Temendo ameaças, ministro do Meio Ambiente faz licitação de R$ 1 milhão para carros blindados

Veículo para uso em Brasília deve ser SUV, 4x4 e com bancos de couro, segundo edital

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Brasília

Alegando ser alvo de ameaças, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, lançou nesta segunda-feira (1º) edital de licitação para locação de carros blindados no valor de pouco mais de R$ 1 milhão.

O carro para deslocamento em Brasília deve ser um SUV (veículo utilitário esportivo, na sigla em inglês) a diesel, com tração nas quatro rodas, câmbio automático, vidros e portas elétricos e banco de couro preto ou tom escuro, segundo especificações do termo de referência. Também é exigida central multimídia contendo, "no mínimo", câmera de ré e GPS integrados ao painel original de fábrica.

Além deste carro, identificado como veículo de representação, o edital inclui aluguel eventual de carros blindados com e sem motorista para uso nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Para estas localidades, as exigências são mais simples. Entre elas, "central multimídia MP3, contendo entrada auxiliar USB, entrada auxiliar MP3 player compatível com Ipod/Iphone, bluetooth, câmera de ré e sistema de navegação GPS". O custo estimado da contratação é de R$ 1.028.090,25.

"Ao desempenhar suas atividades laborais, o senhor ministro teve sua integridade física ameaçada, bem como a dos integrantes de sua comitiva​", argumenta o Ministério do Meio Ambiente (MMA) ao justificar a necessidade de carro blindado.

Sem dar detalhes, a pasta afirma que o primeiro episódio ocorreu em 27 de fevereiro do ano passado, no Parque Nacional do Pau Brasil, em Porto Seguro (BA). Também é citado um atentado contra órgãos da estrutura do Ministério do Meio Ambiente em Brasília, ocasião em que, de acordo com a pasta, Salles recebeu ameaças contra sua vida.

De acordo com o termo de referência da licitação, a PF apura os casos e orientou o MMA a "reforçar as medidas de segurança do senhor ministro".

A pasta cita ainda reportagem publicada pela revista Veja em 17 de maio. De acordo com a publicação, a Polícia Federal tentava descobrir a identidade dos integrantes de um grupo terrorista que ameaçava matar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e dois de seus ministros, Salles e Damares Alves (Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos).

"Assim, considerando que o transporte do ministro de Estado do Meio Ambiente é realizado sem batedores e/ou sem veículo batedor, seja por falta de pessoal e material, restringindo-se apenas a um veículo escolta, faz-se necessária que este tenha aumentada a sua capacidade evasiva", diz o texto.

Salles tem sido alvo de críticas constantes desde 22 de maio, quando veio a público vídeo de uma reunião ministerial no final de abril em que o ministro do Meio Ambiente defendeu que o governo federal aproveitasse a crise sanitária do novo coronavírus para "passar a boiada"e aprovar reformas infralegais, incluindo alterações ambientais.

Em seu discurso, Salles ressaltou que era hora da edição de medidas de desregulamentação e simplificação, uma vez que os veículos de imprensa estão, neste momento, concentrados na cobertura do combate à pandemia de Covid-19.

“Precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de Covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”, disse naquela reunião.

Entidades de proteção ao meio ambiente cobraram que o ministro deixasse o cargo após esta manifestação.

A Folha procurou o Ministério do Meio Ambiente para comentar a licitação, mas não houve resposta até a publicação desta reportagem.

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