Descrição de chapéu desmatamento

Indígenas pró-garimpo destroem equipamento de TV americana durante protesto no PA

Integrante da equipe, jornalista Pedro Andrade teve o rosto pintado; indígenas contrários à exploração ilegal de ouro divulgam manifesto

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Curitiba

Garimpeiros do povo mundurucu destruíram equipamentos de uma equipe de TV norte-americana durante um protesto em Itaituba (PA). O incidente faz parte da escalada da tensão na região entre indígenas favoráveis e contrários à exploração do ouro, uma atividade ilegal dentro de terras indígenas.

A equipe da Vice TV, incluindo o jornalista e apresentador brasileiro Pedro Andrade, foi hostilizada na última terça-feira (6) enquanto cobria o bloqueio do entroncamento da BR-163 com a BR-230 (Transamazônica).

O protesto, feito por garimpeiros mundurucus e não indígenas, exigia a legalização da atividade, uma promessa do governoJair Bolsonaro (sem partido).

Dias antes, no final de setembro, a Polícia Federal havia deflagrado a operação Bezerro de Ouro 2, que resultou na destruição de 20 maquinários de garimpos dentro do território mundurucu. Por causa do clima hostil, os policiais tiveram de usar gás lacrimogêneo. Em áudios de WhatsApp, garimpeiros discutiram fazer emboscada contra os agentes.

​Com microfone em punho, os mundurucus se revezavam com críticas aos jornalistas. “Vocês não podem pegar um avião e ficar filmando assim. Senão, as coisas vão ficar difíceis. Vocês pensam que é só vocês que têm o poder de mandar as ONGs, mandar avião, fazer isso? Não”, disse um deles.

“Se vocês forem lá na nossa aldeia, lá nós temos televisão, lá nós precisamos de voadeiras [lanchas], nós precisamos de carro, nós também precisamos comer comida boa, entendeu?”, prosseguiu o mundurucu, em vídeo que circula em redes sociais.

Pedro Andrade tentou apaziguar os ânimos. “Eu vim aqui ouvir a opinião de vocês, mas eu entendo, respeito perfeitamente o porquê de vocês estarem agindo desse maneira”, disse ao microfone. “Eu quero pedir desculpas caso a gente tenha atrapalhado. Mas eu não quero que o senhor ache que eu vim aqui para fabricar uma história.”

Presente no local, o antropólogo bolsonarista Edward Luz, que tem assessorado invasões de terras indígenas no Pará, ainda tentou convencer os mundurucus a falar com a Vice TV.

Foi em vão. Pedro Andrade e a equipe tiveram seus rostos pintados, e um dos mundurucus ordenou que a equipe colocasse os equipamentos sobre o asfalto. Em seguida, câmera e microfone foram destruídos a pauladas.

Na quarta-feira (7), os garimpeiros levantaram o bloqueio após negociação com a Polícia Rodoviária Federal, desafogando uma fila de caminhões de alguns quilômetros.

Indígenas pró-garimpo destruindo material de filmagem
Garimpeiros do povo mundurucu destruíram equipamentos de uma equipe de TV norte-americana durante um protesto em Itaituba (PA). O incidente faz parte da escalada da tensão na região entre indígenas favoráveis e contrários à exploração do ouro, uma atividade ilegal dentro de terras indígenas - Reprodução

No início de agosto, uma operação do Ibama contra garimpos provocou protestos de garimpeiros mundurucus durante a visita do ministro Ricardo Salles a Jacareacanga (PA), cidade próxima à Terra Indígena Munduruku.

No dia seguinte, a FAB levou de avião garimpeiros mundurucus para reuniões com autoridades federais em Brasília. O Ministério Público Federal (MPF) investiga a carona.

A bacia do rio Tapajós, onde está localizada a Terra Indígena Munduruku, é o epicentro da exploração ilegal de ouro no país. A atividade, financiada por não indígenas, é feita sobretudo por meio de PCs (retroescavadeiras).

O impacto ambiental é grande, com a destruição de margens e o assoreamento de igarapés e rios. Além disso, a atividade financia álcool, drogas e prostituição dentro do território indígena.

Apesar do estrago, o governo federal vem defendendo a legalização do garimpo e da mineração em terras indígenas. Em fevereiro, o presidente Jair Bolsonaro enviou ao Congresso um projeto de lei sobre o assunto.

Resistência ao garimpo

Na quarta-feira (7), cinco organizações mundurucus publicaram um manifesto condenando o garimpo ilegal. “Não aceitamos os poucos que são enganados pelos pariwat [brancos] e usam o nome do nosso povo. Não queremos regularizar atividades de destruição no nosso território”, afirma o texto, publicado na internet.

“As invasões do nosso território aumentaram e, com ela, a destruição em nosso território desde a chegada desse desgoverno e ainda mais após a visita do ministro do Meio Ambiente no nosso território. Somos a maioria dos mundurucus, estamos nas nossas aldeias e somos contra empreendimentos minerários e madeireiros em nosso território!”

Em agosto, indígenas do povo caiapó fecharam a mesma BR-163, mas para protestar contra a invasão de madeireiros e garimpeiros em seus territórios.

“Eu sempre fui contra a exploração de madeira e de ouro”, disse o cacique Raoni, do povo caiapó, em vídeo divulgado nesta quinta-feira (8). “Na minha terra, não vou permitir a entrada de madeireiros e garimpeiros.”

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