O pinguim-imperador, que vagueia pela tundra congelada e os mares gelados da Antártida, corre sério risco de extinção nos próximos 30 a 40 anos em consequência da mudança climática, alertou uma especialista do IAA (Instituto Antártico Argentino).
O imperador, o maior pinguim do mundo (chega a 1,22 metro) e uma das duas únicas espécies de pinguins endêmicas da Antártida, dá à luz durante o inverno antártico e precisa de gelo marinho sólido de abril a dezembro para aninhar os filhotes.
Se o mar congelar mais tarde ou derreter prematuramente, a família do imperador não poderá completar o ciclo reprodutivo.
"Se a água atingir os pinguins recém-nascidos, que não estão prontos para nadar e não têm plumagem à prova d'água, eles morrem de frio e se afogam", disse a bióloga Marcela Libertelli, que estudou 15 mil pinguins em duas colônias no IAA na Antártida.
Isso aconteceu na colônia de Halley Bay, no Mar de Weddell, a segunda maior colônia de pinguins-imperadores, onde durante três anos todos os filhotes morreram.
Todo mês de agosto, no meio do inverno no hemisfério sul, Libertelli e outros cientistas da Base Marambio da Argentina, na Antártida, viajam 65 km por dia de moto em temperaturas tão baixas quanto -40°C para chegar à colônia de pinguins-imperador mais próxima.
Chegando lá, eles contam, pesam e medem os filhotes, coletam coordenadas geográficas e amostras de sangue. Eles também realizam análises aéreas.
As descobertas dos cientistas apontam para um futuro sombrio para a espécie se a mudança climática não for mitigada.
"As projeções [climáticas] sugerem que as colônias localizadas entre as latitudes 60 e 70 graus [sul] desaparecerão nas próximas décadas, ou seja, nos próximos 30 a 40 anos", disse Libertelli à agência Reuters.
As características únicas do imperador incluem o ciclo reprodutivo mais longo entre os pinguins. Depois que um filhote nasce, um dos pais continua carregando-o entre as pernas para se aquecer até que desenvolva sua plumagem final.
"O desaparecimento de qualquer espécie é uma tragédia para o planeta", disse Libertelli. "Seja pequeno ou grande, planta ou animal, não importa. É uma perda para a biodiversidade."
O desaparecimento do pinguim-imperador pode ter um impacto drástico em toda a Antártida, um ambiente extremo onde as cadeias alimentares têm menos membros e menos ligações, disse Libertelli.
No início de abril, a Organização Meteorológica Mundial alertou para "temperaturas cada vez mais extremas, juntamente com chuvas incomuns e derretimento do gelo na Antártida" —uma tendência preocupante, disse Libertelli, já que as camadas de gelo da Antártida estão se esgotando desde pelo menos 1999.
O aumento do turismo e da pesca na Antártida também colocou em risco o futuro do imperador ao afetar o krill, uma das principais fontes de alimento para pinguins e outras espécies.
"Os barcos turísticos costumam ter vários efeitos negativos na Antártida, assim como a pesca", disse Libertelli. "É importante que haja maior controle e que pensemos no futuro."
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves
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