Descrição de chapéu COP26 mudança climática

Coalizão de US$ 130 tri leva debate climático para o setor financeiro

Instituições financeiras anunciaram que se comprometem a assumir parte do esforço para livrar o mundo dos combustíveis fósseis

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Simon Jessop Andrea Shalal
Glasgow (Escócia) | Reuters

Bancos, seguradoras e investidores que juntos controlam US$ 130 trilhões afirmaram na quarta-feira (3) que vão pôr o combate à crise climática no centro de sua atuação e prometeram melhorar a qualidade dos investimentos na área ambiental.

As instituições financeiras responsáveis por cerca de 40% do capital mundial anunciaram que se comprometem a assumir uma "parte justa" do esforço para livrar o mundo dos combustíveis fósseis.

Faixa da COP26
Faixa da COP26 em Glasgow, na Escócia - Daniel Leal-Olivas - 29.out.2021 /AFP

O principal objetivo das negociações da COP26 (conferência da ONU sobre crise do clima, que está sendo realizada em Glasgow, na Escócia) é garantir dos países promessas suficientes para reduzir as emissões de gases do efeito estufa —principalmente provocadas por carvão, petróleo e gás—, mantendo a elevação da temperatura média global em 1,5 °C.

Mas a maneira de cumprir essas promessas ainda está em discussão e exigirá muito dinheiro.

O enviado da ONU sobre clima, Mark Carney, que criou a Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ) [Aliança Financeira de Glasgow para Zero Líquido], estimou a cifra em US$ 100 trilhões (R$ 560 trilhões) nas próximas três décadas e disse que o setor financeiro deve encontrar maneiras de levantar dinheiro privado para levar o esforço muito além do que os Estados sozinhos podem fazer.

"O dinheiro existe, mas esse dinheiro precisa de projetos alinhados a zero líquido [de emissões], e [assim] há uma maneira de transformar isto em um círculo virtuoso muito poderoso —esse é o desafio", disse o ex-presidente do Banco da Inglaterra na cúpula.

Os comentários de Carney refletem um problema frequentemente citado por investidores que, diante dos inúmeros riscos relacionados ao clima, precisam ter certeza de que eles sejam contabilizados de forma transparente e, de preferência, globalmente padronizada.

"Algumas das peças-chaves do quebra-cabeça financeiro estão agora se encaixando", disse Nick Robins, do Instituto Grantham de Pesquisas sobre Mudança Climática e Meio Ambiente.

Outra peça importante é de onde virá o dinheiro público para ajudar na transição da energia e da indústria intensivas em carbono. Na quarta-feira (3), os Estados Unidos disseram que apoiarão um mecanismo para levantar novos financiamentos para energia limpa e infraestrutura sustentável nos mercados emergentes.

A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, disse que os Estados Unidos vão se unir ao Reino Unido no apoio ao novo Mecanismo de Mercado de Capitais dos Fundos de Investimentos Climáticos (CIF na sigla em inglês), o que ajudará a atrair novos fundos climáticos privados significativos e forneceria US$ 500 milhões por ano para o Fundo de Tecnologia Limpa do CIF, assim como seu novo programa de investimento Acelerando a Transição do Carvão.

"Estou aqui porque a mudança climática não é apenas uma questão ambiental, não é apenas uma questão de energia. É uma questão econômica, de desenvolvimento e desestabilizadora de mercado, e eu não estaria fazendo meu trabalho se não a tratasse com a seriedade necessária", disse Yellen.

​Brechas

No entanto, outros não ficaram convencidos com o progresso da COP26.

"Essas manchetes felizes escondem uma série de brechas e oportunidades de retrocesso que não podemos permitir se quisermos evitar a degradação do clima", declarou a Fundação para Justiça Ambiental em um comunicado.

"Promessas de zero líquido não significam nada sem o desinvestimento em combustíveis fósseis. É hora de as instituições financeiras colocarem seu dinheiro onde é necessário e deixarem de financiar combustíveis fósseis que destroem o clima", acrescentou o presidente-executivo da ONG, Steve Trent.

Carney tem liderado um movimento para garantir que as instituições financeiras prestem contas e divulguem todos os riscos climáticos de seus empréstimos ou investimentos, forçando a economia em geral a precificar custos que até agora estiveram amplamente ocultos.

Isso inclui não apenas os efeitos diretos de eventos climáticos extremos, mas também qualquer perda de subsídios do governo para combustíveis fósseis, ou os custos ambientais e de saúde das emissões de gases do efeito estufa.

Kristalina Georgieva, presidente do Fundo Monetário Internacional, disse que é crucial incorporar dados climáticos aos relatórios macroeconômicos habituais.

O vice-presidente do Conselho de Estabilidade Financeira global, o holandês Klaas Knot, disse que há necessidade de um padrão mínimo global obrigatório de divulgação de riscos climáticos para a estabilidade financeira e a provisão de finanças sustentáveis.

A mudança nas instituições financeiras do setor privado foi elogiada pelo presidente da COP26, o britânico Alok Sharma. "O que vimos nos últimos anos é uma grande mudança no setor privado e no setor de serviços financeiros para se tornarem verdes... na década de 1990, claramente não era comum o financiamento climático, investir em verde. Acredito que hoje é a corrente dominante", afirmou ele.

O presidente do banco central da China, Yi Gang, disse que Pequim está trabalhando em um novo mecanismo de política monetária para fornecer fundos baratos a instituições financeiras que apoiem projetos verdes.

Jane Fraser, presidente-executiva do Citigroup, membro do GFANZ, disse que a iniciativa precisa de escala para funcionar. "Se vocês não trabalharem juntos, vão fazer muitos discursos bonitos, mas estarão... correndo o risco de se divorciar da realidade", disse ela.

Os investidores vão apoiar o lançamento de um organismo de padrões globais para evitar que as empresas passem uma imagem positiva de suas políticas climáticas e práticas de negócios em um mercado global que já atinge muitos trilhões de dólares para fundos voltados a meio ambiente, sociedade e governança.

"Se você não tem informações básicas em uma base globalmente comparável... aumenta enormemente os riscos de 'lavagem verde'", disse Ashley Alder, presidente do IOSCO, órgão global de reguladores de valores mobiliários.

O entusiasmo do setor privado para mobilizar investimentos favoráveis ao clima também precisa da garantia de que os governos estão definindo metas ambiciosas de redução de emissões, suficientes para cumprir o objetivo de 1,5 °C —o que talvez não aconteça até o final da COP26, em 12 de novembro.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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