China e Rússia rebatem críticas de Biden sobre compromisso climático

Primeiro e quinto maiores emissores mundiais de gases do efeito estufa afirmaram que levam a sério a emergência climática

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Anna Cuenca
Glasgow | AFP

China e Rússia, primeiro e quinto maiores emissores mundiais de gases do efeito estufa, afirmaram nesta quarta-feira (3) que levam a sério a emergência climática, em uma resposta às críticas do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na COP26, que inicia a fase de negociações complexas.

"Não concordamos com as acusações dos Estados Unidos", afirmou em Moscou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

Ele disse que a Rússia está adotando ações contra a mudança climática "coerentes, refletidas e sérias", apesar da ausência de seu presidente, Vladimir Putin, na reunião de cúpula de segunda-feira e terça-feira que reuniu quase 120 governantes mundiais na cidade escocesa de Glasgow, no início das duas semanas de conferência climática.

Em destaque, homem anda de bicicleta às margens do um rio. Ao fundo, se vê uma estação de energia soltando fumaça no ar
Homem passa de bicicleta pela estação de energia Wujing, à base de carvão, às margens do rio Huangpu, em Xangai - - Hector Retamal - 28.set.2021/AFP

O presidente chinês Xi Jinping também não viajou à Escócia e foi acusado por Biden de "dar as costas" ao "gigantesco" problema do aquecimento global que ameaça fugir do controle caso medidas contundentes não sejam adotadas de maneira imediata.

"Os atos falam mais que as palavras", respondeu em Pequim o porta-voz da diplomacia chinesa, Wang Wenbin, que criticou as "palavras vazias" do presidente americano.

Cancelada no ano passado devido à pandemia de Covid-19, a COP26 de Glasgow tem a difícil missão de desenvolver os compromissos adotados no Acordo de Paris de 2015, que estabeleceu como grande objetivo internacional limitar o aquecimento do planeta a +1,5ºC na comparação com a era pré-industrial.

Os cientistas advertem, no entanto, que com as medidas atuais a Terra se encaminha para um aumento de +2,7ºC, o que teria consequências caóticas, que incluem secas, inundações, aumento do nível do mar e o surgimento de milhões de refugiados climáticos.

Financiamento

Neste contexto, as negociações, estagnadas há vários anos em complexas questões técnicas como o funcionamento do mecanismo de mercado para comprar e vender direitos de emissão, se anunciam complicadas.

Na agenda, além da descarbonização acelerada da economia, está a questão da ajuda financeira, de US$ 100 bilhões por ano, prometida para 2020, mas que não foi concretizada, dos países ricos para as nações desfavorecidas e mais vulneráveis à mudança climática.

A quarta-feira é dedicada justamente ao financiamento e o ministro britânico da Economia, Rishi Sunak, prometeu que a COP26 reunirá os fundos prometidos.

"Sabemos que foram devastados pela dupla tragédia da Covid e da mudança climática", declarou aos delegados da conferência organizada pela ONU.

"Por isto, nós vamos cumprir o objetivo de proporcionar US$ 100 bilhões de financiamento climático às nações em desenvolvimento", prometeu.

Tanto Sunak como o presidente da COP26, o britânico Alok Sharma, e a secretária americana do Tesouro, Janet Yellen, destacaram nesta quarta-feira o papel importante que os investidores privados devem desempenhar, como um complemento imprescindível à ação pública.

"Falta de tecnologia apropriada"

"Ainda resta um longo caminho por percorrer", advertiu o primeiro-ministro britânico e anfitrião da conferência, Boris Johnson, que se declarou "prudentemente otimista" quando os líderes mundiais deixaram a COP26 e passaram o bastão aos negociadores.

Em uma tentativa de estimular o diálogo, os chefes de Estado e de Governo de cem países se comprometeram na terça-feira a reduzir em 30% até 2030, na comparação com os níveis de 2020, as emissões de metano (CH4), gás com efeito estufa 80 vezes mais potente que o mais conhecido CO².

Apesar da liderança dos Estados Unidos e da União Europeia, segundo e terceiro maiores emissores do planeta respectivamente, não aderiram à iniciativa a Índia (quarto emissor), nem China e Rússia, esta última gigante da extração de gás, com um elevado percentual de vazamentos de metano em seus gasodutos de distribuição para a Europa.

Xi Jinping se limitou a enviar uma mensagem por escrito à reunião de cúpula, publicada no site da conferência, sem a previsão sequer de um discurso por vídeo como fez o presidente russo.

"Há problemas climáticos muito, muito graves e não está disposto a fazer nada a respeito", criticou Biden em uma entrevista coletiva. "O mesmo acontece com Vladimir Putin", acrescentou.

A China é o país que mais investe em energias limpas, mas, como todos os países em desenvolvimento enfrenta "problemas práticos" para cumprir os "objetivos ambiciosos", afirmou Wang, que destacou a "falta de tecnologia apropriada".

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