado a perda de mais de um bilhão de animais, e cientistas alertam que espécies de mamíferos, aves, insetos, fungos e plantas podem ter sido exterminadas antes mesmo de serem descobertas e catalogadas.

Mesmo os animais que sobreviveram aos incêndios continuam em risco. "Se seu habitat tiver sido destruído, não faz diferença", disse Manu Saunders, pesquisador e ecologista entomológico da Universidade da Nova Inglaterra em Armidale. “Eles morrerão de qualquer maneira.”

Em meio a cenas que trabalhadores assistenciais descreveram como “apocalípticas”, as paisagens queimadas estão repletas de carcaças de animais. O custo dos incêndios para a vida natural australiana continua a ser desconhecido. No entanto, a crise levou o primeiro-ministro Scott Morrison a alterar ligeiramente a política do seu governo quanto ao clima, depois que os incêndios causaram a morte de 27 pessoas e devastaram uma área equivalente à do estado de Pernambuco, no Brasil. 

Mudança de postura na política

Em uma entrevista no final de semana à Australian Broadcasting Company, Morrison reconheceu o impacto da mudança no clima sobre os incêndios, que exacerbaram os verões quentes e secos do país, que criam condições ideais de combustão.

“A mudança do clima obviamente afetou os verões, que se tornaram mais longos, quentes e secos. É essa a informação que recebemos. Não estamos contestando. Essa é a posição do governo, certo? Que não haja disputa a respeito, esse é o ponto”, disse Morrison.

No entanto, o primeiro-ministro não chegou a pedir por cortes significativos nas emissões de poluentes ou a tomar providências que algumas pessoas dizem podem ter consequências econômicas negativas para o setor de energia do país.

Ele tentou distanciar a posição do governo quanto à mudança no clima da postura cética e favorável ao setor de carvão mantida pela coalizão de centro-direita de seu Partido Liberal e por alguns membros de seu gabinete. O primeiro-ministro assistente Michel McCormack, por exemplo, declarou em novembro que as únicas pessoas que vinculavam os incêndios à mudança do clima eram “lunáticos desvairados das zonas urbanas”.

O primeiro-ministro buscou defender os preparativos do governo para enfrentar a temporada de incêndios, reagindo a críticas de que ele não tomou iniciativas preventivas, considerados os alertas graves feitos por chefes de corpos de bombeiros locais e pela Home Affairs, a agência federal australiana que lida com desastres naturais e emergências, no sentido de que a temporada incêndios seria de uma intensidade sem precedentes.

Em entrevista coletiva no mesmo dia, Morrison declarou, sobre as emissões de poluentes atmosféricos australianas, que “o governo estabeleceu suas metas, e vamos tentar cumprir e superar essas metas”, ainda que tenha enfatizado, na entrevista anterior, que não queria comprometer empregos do setor carvoeiro ou elevar os custos da energia para os consumidores.

O primeiro-ministro disse que pediria o estabelecimento de uma comissão formal de inquérito para estudar os incêndios.

Morrison reconheceu que suas reações iniciais aos incêndios tentaram minimizá-los. Ele foi fortemente criticado por viajar de férias ao Havaí em dezembro enquanto os incêndios varriam seu país, e admitiu para a Australian Broadcast Corporation que isso foi um erro.

“Em retrospecto, eu não teria feito aquela viagem, sabendo o que sei agora”, ele disse.

Tradução de Paulo Migliacci

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