Descrição de chapéu The New York Times

A maior planta do mundo é uma grama marinha autoclonável na Austrália

Pesquisadores dizem que a planta vem se clonando por mais de 4.500 anos

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Kate Golembiewski
The New York Times

Em Shark Bay, na ponta mais ocidental da Austrália, pastos naturais de ervas marinhas cobrem o fundo do oceano, ondulando na corrente e sendo mordiscadas por dugongos, primos dos peixes-boi. Um novo estudo revelou algo inesperado sobre essas ervas marinhas: muitas delas são a mesma planta individual que vem se clonando há cerca de 4.500 anos.

A erva marinha –não deve ser confundida com alga marinha– é a erva daninha de Poseidon, ou Posidonia Australis. Jane Edgeloe, doutoranda na Universidade da Austrália Ocidental e autora do artigo, compara sua aparência à chamada cebolinha.

Edgeloe e seus colegas fizeram sua descoberta como parte de uma pesquisa genética de gramíneas Posidonia em diferentes áreas de Shark Bay, onde ela mergulhou nas águas rasas e tirou brotos de Posidonia de dez pastos naturais diferentes. Em terra, os pesquisadores analisaram e compararam o DNA das gramíneas.

Manchas escuras de grama marinha cobrem a Shark Bay, na Austrália
Manchas escuras de grama marinha cobrem a Shark Bay, na Austrália. Um novo estudo revelou algo inesperado sobre essas ervas marinhas: muitas delas são a mesma planta individual que vem se clonando há cerca de 4.500 anos - Angela Rossen/NYT

Eles publicaram seus resultados na quarta-feira (1) na revista Proceedings of the Royal Society B. Descobriu-se que o DNA de muitas dessas plantas aparentemente diferentes era praticamente idêntico. Elizabeth Sinclair, também da Universidade da Austrália Ocidental e autora do estudo, relembrou a emoção no laboratório quando percebeu: "É uma planta só".

Enquanto alguns dos pastos naturais do norte de Shark Bay se reproduzem sexualmente, o resto de suas Posidonias se clona criando novos brotos que se ramificam de seu sistema radicular. Mesmo pastos separados eram geneticamente idênticos, indicando que já foram conectados por raízes hoje cortadas. Com base na idade da baía e na rapidez com que as ervas marinhas crescem, os pesquisadores supõem que o clone de Shark Bay tenha cerca de 4.500 anos.

Além de ser um clone, a erva parece ser um híbrido de duas espécies e possui dois conjuntos completos de cromossomos, uma condição chamada poliploidia. Embora a poliploidia possa ser letal para embriões de animais, pode ser inofensiva ou até mesmo útil em plantas. No entanto, pode resultar em esterilidade. Grande parte da grama clonal não floresce, e só consegue se reproduzir clonando continuamente a si mesma.

Essa combinação de genes extras e clonagem pode ter sido a chave para a sobrevivência da gramínea durante um antigo período de mudança climática. A clonagem facilitou a reprodução porque a grama não teve que se preocupar em encontrar um parceiro. Os genes extras poderiam ter dado à erva marinha "a capacidade de lidar com uma ampla gama de condições, o que é ótimo na mudança climática", disse Sinclair.

A Posidonia de Shark Bay não apenas sobreviveu a essa antiga mudança climática, como se espalhou. E espalhou. E espalhou mais.

Hoje, é indiscutivelmente o maior organismo vivo do mundo. O Pando de Utah (EUA), uma colônia clonal de 40 mil choupos conectados por suas raízes, é a "maior planta individual" reinante, cobrindo uma área maior que 80 campos de futebol.

O Humongous Fungus (fungo enorme) é ainda maior, tecendo uma rede de gavinhas miceliais no subsolo e sob a casca das árvores em 9 km² da Floresta Nacional de Malheur, no Oregon (EUA). Em comparação, a erva marinha clonal em Shark Bay tem 199 km², aproximadamente o tamanho de Cincinnati.

Embora o clone de Shark Bay tenha atingido tamanho e idade enormes, permanece a questão de saber se ele seria capaz de resistir às mudanças climáticas modernas. Julia Harencár, doutoranda na Universidade da Califórnia em Santa Cruz, que não participou do estudo, elogiou o projeto por "tentar entender com mais detalhes por que a poliploidia tem sido vantajosa nesses grandes pontos de inflexão ambiental", o que pode oferecer lições para a crise climática.

As ervas marinhas são particularmente importantes de se proteger, disse Marlene Jahnke, bióloga na Universidade de Gotemburgo (Suécia), que também não participou do estudo. Ela acrescentou: "elas são comparáveis aos recifes de coral, na verdade, no sentido de que hospedam muitas outras espécies", além de purificar a água e armazenar carbono atmosférico.

Embora as apostas sejam altas para as ervas marinhas, Sinclair continua esperançoso de que a Posidonia de Shark Bay mantenha sua posição como a maior planta viva do mundo. Embora tenha sido prejudicada por uma onda de calor em 2010 e 2011, "vimos muito mais aumento nos brotos, muito mais densidade de folhas, então ela está se recuperando", disse a cientista. "Acho que esse poliploide provavelmente está num estado muito bom em termos de persistência."

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