Brasil e mais de cem líderes mundiais se comprometem a limitar o desmatamento

Acordo, anunciado na COP26, contará com fundos públicos e privados

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Taíssa Stivanin
RFI

O governo britânico divulgou nesta segunda-feira (1º) os detalhes de um acordo internacional com cem dirigentes mundiais para limitar e reverter o desmatamento nas próximas décadas. Entre os signatários estão o Canadá, a Rússia, o Brasil, a Indonésia e a República Democrática do Congo.

O biólogo brasileiro Roberto Waack, presidente do conselho do Instituto Arapyaú, e um dos porta-vozes da Concertação para a Amazônia, explicou à RFI Brasil os principais pontos do acordo assinado entre os dirigentes, que visa associar desenvolvimento e proteção ambiental.

"A Declaração das Florestas se insere no contexto do reconhecimento do valor das florestas para o mundo, para a atividade ambiental, para a geopolítica e para o desenvolvimento econômico", disse.

Área de floresta é atingida por incêndio em Novo Progresso (Pará) - Carl de Souza/AFP

Segundo ele, um dos pilares do documento gira em torno das ações políticas em prol da conservação. "O desmatamento não é algo aceitável nesse momento da humanidade e na sinalização futura para o aquecimento global."

Outros detalhes devem ser divulgados nesta terça-feira (2) sobre o acordo, que cita também a proteção dos povos indígenas. Para muitos representantes do setor, lembra o representante brasileiro, a meta de manter o aumento da temperatura em 1,5ºC só é possível protegendo as florestas e os povos que as habitam.

"É impossível imaginar essa meta sem a Amazônia ou a Amazônia sendo deflorestada", reitera.

Produção agrícola sustentável

O segundo pilar da Declaração das Florestas, afirma, se refere a uma visão "ampliada", de que apenas medidas de comando e controle do desmatamento não são suficientes. São necessárias, também, ações paralelas, voltadas para o desenvolvimento da produção agrícola e de alimentos sustentáveis.

"Deve haver o reforço da economia da produção de commodities aliada à conservação, o que é plenamente possível", defende.

"Não há outro país do mundo que esteja em uma posição tão interessante e de competitividade como o Brasil para aliar produção à conservação de commodities ambientais, e inserir isso em um contexto da produção de alimentos levando em conta tudo o estiver conectado com as externalidades negativas da produção, entre elas, o desmantamento", analisa.

"É possível produzir grandes quantidades de alimentos sem desmatar e o Brasil pode fazer isso. O setor empresarial sinaliza isso o tempo todo", defende. Esse objetivo envolve, como ele citou anteriormente, o rastreamento da produção e das cadeias de suprimentos.

Povos indígenas

O porta-voz brasileiro da European Climate também lembra que um dos pilares importantes do acordo assinado entre os dirigentes é o reconhecimento de que, nas florestas, existem e vivem comunidades muito importantes para o planeta, como as indígenas.

"É preciso que o sistema de desenvolvimento do mundo florestal tenha um processo de inclusão desse povos", diz. "É possível produzir e conservar em grande escala, com rastreabilidade."

Ele também cita o sistema financeiro, "que deve ser capaz de prover recursos para a conservação e restauração e, ao mesmo tempo, dar suporte para as comunidades das florestas e indígenas."

No acordo anunciado nesta segunda-feira (1º) doze países, entre eles a França, se comprometeram a mobilizar US$ 12 bilhões de fundos públicos entre 2021 e 2025 para conservação das florestas. Além desse montante, estão previstos US$ 7,2 bilhões de investimentos privados.

No acordo, cerca de US$ 1,1 bilhão também serão destinados para a proteção da bacia do Congo, que abriga a segunda maior floresta tropical do mundo.

Além disso, 30 instituições financeiras, que representam US$ 8.700 bilhões de ativos mundiais, se comprometerão a interromper os investimentos nas atividades que contribuem para o desmatamento.

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