Descrição de chapéu pantanal

Salles defende um combinado de bois, fogo e produtos químicos para evitar novas queimadas no Pantanal

Ministro disse que só 6% do território do bioma está sob jurisdição da União

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Brasília

O ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) defendeu um combinado de bois, fogo controlado e produtos químicos para evitar novas queimadas no Pantanal, como as que atingem o bioma nos últimos meses.

Salles também criticou um excesso de medidas para proteger os biomas, afirmando que “proibição de tudo a qualquer momento” não é “preservação e sim exagero”.

O ministro do Meio Ambiente participou de maneira virtual de audiência da comissão especial do Senado, criada para acompanhar as queimadas e respostas governamentais no Pantanal.

Ao elencar as medidas que podem ser tomadas para evitar novas queimadas de grandes proporções, Salles reuniu um pacote de ações polêmicas. Defendeu novamente a tese do “boi bombeiro” —que afirma que o gado come ao capim e assim reduz a massa orgânica que propaga o fogo. Na semana passada, a ministra Tereza Cristina (Agricultura) havia defendido a mesma visão na comissão.

Também disse que o uso controlado do fogo, criticado por ambientalistas, não é usado por conta de algumas “visões” divergentes.

“Há medidas que nós podemos e continuaremos fazendo, para não só prevenir. Para isso, [devemos] fazer os aceiros, permitir a criação de gado no Pantanal, como forma de reduzir a massa orgânica, permitir que seja feita a queima controlada, o uso do fogo frio, e não ter isso como algo a ser indiretamente boicotado por algumas visões que não acreditam nesse formato”, disse o ministro.

“Por fim, a utilização do componente retardante de fogo também levou a uma discussão muito grande, de por que não se utilizar, uma vez que ele aumenta em cinco vezes a capacidade de resposta das aeronaves que lançam água?”, questionou.

“Portanto, há uma série de medidas que decorrem desse debate que se estabeleceu, que vai, como eu já disse, desde o uso do fogo frio, da queima controlada preventiva, ao tema da pecuária lá no Pantanal, do uso de retardantes e da aviação agrícola como complemento”, completou.

O ministro também voltou a falar sobre os planos de criação de uma brigada permanente para combater os incêndios no bioma.

Em setembro, houve aumento de 180% no número de queimadas na região do Pantanal, em comparação com o mesmo período do ano passado. É o mês com o maior número de ocorrências da história: 8.106.

A área atingida no ano chega a quase 40 mil km², o que corresponde a 26,5% de todo o bioma.

Ao defender suas medidas, Salles criticou o universo acadêmico, que encararia com seriedade apenas uma visão dos aspectos de preservação.

"O que não pode haver é um suposto grupo de cientistas ou da academia, que na verdade é uma visão unilateral ou unidimensional, só uma opinião, em geral uma opinião que é pela proibição de tudo a qualquer momento. Isso não é preservação, isso é exagero."

O ministro também buscou relativizar o papel do governo federal nas queimadas. Salles disse que o território sob jurisdição da União na região corresponde a apenas 6%, enquanto que o restante está sob responsabilidade de estados e municípios.

Salles também mencionou mais uma vez a questão climática, citando que a seca é uma das mais severas das últimas cinco décadas.

O ministro também foi questionado sobre um suposto viés das multas aplicadas pelo Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis), que deixariam criminosos impunes e penalizaria em excesso os produtores rurais.

Salles respondeu que um excesso de multas pode inviabilizar a economia na região, que resultaria em mais problemas ambientais.

“Se essas pessoas tiverem as atividades inviabilizadas por excesso de voluntarismo [de agendas do Ibama], ou de aplicação de regras de maneiras desequilibradas, vamos gerar mais pobreza”, avaliou.

As falas do ministro estavam em consonância com a opinião dos senadores. Em determinado momento, a audiência para discutir as queimadas se tornou um evento para defender a agricultura e pecuária na região.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) afirmou que os incêndios criminosos “queimam a honra do agronegócio”

“Eu não quero mais viver num tempo como vivi há 30 anos, em que nós, do agronegócio, éramos vistos como vilões, porque não somos”, disse a senadora.

“Poucos cuidam tanto do meio ambiente como o agricultor, o pecuarista, o homem pantaneiro e a mulher pantaneira, até por uma razão: se não for por amor, é pela dor, é porque sabem que se não cuidarem da terra, no ano seguinte não terão produtividade”, disse.

O ministro Salles concordou, assim como praticamente todos os demais senadores. “Já lá atrás, há vinte anos, já era debatida a importância de não se perseguir, não haver um caráter persecutório contra a pecuária no Pantanal, porque justamente o pecuarista, o homem pantaneiro, é quem contribui para o controle das queimadas, enfim, do equilíbrio desse importante bioma", declarou.

O único senador a discordar foi Fabiano Contarato (Rede-ES), que criticou duramente o ministro e fez coro às denúncias de “desmonte dos órgãos ambientais” durante a gestão de Salles.

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