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Projeto ensina práticas sustentáveis a carvoeiros de Minas Gerais

Com apoio de programa da ONU, iniciativa tenta aumentar rentabilidade e diminuir poluição do setor

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Belo Horizonte

Uma nova operação realizada em Minas Gerais reuniu profissionais com o desafio de levar tecnologia, reduzir a poluição e aumentar a produção de um setor conhecido pelos problemas ambientais: o do carvão vegetal.

Os participantes da iniciativa se autointitularam Carvoeir@s sem Fronteiras, em referência aos Médicos sem Fronteiras. Mas enquanto o projeto com origem na França acompanha o peso de crianças desnutridas, aplica injeções e faz testes para diagnósticos de doenças, a sua versão mineira cuida das condições de trabalho de quem lida com a fabricação do carvão, ajudando a reduzir a emissão de metano na atmosfera.

Engenheiro opera equipamento de controle de temperatura de forno para produção de carvão vegetal em Andrelândia (MG)
Engenheiro opera equipamento de controle de temperatura de forno para produção de carvão vegetal em Andrelândia (MG) - Divulgação

O carvão vegetal é produzido a partir da queima de madeira e é uma matéria-prima fundamental para o setor siderúrgico. O correto, segundo a legislação, é que ele seja produzido apenas a partir de árvores de reflorestamento, mas essa regra é muitas vezes desrespeitada, com o uso de madeira de florestas protegidas.

Na última segunda-feira (20), o MP-MG (Ministério Público de Minas Gerais) e a Polícia Militar deflagraram uma operação contra a produção, transporte e venda de carvão vegetal ilegal. Foram cumpridos 44 mandados de busca e apreensão em 17 municípios. O objetivo, segundo a Promotoria, era exatamente investigar o uso de carvão vegetal oriundo de vegetações nativas da Mata Atlântica.

Exatamente por esse histórico do setor, o trabalho dos Carvoeir@s sem Fronteiras envolve apenas carvão vegetal retirado de florestas plantadas. "Há dez anos desenvolvemos um software para melhoria do processo de produção do carvão vegetal e estamos rodando para implantar o projeto, transferindo tecnologia", contou o engenheiro mecânico Túlo Jardim Raad, 54, diretor da iniciativa.

O Carvoeir@s sem Fronteiras surgiu em 2018 a partir de uma empresa do próprio Raad e conta com o apoio do projeto Siderurgia Sustentável, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Segundo o engenheiro, o seu projeto já passou por 20 cidades da região, e a previsão é que ainda vá ao menos a mais 12 locais.

O primeiro procedimento das equipes do Carvoeir@s sem Fronteiras é reunir proprietários e trabalhadores das fazendas onde o carvão vegetal é produzido legalmente. Em seguida, conforme o especialista, é feito um diagnóstico de como a produção está sendo feita. "Muita gente ainda não tem conhecimento nenhum de como ocorre a transformação do carvão. Coloca a madeira dentro do forno e põe fogo", observou Raad.

Segundo ele, a temperatura dos fornos é o segredo para reduzir a emissão de metano e melhorar a rentabilidade do produto final. "O forno é como se fosse uma panela com arroz. Vai cozinhar a madeira. Pode sair boa ou ruim. Se aquece demais sai ruim e o produtor não consegue vendê-la", explicou.

A carvoeira Claudia, de Andrelândia (MG), se prepara para carregar forno para produção de carvão vegetal sustentável - Divulgação

O software desenvolvido pelo Carvoeir@s faz exatamente o acompanhamento da temperatura dos fornos. Além disso, os produtores também recebem um notebook e um medidor de temperatura que ajudam na tarefa.

"A partir daí é possível saber o perfil técnico do forno, e fazer uma simulação tanto da parte do rendimento como da qualidade", pontuou o especialista. Conforme Raad, o melhor carvão vegetal tem entre 70% e 77% de carbono concentrado. Nessa faixa, o produto tem níveis maiores de aproveitamento na siderurgia.

Pelo software é possível saber se a temperatura no forno precisa ser aumentada ou reduzida para que o carvão fique com esse percentual de pureza.

Trabalhadora do setor de carvão vegetal, Rayane Mara de Oliveira Paula, 29, passou pela consultoria dos Carvoeir@s sem Fronteiras e aprendeu a operar o software de acompanhamento de fornos.

Segundo ela, isso ajudou principalmente na saúde dos profissionais do setor. "A gente já não faz mais a descarga [retirada do carvão] com os fornos quentes. Não há mais aquele abuso de abrir forno quente", disse.

O estado de Minas Gerais é o maior produtor de carvão vegetal do país. O setor movimenta 5 bilhões de toneladas do produto por ano, com receita de aproximadamente R$ 5 bilhões. O estado tem mais de mil produtores de carvão vegetal e 20 mil trabalhadores atuando na área, diz o Carvoeir@s Sem Fronteiras.

Um desses produtores é Guilherme Freitas, 60, de Sete Lagoas, próxima a Belo Horizonte. Ele e o filho, de 17 anos, passaram pelo treinamento da Carvoeir@s sem Fronteira.

"Antes colocava 10 metros de madeira no forno e retirava 4 metros de carvão. Com o novo sistema a proporção mudou para 10 metros colocados e 6 metros retirados", afirmou o produtor.

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