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Mundo está em 'espiral de autodestruição' com pensamento otimista, diz ONU

Em relatório, Brasil é citado em meio a potenciais quebras de sistemas de produção de alimentos

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São Paulo | AFP

Ações humanas e a crise climática —que também é responsabilidade do ser humano— contribuíram para o aumento das catástrofes no mundo, adverte a ONU em novo relatório divulgado nesta terça-feira (26). Para a entidade, o mundo está numa "espiral de autodestruição" e, ao mesmo tempo, existe uma percepção errônea de otimismo e invencibilidade, que subestima os riscos de desastres, ou seja, uma gestão inadequada de riscos.

O Brasil é citado no como uma das importantes áreas de produção de alimentos no mundo e os riscos sistêmicos associados a problemas nessas regiões —problemas esses que já foram demonstrados recentemente, especialmente durante a atual pandemia de Covid e secas.

Morro com deslizamento e pessoa passando em frente
Vista do morro da Oficina, em Petrópolis, no Rio de Janeiro, que sofreu com deslizamento e mortes de pessoas após chuvas intensas - 21.mar.2022 - Eduardo Anizelli/Folhapress

O relatório foi publicado nesta terça (26) pelo escritório das Nações Unidas para a Redução dos Riscos de Catástrofes. O documento mostra que entre 350 e 500 catástrofes de média e alta magnitude ocorreram a cada ano nas últimas décadas, o que representa um aumento em relação a décadas anteriores.

Nessa conta entram terremotos, tsunamis e vulcões, desastres relacionados ao clima, além de problemas como surtos epidêmicos. Uma das questões enfrentada atualmente e que será enfrentada no futuro é que a crise climática exacerba os riscos de desastres.

Ainda segundo o documento, o número de catástrofes pode aumentar para 560 a cada ano, ou seja, 1,5 ao dia, até 2030, pondo em risco as vidas de milhões de pessoas.

E o custo das catástrofes da última década foi elevado: em média, cerca de US$ 170 bilhões ao ano.

"O mundo deve fazer mais para integrar o risco de catástrofe na nossa forma de viver, construir e investir", ressaltou a vice-secretária-geral da ONU, Amina Mohammed, na apresentação do relatório.

A encarregada chamou a comunidade internacional à responsabilidade e disse que é necessário tirar a humanidade da "espiral de autodestruição". "Devemos transformar nossa complacência coletiva em ação. Juntos, podemos reduzir o ritmo dos desastres que podem ser evitados", acrescentou.

O documento indica também que o alcance e a intensidade das catástrofes têm aumentado e que o número de pessoas mortas e afetadas pelas catástrofes foi maior nos últimos cinco anos do que nos cinco anteriores.

Há também uma questão de desigualdade relacionada ao tema. As catástrofes têm impacto desproporcional nos países em desenvolvimento, que perdem, em média, 1% de seu PIB ao ano por causa desses eventos trágicos, contra 0,1% a 0,3% nos países desenvolvidos. O custo mais alto se dá na região Ásia-Pacífico.

Desde 1980, apenas 40% das perdas relacionadas às catástrofes estavam asseguradas e as taxas de cobertura nos países em desenvolvimento são inferiores a 10% —às vezes beirando zero— , o que agrava as consequências a longo prazo destes desastres.

"As catástrofes podem ser evitadas, mas só se os países investirem o tempo e os recursos necessários para compreender e reduzir os riscos", afirmou Mami Mizutori, representante especial do secretário-geral para a redução dos riscos de catástrofe. "Ao ignorar de forma deliberada os riscos e ao não integrá-los no processo de tomada de decisões, o mundo está financiando sua própria destruição.

Brasil

Uma das citações ao Brasil no relatório ocorre quando se fala sobre cadeias de produção mundial de alimentos.

Segundo o documento, alguns países e regiões dependem de ordenações frágeis e no mundo há um elevado risco sistêmico na governança dos sistemas de produção e distribuição de comida. Com isso, secas —nas quais há sinais de aumento de frequência de mais de 30% de 2001 a 2030— em grandes países produtores ganham o potencial de impactar os preços em todo mundo, afetando especialmente nações mais pobres.

E o Brasil tem vivenciado, nos últimos anos, episódios de secas com reflexo direto nos preços dos produtos e no aumento do custo de vida e da inflação. E não só secas, mas também outros desastres climáticos que afetam a produção no campo.

Pensando em todos os países com produções alimentares importantes para o mundo, falhas acontecendo ao mesmo tempo poderiam levar a repercussões graves em todo o mundo.

"Secas, inundações e queimadas simultaneamente acontecendo em locais com importantes produções, como Argentina, Austrália, Brasil, Europa e Estados Unidos, podem levar a uma crise global de preços de alimentos e disparar outros riscos sistêmicos", diz o relatório. "Considerando as variações climáticas a nível mundial, há uma probabilidade elevada de falhas múltiplas nesses grandes produtores."

Ao mesmo tempo em que o país é citado em meio a essa preocupação, também há uma menção positiva, sobre proteção de florestas —apesar do expressivo aumento de desmatamento em anos recentes.

O relatório cita que o Brasil e a Indonésia são dois exemplos de como medidas de proteção a florestas podem reduzir o risco de doenças em humanos. Ao mesmo tempo, alerta que o desmatamento, crescimento urbano descontrolado e áreas agrícolas mal reguladas geram maiores probabilidades de surtos de doenças transmitidas por mosquitos e pandemias.

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