Descrição de chapéu desmatamento

Mais de 9.000 espécies de árvores ainda não foram descobertas

Ao menos 40% dos exemplares desconhecidos existem apenas na América do Sul

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São Carlos (SP)

Mais de 9.000 espécies de árvores mundo afora ainda não foram devidamente descobertas e descritas por cientistas. Dessas, 40% existem apenas na América do Sul, principalmente na Amazônia e nas regiões entre a floresta e os Andes, afirma um novo estudo, que também estimou a totalidade de espécies arbóreas do planeta.

Segundo a nova conta, seriam 73 mil, número que já inclui as árvores ainda desconhecidas da ciência.

Uma fração significativa desse total, tanto entre as espécies já descritas quanto entre as que ainda precisam ser encontradas e estudadas, corresponde a árvores que provavelmente são raras, com população pequena ou restrita a áreas muito específicas do globo.

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Confluência do rio Itui com o rio Itacoai, no Amazonas - Lalo de Almeida - 18.jun.2021/Folhapress

Daí a importância da estimativa e da busca por essas espécies: o papel que desempenham em seus ambientes também é pouco compreendido, e elas são particularmente vulneráveis ao desmatamento e a outras alterações trazidas pela ação humana.

Os dados acabam de ser publicados em artigo na revista científica americana PNAS. Coordenado por Peter Reich, da Universidade de Minnesota, nos EUA, o trabalho contou com a colaboração de pesquisadores de dezenas de países mundo afora, entre eles cientistas de diversas instituições brasileiras.

Não é preciso usar bola de cristal para estimar quantas espécies de árvores ainda são desconhecidas. O ponto central do método envolve o cruzamento dos dados já registrados sobre a biodiversidade arbórea com o chamado esforço amostral, ou seja, o quanto uma área já foi estudada pelos cientistas.

"Imagine que você tem um gráfico com o número de árvores individuais no eixo X e o de espécies delas no eixo Y", explica Pedro Brancalion, professor do Departamento de Ciências Florestais da USP de Piracicaba e coautor do novo estudo.

"A curva desse gráfico, no começo, sobe com rapidez, e depois esse ritmo vai diminuindo, porque você já achou a maioria das espécies. Em regiões como o interior de São Paulo, por exemplo, mesmo que eu aumentasse muito o esforço amostral, a curva não mudaria tanto, porque a área já é bem conhecida. Mas há regiões onde essa curva não dá sinal de abaixar tão cedo, o que é um indício de que muitas espécies ainda podem ser descobertas."

Mesmo na Amazônia, lembra ele, o esforço amostral varia de forma significativa de lugar para lugar. Com exceção das expedições a locais mais distantes e isolados, que demandam grande investimento e esforço logístico, a tendência é que a amostragem se concentre ao longo dos grandes rios e de estradas.

Isso significa que muitas áreas da floresta ainda guardam uma significativa diversidade de árvores ainda não descrita.

A proporção de espécies não descobertas que provavelmente são sul-americanas espelha, grosso modo, a das espécies conhecidas da América do Sul, que correspondem a 43% do total mundial –o segundo lugar, bem atrás, é ocupado pela Eurásia, com 22% das espécies de árvores da Terra, segundo a pesquisa.

Estima-se que um terço do total global de espécies seja composto por árvores raras. Metade das espécies sul-americanas também é considerada endêmica, ou seja, não ocorre em nenhum outro continente.

As razões para a exuberância da América do Sul no que diz respeito às espécies arbóreas ainda não estão totalmente claras.

Entre os possíveis fatores pode estar a presença das maiores áreas contínuas de florestas tropicais (já que é nesse tipo de mata que a biodiversidade costuma ser maior) e a menor presença de perturbações ambientais (com menos impacto humano, já que a região foi colonizada pela nossa espécie mais tardiamente do que outros continentes, e também um clima tropical mais estável ao longo de dezenas de milhões de anos).

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