Descrição de chapéu desmatamento

Incêndios no Pantanal não igualam recorde; marca está acima da média histórica, diz UFRJ

Reportagem anterior reproduziu dado incorreto que constava de sistema de monitoramento

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Curitiba e PORTO JOFRE (MT)

Versão anterior desta reportagem, publicada no dia 22/8, errou ao afirmar que a área queimada no bioma entre 1º de janeiro e 21 de agosto de 2021 equivale ao total devastado durante o mesmo período do ano passado.

O dado constava no site do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), usado pelo Ibama para o monitoramento dos incêndios no Pantanal. Em nota à imprensa, o laboratório informou que houve falha no sistema de acesso aos dados da Nasa (agência espacial norte-americana).

De acordo com os números revistos, desde o início do ano até sábado (21), a maior planície alagável do mundo já havia perdido 261.800 hectares para o fogo, o equivalente a dois municípios do Rio de Janeiro. A média histórica anual para esse período é de 248.500 hectares.

Em comparação com o mesmo período, configura o quarto ano mais crítico da série histórica do Lasa, iniciada em 2012.

A área queimada este ano, contudo, pode ser ainda maior. Uma análise do Instituto Centro de Vida (ICV), utilizando os mesmos dados de referência da Nasa, estimou que, até 21 de agosto de 2021, o fogo já destruiu 432 mil hectares do Pantanal.

Tanto o Lasa quanto o ICV calculam que, em 2020, cerca de 1,3 milhão de hectares foram queimados nesse período. Em todo o ano passado, o Pantanal perdeu 3,9 milhões de hectares para as chamas.

“Neste ano, o Pantanal secou mais do que o ano passado”, afirma Márcio Yule, 57, coordenador em Mato Grosso do Sul do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), do Ibama.

Segundo ele, a situação se deteriorou rapidamente nos últimos dias. “Até a última semana, estava bem tranquilo. Terminamos o mês de julho com 56% menos focos de incêndio do que no ano passado. Agora, este ano já está mais complicado.”

Diferentemente de 2020, quando os grandes incêndios se alastraram primeiro pelo Pantanal de Mato Grosso, neste ano a região mais crítica é o sul do Pantanal de Mato Grosso do Sul.

Neste domingo (22), o fogo chegou bem próximo da área urbana de Bela Vista (317 km de Campo Grande), cidade fronteiriça com o Paraguai, origem do fogo. Um paiol de munição do Exército teve de ser esvaziado por precaução.

De acordo com o comandante do Corpo de Bombeiros de Bela Vista, tenente Alex Fernandes, o combate ao fogo mobilizou colegas de outros municípios de Mato Grosso do Sul, militares do Exército, Polícia Militar Ambiental, Defesa Civil e até moradores. Ele afirmou que nenhum prédio foi atingido e que a situação foi controlada no final do dia.

Não muito longe dali, um forte incêndio na Terra Indígena (TI) Kadiweu mobilizou 50 brigadistas do Prevfogo de MS, a maioria indígena. Até sábado, 18% do território já havia sido devastado pelo fogo.

De acordo com Yule, as fortes geadas que atingiram o território kadiweu queimaram praticamente toda a vegetação, facilitando a propagação. A expectativa é de que a entrada de uma frente fria na quinta-feira (26) traga chuva e ajude a debelar o fogo na região.

Após a tragédia do ano passado, quando cerca de um terço do Pantanal foi devastado, as chuvas não foram suficientes para recuperar rios e inundar as baías e os corixos.

Em 20 de agosto, o rio Paraguai, o mais importante do Pantanal, atingiu 0,44 metro em Cáceres (MT), o nível mais baixo registrado no local. No mesmo dia de 2020, era de 0,70 metro. O nível médio para o período é 1,49 metro.

Nas últimas semanas, uma iniciativa financiada por doações de pessoas físicas formou dezenas de brigadistas no Pantanal com a estratégia de agilizar o combate ao fogo.

A ONG Instituto SOS Pantanal já capacitou 305 pessoas, espalhadas por 18 comunidades e 21 fazendas. A área de abrangência das 24 brigadas rurais é de 400 mil hectares. Oito dessas brigadas entraram em ação nos últimos dias, de acordo com a entidade.

“Percebemos que há muito a trabalhar na prevenção no campo e no monitoramento”, diz Leonardo Gomes, 34, diretor de relações institucionais da SOS Pantanal. “O objetivo é que as pessoas atuem de forma eficaz e com poucos recursos.”

Com a maior capilaridade, a meta é que as brigadas consigam entrar em ação de forma rápida, debelando um foco nas primeiras 24 horas para evitar que se alastre.

O treinamento também prevê que as novas brigadas possam atuar de forma integrada com órgãos públicos.

“Caso haja um deslocamento de bombeiros ou do Ibama, é totalmente diferente quando eles chegam a um território onde as pessoas sabem usar as ferramentas de localização e estão treinadas e equipadas”, diz Gomes.

Cerca de 70% do orçamento veio por meio de 22 mil doações de pessoas físicas, com uma média de R$ 50 per capita. Houve também ajuda de empresas e, recentemente, o projeto obteve mais recursos por meio da venda de obras doadas por artistas. O custo do treinamento e da compra de equipamentos para as brigadas comunitárias ficou em cerca de R$ 800 mil.

O repórter Lalo de Almeida viajou a Porto Jofre (MT) com o apoio do Documenta Pantanal.

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior desta reportagem dizia que a área queimada até agosto deste ano igualava recorde de 2020. O dado, que constava do site do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), estava incorreto. Texto e título foram alterados para refletir a correção feita no sistema de monitoramento.

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