Descrição de chapéu The New York Times

Satélite permite que cientistas vejam derretimento na Antártida como nunca antes

Dados ajudarão pesquisadores a compreender perda de gelo e impacto no aumento do nível do mar

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Kendra Pierre-Louis, Henry Fountain e Denise Lu
The New York Times

A Antártida pode ser uma enorme extensão de gelo, mas não é monolítica. Pesquisadores sabem há muito tempo que, embora o continente como um todo esteja perdendo massa, com a mudança climática ele ganha gelo em certas áreas enquanto perde em outras.

Dados de um novo satélite oferecem a imagem mais precisa já obtida do gelo da Antártida e onde ele se acumula mais rapidamente, em partes do leste do continente, e onde desaparece em ritmo mais rápido, no oeste e na península Antártica.

A informação, em um trabalho publicado na quinta-feira (30) na revista Science, ajudará os pesquisadores a compreender melhor o principal fator da perda de gelo na Antártida, o adelgaçamento das plataformas de gelo flutuantes, que permite que mais gelo flua para o oceano, e como isso vai contribuir para aumentar o nível do mar.

Helen Fricker, uma autora do trabalho, disse que os cientistas tentam estudar a ligação entre as plataformas que se afinam e o que é chamado de gelo aterrado, mas foram prejudicados porque a maioria das observações eram de um ou de outro, e feitas em momentos diferentes. "Agora temos tudo no mesmo mapa, o que é algo realmente poderoso", disse Fricker, glacióloga no Instituto Scripps de Oceanografia em La Jolla, na Califórnia.

O Satélite de Gelo, Nuvem e Elevação terrestre, ICESat-2, foi lançado em 2018 como parte do sistema da Nasa de observação da Terra, para substituir um satélite anterior que forneceu dados entre 2003 e 2009. O ICESat-2 usa um altímetro a laser, que dispara pulsos de fótons divididos em seis feixes em direção à superfície da Terra a cerca de 500 quilômetros abaixo.

Dos trilhões de fótons em cada pulso, só alguns refletidos são detectados no retorno ao satélite. A medição extremamente precisa do tempo de viagem desses fótons fornece dados de elevação da superfície com precisão de alguns centímetros.

"É melhor que qualquer instrumento que já tivemos no espaço antes", disse outro autor, Alex Gardner, glaciólogo no Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa em Pasadena, na Califórnia. A resolução é tão alta que ele pode detectar rachaduras e outras pequenas características na superfície do gelo, disse ele.

Os pesquisadores usaram as medições de elevação dos dois satélites para determinar como o equilíbrio de massa na Antártida —a diferença entre acúmulo e perda— mudou de 2003 a 2019 em cada uma de suas 27 bacias de drenagem. De modo geral, eles relataram que o continente perdeu gelo suficiente para elevar o nível do mar em seis milímetros durante esse tempo, descoberta que é coerente com outros estudos.

A perda de gelo se limitou à Antártida Ocidental e à península Antártica; a placa maior na Antártida oriental ganhou massa durante esse período. Por que a parte oriental está ganhando massa não é totalmente compreendido, mas a precipitação provavelmente aumentou em relação a algum ponto no passado, disse Gardner. A precipitação maior na forma de neve causa o aumento da massa da camada de gelo, porque a neve se comprime com o tempo e se transforma em gelo.

As plataformas de gelo flutuantes representaram 30% da perda de gelo na Antártida Ocidental, segundo os pesquisadores. O gelo flutuante se perde de duas maneiras: dando origem a icebergs e derretendo por baixo, devido a uma corrente profunda de água mais quente que circula ao redor do continente.

O gelo flutuante, por definição, já está na água, por isso quando perde pedaços ou derrete não eleva o nível do mar. Mas as plataformas de gelo atuam como arrimo do gelo aterrado atrás delas; quando elas afinam, permitem que o gelo flua mais depressa. E quando o gelo antes aterrado alcança a água ele aumenta o nível do mar.

"Quando vemos mudanças na Antártida, especialmente no gelo aterrado, são causadas por mudanças no fluxo de gelo", disse Ben Smith, geofísico na Universidade de Washington e outro autor do estudo.

Os cientistas estão cada vez mais preocupados que a perda de gelo flutuante na Antártida Ocidental esteja causando um fluxo mais rápido do gelo aterrado na placa de gelo da região, e que uma parte da placa possa desmoronar ao longo de séculos, aumentando muito o nível do mar.

O estudo também examinou as mudanças na placa de gelo da Groenlândia. Ao contrário da Antártida, onde pouco gelo se perde com o derretimento na superfície e escorrimento, até dois terços do gelo da Groenlândia se perdem dessa forma.

Usando seus dados de elevação, os pesquisadores descobriram que a Groenlândia está perdendo em média 200 bilhões de toneladas de massa por ano, o suficiente para elevar o nível do mar em cerca de 8 milímetros durante o período do estudo. O número da perda de massa é aproximadamente semelhante a outras estimativas recentes.

O estudo é o primeiro a ser publicado usando dados do ICESat-2, que foi projetado para ter uma vida operacional de pelo menos três anos. Muitos outros estudos previstos deverão aumentar a compreensão das extensões geladas da Terra.

"A ciência da placa de gelo ainda tem muitas incógnitas", disse Gardner. Uma vantagem do ICESat-2, segundo ele, é a capacidade de medir mudanças em algumas das menores características da camada de gelo. Isso ajudará os cientistas a compreender melhor como as mudanças estão ocorrendo e aperfeiçoar as previsões de futuros impactos conforme o clima continuar mudando.

O ICESat-2, disse ele, "revela o processo de mudança, e sem compreender esses processos você não tem capacidade de fazer previsões".

"Ele realmente nos dá uma imagem unificada, incrivelmente nítida."

Texto publicado originalmente no The New York Times
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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