Vídeo distorce dados sobre queimadas na Amazônia

Segundo material, Brasil é a nação que mais preserva áreas de vegetação nativa no mundo, o que é incorreto

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São Paulo

Um vídeo produzido pela AcriPará (Associação dos Criadores do Pará) que viralizou nas redes sociais usa informações distorcidas, fora de contexto ou dados questionáveis para afirmar que a Amazônia brasileira não está sendo alvo de queimadas e que o Brasil é o país mais sustentável do mundo na produção de alimentos. A peça, verificada pelo Comprova, também afirma que o Brasil é a nação que mais preserva áreas de vegetação nativa em todo o mundo, o que não está correto. Além de divulgado por diversos usuários na internet, o vídeo foi compartilhado pelo ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e pelo vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB), presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal.

O monitoramento feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostra um aumento de 11% no número de focos de queimada na Amazônia do início do ano até 14 de setembro em comparação com o mesmo período do ano passado. Dos 64.498 pontos de calor identificados na região em 2020, 49.792 ocorreram em agosto e setembro.

Embora o Brasil preserve 66,5% de cobertura vegetal nativa –dado usado corretamente no vídeo–, segundo o Projeto MapBiomas, o país perdeu 87 milhões de hectares de vegetação nativa desde 1985, considerando áreas que foram desmatadas e nunca recuperadas.

Imagem aérea mostra área verde pegando fogo; no canto inferior direito da foto, verde está todo queimado
Vista aérea de queimada na Amazônia, a cerca de 115 quilômetros de Manaus - Chico Batata - 4.ago.2020/AFP

O Brasil também está longe de produzir os alimentos mais sustentáveis do mundo: ocupa o 40º lugar entre 67 países no Food Sustainability Index, elaborado pela revista The Economist e pelo Barilla Center for Food & Nutrition. No quesito agricultura sustentável, o Brasil ainda perde posições no ranking, ficando na 51ª colocação.

O vídeo cita como fonte para a maioria dos dados mencionados a Embrapa Territorial, braço de análises geográficas da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). As informações da Embrapa Territorial já haviam sido questionadas no ano passado por um artigo divulgado na revista científica Environmental Conservation, publicada pela Cambridge University Press. Os autores do artigo afirmaram que alguns dados apresentados por Evaristo de Miranda, chefe da empresa pública, não apresentam referências científicas.

Nesta terça-feira (15), o vídeo foi retirado do ar após o Greenpeace Brasil notificar plataformas como Twitter, Facebook e YouTube que a peça usava imagens da ONG sem autorização.

Verificação

Em sua terceira fase, o Comprova verifica postagens suspeitas que tenham viralizado nas redes sociais que tenham ligação com políticas públicas do governo federal ou com a pandemia do novo coronavírus. O vídeo verificado aqui é um exemplo.

O Brasil vive uma série de problemas ambientais, principalmente em decorrência das queimadas que consomem a Amazônia e o Pantanal. Os 14 dias de setembro deste ano já registraram mais focos de incêndio na floresta amazônica do que em todo o mesmo mês no ano passado. Já o Pantanal —apontado como maior planície alagada do planeta e com um bioma que cobre Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bolívia e Paraguai— é vítima de um dos maiores incêndios da história.

O vídeo, publicado pelo usuário @Jouberth19, já foi assistido 38,8 mil vezes no Twitter. Também foi curtido 35,4 mil vezes e compartilhado por 9,9 mil usuários ao ser reproduzido nos perfis do Twitter do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e do vice-presidente, Hamilton Mourão.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

A investigação desse conteúdo foi feita por UOL, Jornal do Commercio e GZH e publicada na quarta-feira (16) pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 28 veículos na checagem de conteúdos sobre coronavírus e políticas públicas. Foi verificada por Folha, SBT, O Povo e Estadão.

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