COP entra em semana crucial com muitas pontas soltas

Evento começou com mais anúncios do que o esperado por analistas, mas ainda faltam ações concretas

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Anna Cuenca
Glasgow | AFP

A COP26 entra nesta segunda-feira (8) em uma semana crucial. Após o desfile de líderes e famosos, o otimismo do anfitrião Boris Johnson e o pessimismo de Greta Thunberg, 194 países tentarão superar divergências que há anos afetam a luta contra a mudança climática.

Na metade do encontro, o balanço é agridoce. "Em algumas coisas progredimos muito mais do que poderia imaginar há dois anos, mas está longe de ser suficiente", declarou Helen Mountford, do World Resources Institute.

Em destaque, se vê a faixa da COP26 com a ilustração da Terra e escrito: Un climate Change Conferende UK 2021. No canto direito da imagem, há uma mulher de máscara.
Faixa da COP26 em Glasgow, na Escócia - Daniel Leal-Olivas/AFP

A grande conferência anual da ONU sobre o clima, cancelada ano passado pela pandemia e organizada de 31 de outubro até 12 de novembro na cidade escocesa de Glasgow, registrou na primeira semana uma série de anúncios pomposos.

Países como Brasil, Argentina e Índia reforçaram suas metas de redução de emissões.

Mais de cem chefes de Estado e de Governo se comprometeram a cessar o desmatamento até 2030. Também anunciaram planos para emitir 30% menos de metano, gás com efeito estufa 80 vezes maior que o CO2.

Quase 50 países prometeram parar de usar carvão para produzir energia elétrica e centenas de entidades financeiras privadas ofereceram bilhões de dólares em créditos.

Para um porta-voz do governo do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que deseja se apresentar ao mundo como um campeão da luta contra o aquecimento global, houve um grande impulso à ação climática.

É algo incomum que uma reunião de cúpula do clima registre tantos anúncios em sua primeira semana, mas estes podem ficar apenas no papel, caso não sejam seguidos por ações concretas.

"Isto não é mais uma conferência do clima. É um festival de 'greenwashing' [fachadas ambientais, sem resultados concretos]", criticou Greta na sexta-feira, durante um protesto dos jovens nas ruas de Glasgow no fim de semana.

Após a presença de várias personalidades nos últimos dias, como os atores Leonardo Di Caprio e Idris Elba, o músico Robert Del Naja —conhecido como 3D—, líder do Massive Attack, ou a estilista Stella McCartney, nesta segunda-feira será a vez de Barack Obama.

O ex-presidente dos Estados Unidos assinou em 2015 o Acordo de Paris, que estabeleceu o objetivo mundial de manter abaixo de +2°C, e se possível de +1,5°C, o aumento da temperatura global. Uma ambição para a qual Glasgow deve estabelecer o conteúdo.

Obama discursará ao plenário de quase 200 delegações, que a partir desta segunda-feira contam com os ministros do Meio Ambiente para as negociações de questões paralisadas há vários anos.

Uma fonte diplomática reconhece que não se avançou em relação à transparência, ou seja, na criação de mecanismos para que todos possam vigiar o que os demais fazem.

Além disso, a ideia de um marco temporal comum, para que todos os países baseiem seus compromissos nos mesmos períodos de tempo comparáveis, havia oito opções na mesa. Agora são nove, um cenário apontado indecifrável para os ministros.

Outro grande obstáculo: o funcionamento dos mercados de carbono, que permitem vender e comprar direitos para emitir gases na atmosfera.

Ou simplesmente sua existência, à qual países como a Bolívia se opõem.

Os compromissos para 2030, com os quais os países chegaram a Glasgow, deixavam a Terra a caminho de um aquecimento de +2,7ºC, que teria consequências caóticas, incluindo secas, inundações, aumento do nível do mar e o surgimento de milhões de refugiados climáticos.

Rachel Rose Jackson, da ONG Corporate Accountability, denuncia que os países ricos "se apressam a descer pela escada de incêndio em vez de ajudar a apagar o incêndio que provocaram em nossa única casa", ao comentar a responsabilidade histórica das nações industrializadas na emissão de carbono, que já aumentou a temperatura em +1,1ºC na comparação com a era pré-industrial.

Em 2009, os países prometeram conceder US$ 100 bilhões por ano às nações em desenvolvimento a partir de 2020. Mais de uma década depois, a conta não fecha.

"Esta primeira semana foi uma decepção. A maioria das nossas preocupações não foi realmente considerada", declarou à AFP Ahmadou Sebory Touré, presidente do Grupo77+China, que reúne 134 países em desenvolvimento e emergentes.

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